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Aurora

Nem dez minutos depois que entrei na sala, recebi a mensagem da Helena me pedindo pra ir até a loja do tio João.

Nem entendi nada. Mas coloquei em prática todas as minhas habilidades como atriz e fingi que estava me sentindo mal, até a professora me liberar pra ir para a secretaria. No caminho, eu mandei mensagem pra Helena perguntando se estava tudo bem, porque a sensação que eu tinha era de que havia algo errado.

Mas ela não me respondeu, e isso me deixou mais preocupada ainda.

Não pensei duas vezes antes de seguir pra lá, porque eu me atiraria na frente de um carro pela Helena, e se ela disse que estava precisando de mim, era pois realmente precisava.

Na minha cabeça, e algo que eu aprendi com toda a superproteção da minha família, é que valia muito mais pecar pelo excesso de cuidado, do que pela falta dele. Pensando nisso eu mandei uma mensagem pro meu namorado, com o print da minha conversa com a minha melhor amiga e também com um áudio.

Aurora: A tua aversão por celular me irrita. Vê essa mensagem logo - eu resmunguei, mas continuei com o botão do áudio selecionado - Eu não tô com uma sensação boa, mas não quero assustar, pode ser que não seja nada. A Helena não me responde, e não vou ficar de braços cruzados esperando pra ver.

Enviei o áudio quando passei pela entrada da escola e fui direto para o estabelecimento. Não tinha nada de estranho na rua, os carros passavam pra lá e pra cá, assim como as pessoas. Mas o movimento era perfeitamente normal aquela hora do dia.

O que me fez estranhar foi a porta da lojinha estar fechada. Um nó se formou na minha garganta na hora. Apertei meu celular com força nas mãos.

Aurora: Helena? - chamei - Você tá aí?

A porta foi aberta milimetricamente. A única coisa que passava naquela fresta era uma formiguinha.

Então eu tive certeza de que havia algo muito errado.

- Entra.

A voz conhecida me causou arrepios, e não era do jeito em que eu estava acostumada quando nós estávamos juntos.

Ele fungou o ar e eu empurrei a porta pra me dar mais passagem pra entrar.

Japa: Joga o celular e a mochila no chão! - ele falou, assim que eu coloquei o primeiro pé pra dentro do lugar.

Antes mesmo que eu entrasse por completo, fiz o que foi mandado, jogando a mochila e o meu celular no chão. Pude ter uma visão melhor do local assim que fui empurrada pra dentro, e a porta atrás de mim se fechasse bruscamente.

Tremi dentro do meu próprio corpo com o barulho.

A Helena me olhava com tanta raiva, que eu quase fui incapaz de recolher a minha melhor amiga no olhar feroz da leoa que ela parecia ter se tornado. Estava no chão, com as mãos amarradas, os pés da mesma forma, e a boca dela tinha uma fita. Ela me dizia através de seus olhos que queria matar com os dentes o que um dia chamamos de "melhor amigo".

Ao lado dela, o corpo sem vida do seu João me fez entrar em choque.

Japa: Shhh... - eu tremi mais ainda, quando senti os dedos dele subindo lentamente pelo meu braço - Só respira fundo. Não grita!

Aurora: O que você tá fazendo? - eu perguntei, me virando de frente pra ele - Você matou ele!

Ouvi um barulho alto e mais uma vez eu tremi, mas notei que tinha sido um cara batendo com um ferro no meu celular, e espatifando o aparelho em vários pedaços no chão.

O homem usava balaclava e roupas escuras, e com ele haviam outros cinco homens. O Mauro segurou o meu rosto delicadamente, me fazendo olhar pra ele. A balaclava que provavelmente deveria estar em seu rosto, estava em sua cabeça. Seus olhos estavam tão vermelhos e as olheiras tão fundas, que eu não soube dizer se era por motivo de droga ou de dias sem dormir.

Talvez os dois.

Japa: Eu não te machucaria. Tu sabe que eu nunca te machucaria - falou.

Respirei fundo e por mais que o meu corpo todo tremesse de medo, eu assenti e tentei sorrir.

Aurora: Eu sei - engoli o nó que se fez em minha garganta - Eu sei que você não faria nada. Por isso você vai me deixar ir, né? Eu e a Helena. Nós somos amigos.

O Mauro franziu o cenho rapidamente. Por segundos eu vi ele se iludindo com a minha primeira frase, e depois o choque de saber que eu não queria estar ali, e que não confiava nele, transformou a sua expressão.

Eu podia jurar que ele havia fugido de um manicômio.

Japa: Se tu sabe que eu não te machucaria, por que quer ir embora? - perguntou, parecendo de fato estar magoado.

Aurora: Porque eu tenho a minha famí...

Se antes eu achava que ele tinha fugido de um manicômio, tive a certeza quando sua mão cobriu a minha boca, com força, me impossibilitando de terminar a frase.

Japa: A tua família sou eu - ele encostou a testa na minha, sem tirar a mão da minha boca. Eu ouvia a movimentação dos homens atrás de mim, mas não conseguia saber o que de fato estava acontecendo - Helena, eu e tu somos uma família. Sempre foi assim e é assim que vai ser pra sempre. Tive que sair de perto pra entender tudo o que tava acontecendo, e nesse tempo tu nem me esperou, Aurora... eu fiquei triste... eu fiquei muito chateado. Não achei que nós dois fosse algo tão substituível assim. Mas tá tudo bem agora, porque nós vamos ficar juntos. Eu e você.  E ninguém vai poder te tirar de mim. Os teus irmãos podem vir atrás, a gente vai matar um por um. Fica quietinha, calma! Eu prometo que eu não vou matar os teus pais, mas eu trabalho pra gente que quer conhecer eles a algum tempinho, não posso dizer que sei o que eles vão decidir. E aquele bastardo filho da puta... eu vou dar um jeito nele também. Eu prometo que nada vai separar nós dois de novo, minha princesa.

O meu corpo tremia tanto que quase convulsionava. As minhas pernas estavam absurdamente fracas e o meu rosto estava completamente molhado pelas lágrimas que escorriam.

Eu não conseguia me debater com as mãos dele me segurando. Eu não conseguia gritar com sua mão em minha boca.

Meu coração parecia que ia explodir de tão rápido que batia.

Senti uma ardência no meu braço, mas não consegui virar pra ver o que era, porque o Mauro me segurou com mais força, enquanto eu perdia todos os meus sentidos lentamente.

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