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Aurora

Acordei sentindo os meus pulsos gritarem de dor. O aperto em minha pele era tão forte, que antes que eu abrisse meus olhos, deixei escapar um "ai" da minha boca.

Helena: Aurora - a voz distante me chamou.

Não era um sussurro, não era um tom comum. Era um grito desesperado. Mas estava tão longe...

Meus olhos não reclamaram da claridade. Mesmo porque não havia claridade naquele lugar. Não era sujo e não fedia, como em todos os sequestros que nós assistíamos na televisão.

Aquele lugar era literalmente um quarto.

Olhei em volta buscando a Helena, aparentemente eu era a única pessoa presente naquele cômodo. Ela não estava ali. E eu me vi chorando desesperada pra saber onde ela estava, onde eu estava, e pra entender o porque toda aquela merda estava acontecendo.

O quarto estava tão escuro, que eu nem tinha visto a sombra do Mauro no canto do quarto, terminando de cheirar uma carreira de pó que tinha colocado encima da penteadeira. Ele me olhou assim que terminou o trabalho e sorriu, se levantando e ligando a luz do quarto.

Fiquei mais imóvel do que jamais estive em toda a minha vida.

Por mais que o efeito do líquido que ele injetou no meu corpo não tivesse terminado completo, eu tinha travado de medo.

Percebi que ao meu lado, tinha uma bandeja com comidas como pão, frutas e sucos.

Japa: Tu acordou. Tá com fome?

Não respondi. Ele tinha acabado de cheirar bem na minha frente. Qualquer resposta errada eu poderia acabar com um tiro no meio da testa.

Engoli o choro.

O Mauro se aproximou de mim, sentando do meu lado na cama. Eu não movi um centímetro do meu corpo, mesmo que quisesse me encolher inteira.

Japa: Tem as paradas que eu sei que tu gosta - ele continuou falando, como se não tivesse me sequestrado, e quando percebeu que eu não ia responder, ele respirou fundo - Para de me olhar assim, hein. Se a gente vai ficar junto pra sempre, a gente tem que conversar.

Percebi que o tom de voz dele estava ficando mais alto e logo se tornaria agressivo. Então me forcei a responder.

Aurora: Eu não tenho fome agora - murmurei baixo - Acho que foi o remédio que vocês me deram.

Japa: Foi só um negocinho pra te ajuda a dormir melhor - falou, tocando no meu cabelo - Ainda é cedo, mas logo eu vou te soltar e a gente vai poder sair junto por aí.

Engoli seco, sentindo o desespero tomar conta de mim mais uma vez.

Aurora: A Helena...? A Helena vem com a gente?

Ele rolou os olhos.

Japa: Vem, mas ela é tão difícil. Não é como você que entende as coisas. Não dá pra deixar a Helena acordada, ela faz muito barulho.

Aurora: Mas você não machucou ela, né?

Ele negou com a cabeça.

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