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Débora

Passei as mãos na frente dos olhos, tentando secar as lágrimas que pararam ali. Eu não tava bem. Sentia sede, mas não conseguia pedir água, porque desde que eu acordei da cirurgia, eu simplesmente travei de medo.

Quando o Matheus chegou, o choque se tornou ainda maior. Ele sabia. Em nem um momento eu quis que ele soubesse o que tava acontecendo comigo. Mas ver o Matheus me deixava nervosa, nós ainda não tínhamos superado a fase do luto, e só de pensar nele eu sentia meu corpo esquentando de tensão.

Aurora: Débora - olhei assustada pra garota - Você tá bem? Quer que eu chame alguém?

Franzi o cenho.

Débora: O que você tá fazendo aqui? - meu tom nem foi grosseiro, eu estava realmente surpresa.

Aurora: Vim acompanhar o meu irmão - ela coçou a nuca, meio sem jeito - Você acordou a pouco?

Débora: É.. pouco antes do Matheus chegar.

Aurora: Eu vou me sentar aqui, tá? - perguntou, apontando pra cadeira de plástico ao lado da minha cama. Era até engraçado ver a princesinha do Barão naquele hospital - Você deu tipo uns tapas na cara do meu irmão.

Fiquei quieta. Não queria conversar, mas parecia que a Aurora não estava disposta a ir embora.

Débora: Ele mereceu.

Aurora: Deixa que eu bato nele, esse é o meu passatempo preferido - tentou descontrair, mas ninguém riu - Olha... você precisa conversar?

Débora: Não, Aurora. Vai ficar com o Matheus.

Aurora: O Matheus é bem grande, ele sabe se virar - olhei pra ela - Sabe, eu ouvi um pouco da conversa. Foi só querer, eu juro. Concordo com as coisas que tu disse, o meu pai sempre protegeu demais os meus irmãos... e eu também. Mas nem tudo na vida dele foi fácil, entende? Ele ralou muito pra chegar onde está hoje, e eu sei que tudo o que ele fez por nós é pra que a gente não precise passar por nada do que ele passou.

Ela falava na maior calma do mundo. Acho que eu nunca tinha ficado tanto tempo no mesmo lugar com ela.

Débora: Não é nem por isso. Não leva a mal. Eu não escolheria a vida que o Barão tem, pra mim. Foi uma escolha dele... mas eu acho muito sem noção vocês não escolherem pelas próprias vidas - falei com sinceridade.

Aurora: Quem não escolheu pela própria vida? O Lobo escolheu estar exatamente onde ele tá. O PT também.

Débora: O Matheus não. Ele não tem coragem pra entrar no crime, e eu agradecia muito por isso. Mas ele não tem coragem pra fazer nada além disso.

Aurora: Ele teve coragem pra largar tudo e vir atrás de ti. E falar com ele da forma como você falou, não vai fazer ele superar mais rápido - desviei o olhar - Eu conheço a tática, já usei. Quando eu era mais nova, eu cansei de ser a princesinha do papai, e decidi fugir de casa. Aquela fase da adolescência em que a gente odeia até a própria sombra. Eu comecei a tratar toda a minha família muito mal, porque na minha cabeça, quando eu fosse embora ele não sofreriam tanto, se eu fosse horrível com eles.

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