Coragem

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Carina POV

- Claro que podemos fazer isso.  - Maya demonstrou interesse e aceitou mudar o foco da conversa. - Vamos falar sobre o nome do nosso filho.

- Obrigada. - peguei um tempo para organizar minhas palavras, pois o que eu iria falar sempre mexia muito comigo. - Não sei se você já se lembrou, mas eu perdi meu irmão mais novo.

- Ainda não me lembrei, mas lembro que você comentou comigo que veio para Seattle ficar mais perto dele. - disse se ajeitando no seu lugar e começando a prestar muita atenção no que eu tinha para dizer.

- Exatamente, - abaixei minha cabeça encarando minha xícara de capuccino mas prossegui -  e ele foi assassinado quando perseguia uma traficante de meninas. - a pausa foi absolutamente necessária.

Assim que disse isso comecei a reviver todos os momentos que antecederam a morte de Andrea e, também, meu luto após essa tragédia. Minha respiração ficou pesada na hora e revirei meus olhos para o teto, encostando minha língua no fundo dos meus dentes com a boca semiaberta, algo que fazia muito quando precisava me concentrar, e agora tudo isso era direcionado para eu tentar não começar a chorar, porque eu sabia que toda vez que tocava nesse assunto em me emocionava imensamente.

Com todas as técnicas que usei não tive sucesso, meus olhos, mesmo com todo o esforço, começaram a marejar e as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Meus lábios tremiam e vi que minha tentativa de não desabar tinha falhado, então simplesmente baixei meu rosto e coloquei minhas mão sobre ele e chorei copiosamente. Na mesa da cafeteria, enquanto pessoas passavam.

No mesmo instante Maya se levantou do seu lugar e veio se sentar do meu lado, senti o calor do seu corpo quando ela se encostou na minha lateral e me abraçou com carinho. Começou a acariciar meus cabelos e a beijar o topo da minha cabeça, me senti protegida em seus braços. Ela apenas me dizia: "tudo bem, pode chorar, eu estou aqui, sei que é muito difícil, pode chorar o quanto quiser, não liga pra mais nada, só deixe isso sair." Eu me senti em um lugar seguro.

Foi impossível não lembrar de todo o cuidado que ela teve comigo em minha fase de luto. As vezes esquecemos de todos os detalhes, mas agora eles estavam claros para mim. Estavam bem na minha frente e eu podia sentir novamente. Lembrei que ela largou tudo... trabalho e compromissos, para apenas ficar ao meu lado. Em nenhum momento ela forçou nada, apenas permaneceu ao meu lado para caso eu precisasse dela. Maya me deixou viver meu luto mas não saiu de perto de mim. Ela foi absolutamente perfeita.

Com tanta burocracia que enfrentamos após a morte de um parente próximo, ela percebeu que eu não conseguiria resolver todas as pendências e tomou a dianteira da situação, resolvendo praticamente todos os problemas advindos do luto. Marcou o enterro, comprou o caixão, comunicou algumas pessoas, conversou com o inquilino do apartamento do Andrea, alugou um depósito para suas coisas e agendou a mudança. 

Talvez ela não saiba, mas tudo o que fez teve um significado inimaginável na minha vida. Sempre fui sozinha, quase nunca pude contar com meu pai por conta da sua bipolaridade, e desde cedo aprendi que não podia contar com ninguém para resolver meus problemas, pois simplesmente ninguém aparecia. Então desde muito nova fui sozinha e resolvi tudo sem ajuda de muita gente. Mas ela estava ali na hora, estava presente, e se fez presente,  sem ao menos eu pedir ela tinha resolvido tudo aquilo. Sem promessas, sem anúncios... ela apenas foi lá e fez. 

Lembro que eu agradeci e comentei que nunca ninguém tinha feito tal coisa por mim, mas não lembro se deixei claro o significado daquilo tudo. Maya era assim, quando queria era fácil a melhor pessoa do mundo. Muitas vezes foi a melhor pessoa do mundo na minha vida. Era fácil se apaixonar por ela, mesmo com todas as turbulências, quando eu precisava ela estava ali para resolver e me amparar.

Maya e Carina - Depois do acidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora