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PT

Lobo: Isabela tá quase infartando lá em casa - falou com a voz baixa, enquanto ajeitava a bandoleira.

Olhei pra ele sem entender.

Depois de todo o caô no aniversário do Davi, nós não tínhamos conversado sobre tudo que foi dito e feito. Na verdade, não tinha conversado nem com ele, nem com o Matheus ou com o Davi.

Fazia horas que a Aurora tava desaparecida. Eu não conseguia pensar em nada. Não dava nem pra tentar falar alguma coisa com o meu irmão. Até porque, ele não era o meu irmão agora. Quem tinha assumido a posse do meu corpo e dos meus pensamentos era o Foguinho.

O dia já estava escurecendo. Eu ficava neurótico a cada barulho que o relógio fazia.

O plano estava muito bem montado, explicado e desenhado. Não era pra ter nenhum furo. Eu me sentia confiante pra caralho, papo de peito de aço, pronto pra encarar o que viesse pela minha frente.

Lobo: Aí, Patrick... eu viajei aquele dia, tá? Fiquei muito puto, e claro que a primeira coisa que passou na minha cabeça foi que tu tivesse manipulado, ou forçado a Aurora de alguma parada. Foi errado ter pensado nisso, porque eu te conheço e sei que tu não faria isso. Mas na adrenalina, meu irmão, eu nem parei pra lembrar do teu caráter. É foda ver que a minha irmã cresceu tanto assim.

Encarei ele, terminando de ajeitar o colete na frente do meu peito.

PT: Eu não vou falar nada até ter a Aurora aqui.

O Gabriel assentiu.

Lobo: Só não quero que tu entre naquele morro sem saber que nós é irmão, antes de qualquer coisa. Tu é meu parceiro, e eu sou homem pra reconhecer que não usei as palavras certas no momento da raiva, e que não consegui controlar a minha impulsividade.

PT: Depois, pô. Agora não.

Olhei pro relógio mais uma vez, e vi que já marcava nove horas da noite. Meu olhar buscou o do Donato na hora.

Donato: Tô pronto.

PT: E os outros que vão entrar contigo? - perguntei.

Donato: Ta tudo no esquema.

Hoje era dia de baile na Rocinha, e eu tava sabendo que o tal do Portuga tinha armado toda aquela cena porque ia apresentar o filho pra comunidade. Gente fofoqueira tinha de monte e isso me estressava, mas até que não reclamei nada quando vi um perfil na rede social postando essa ideia do arrombado.

O plano era que alguns menor iam entrar no morro, fingindo que iam só pra curtir o baile. Por conta do tamanho da festa, não tinha como terem controle de quem estava entrando e saindo do morro. Esse lado da operação, quem tava comandando era o Donato. Ele, e mais um moleques, iam tentar a todo custo descobrir alguma informação que pudesse nos ajudar. Tipo... onde as meninas poderiam estar.

Mas se não conseguissem, eles deveriam nos avisar no momento em que o Portuga e o Mauro estivessem no baile, porque seria a hora ideal de eu entrar, junto com a minha família e com toda a tropa que tava pronta pra invadir por todas as entradas do morro.

Barão: Tá na hora de vocês irem - ele falou, pro Donato - Fé e marcha. Boa missão!

*****

Aurora

O cheiro do perfume do Mauro foi a primeira coisa que eu senti, antes de tentar abrir os olhos. Minha cabeça doía, meus pulsos ainda doíam, mas eu não estava algemada.

Forcei meus olhos a abrirem, percebi quando tentei me mexer, que tinha uma espécie de soro em minhas veias.

Eu me debati na cama, arrancando a agulha do meu braço. Não fazia ideia quanto tempo eu tinha ficado desacordada, e nem como aquela agulha foi parar no meu braço.

Olhei em volta, procurando pelo Mauro, mas ele não estava ali.

Me sentia fraca, com a garganta extremamente seca e machucada, mas podia ser minha única chance de tentar fugir. 

Pulei pra fora da cama o mais rápido que consegui, mas estava tão fraca que praticamente me arrastei até a janela, que levava a uma sacada. Empurrei o vidro para o lado, mas estava trancado. Olhei ao redor do quarto, procurando por alguma chave.

Havia uma mesa branca no canto do quarto. Forcei o meu corpo a se arrastar na direção, quase caindo no meio do caminho, e tateei minhas mãos, em busca de algo que pudesse me ajudar a abrir aquela porta, mas não consegui encontrar nada que pudesse me ajudar.

Fui até o banheiro, e peguei a toalha branca que havia ali. Voltei pra perto da janela, o mais rápido que consegui e enrolei o pano na minha mão, dando um soco no vidro. De nada adiantou, além de fazer barulho, então precisei bater mais uma vez, para que o vidro começasse a dar sinais de rachadura.

Gemi de dor nos pulsos, que se intensificaram ainda mais por conta dos socos.

Japa: O que tu tá fazendo?

Travei quando ouvi a porta sendo aberta. Nem mesmo consegui virar para encarar ele.

O Mauro andou rapidamente na minha direção, e puxou o meu cabelo com força, simplesmente me jogando no chão. Tentei me arrastar pra longe, mas não tinha saída. A porta estava entreaberta, ele não tinha fechado.

Agi no impulso, e simplesmente me levantei do chão, usando todo o restante de energia que sobrava em mim, pra correr corredor à fora, pra longe daquele quarto.

Aurora: Helena - gritei, torcendo pra que ela me ouvisse em algum lugar daquela casa.

Japa: Para, Aurora! - ele gritou, correndo atrás de mim.

No fim do corredor, havia uma escada e a porta de saída ficava logo após. Era simplesmente a minha oportunidade de fugir, e estava tão perto. Mas eu não tinha não mais forças, mesmo em um surto de adrenalina, minha vista estava escura e aos poucos eu sentia os meus passos diminuindo a intensidade.

Foi quando senti as mãos do Mauro no meu braço.

O choro veio de uma vez só, quando ele segurou o meu corpo, me virando de frente pra ele.

Aurora: Me solta, pelo amor de Deus! - sussurrei.

Ele cuspia fogo, seus olhos estavam em chamas, e não demorou nada pra eu ganhar um tapa em meu rosto, tão forte que me fez perder o equilíbrio. O Mauro não tentou me segurar, na verdade, ele ainda fez um esforço pra me empurrar escada a baixo.

Eu nem consegui proferir nenhum som, parecia que todos os meus ossos estavam quebrados. Novamente comecei a perder os sentidos, enquanto via ele descendo as escadas na minha direção.

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