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Falcão

Fazia tipo umas duas horas que eu tinha entrado no quarto dela, e a única coisa que falei foi: "como você está?", ela me respondeu que estava bem, virou pro lado e foi dormir, ou pelo menos tentar... porque eu estava vendo bem a respiração acelerada dela. Não parecia nada relaxada.

Os meus olhos acompanhavam a máquina que apitava mostrando os batimentos, e as vezes entrava algum enfermeiro perguntando se estava tudo bem, e para trocar o medicamento no soro.

O médico entrou no quarto era umas nove horas da manhã.

- Bom dia - me levantei do sofá, pra cumprimentar ele. Ouvi o barulho da Débora virando de frente, pra ver o doutor - Como você está?

Débora: Bem. Eu sinto um pouco de enjoo as vezes e é difícil dormir com todos esses fios ligados em mim, mas eu tô bem.

- Deixa eu te examinar um pouco.

Continuei em pé, ao lado da cama dela, enquanto o médico fazia todo o procedimento de ver o coração, a cicatrização da cirurgia, os olhos, a garganta e a oxigenação. Vi a Débora olhando pra mim por meio segundo, não mais do que isso. Era como se eu não existisse ali.

Débora: O senhor sabe quando eu vou ganhar alta?

O médico respirou fundo, e me encarou, mas depois voltou a olhar para a Dé.

- Senta aqui, vamos conversar um pouco - o doutor ajudou ela a se ajeitar, de forma que ficasse mais confortável - Me relembra quantos anos você tem, Débora?

Falcão: Vinte e cinco - eles me encararam. Eu voltei a morder o meu dedo, pra ficar quieto - Desculpa.

Débora: Vinte e cinco - falou, dando de ombros.

- Primeiro, você é muito nova, muito forte, o seu corpo irá reagir bem aos tratamentos. Você não deve se apavorar com o que eu vou te falar agora. Já peguei muitos casos como o seu, minha querida - meu coração começou a acelerar muito, com o rumo que a conversa estava tomando. Achei que fosse ser só mais um médico vendo como ela estava - O laudo da sua biópsia saiu, e infelizmente, as notícias não são boas. O tumor que você tinha no seio, é maligno, isso significa que de fato é um câncer e temos a confirmação agora. O fato é, o tumor foi retirado, e a partir daí já é metade da luta vencida. Tem outros nódulos, mas todos os outros são muito pequenos e inofensivos, mas eu não posso correr o risco de que eles continuem se desenvolvendo dentro de ti, e mais do que isso, não posso correr o risco de que o tumor que retiramos, volte a se desenvolver ou então que tenha deixado resquícios. Você consegue entender o que estou querendo dizer?

A Débora estava travada. Eu também. Nós sabíamos que era uma possibilidade de além de ser um tumor, ser de fato um câncer, mas o doutor confirmando assustava demais.

Débora: Entendo - respondeu, fungando o ar.

- E agora vocês devem se perguntar o que faremos. Mas Débora, não quero fazer nada sem que você saiba do que se trata, e sem te dar a possibilidade de escolha - ele falava calmamente, com toda paciência do mundo. O problema era a confusão em nossa mente - Temos duas saídas: Podemos fazer dez sessões de radioterapia. O processo é menos agressivo, menos indolor, mas também é menos eficaz. As chances de fazer esse tratamento e sair curada são de noventa e cinco por cento. Ok?

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