Capítulo 10

631 76 5
                                    

— O que você tá fazendo aí? — Falo em um tom descontraindo, me aproximo dela na cama e me deitando ao seu lado.

— Apenas vendo alguns vídeos aleatórios do Instagram. — Ela me olha e logo volta seu olhar pra tela do celular.

Me ajeito na cama pra que ela possa repousar sua cabeça sobre meu peito. Ela se aproxima e deita sobre mim. Minha mão livre desliza pelas suas costas fazendo um pequeno carinho.

Já se passaram algumas semanas desde que voltamos da fazenda e por incrível que pareça, apesar de alguns momentos estranhos, estamos nos dando bem. Parece que pegamos no embalo, que nos lembramos de quem costumávamos ser e estamos seguindo bem novamente.

Ouço sua risada tomar conta do quarto e fecho os olhos pra aproveitar o momento. Isso dura alguns segundos.. segundos necessários pra renovar todas as minhas energia.

Eu poderia perguntar o motivo de sua risada, mas me contento em apenas contemplar esse lindo som que sai de seus lábios. Automaticamente sinto um sorriso nascer em meus lábios e todo meu ser, ser tomado por uma sensação de paz.

Novamente o silêncio se faz presente, mas não é desconfortável, não é pesado e nem nada. É leve, suave, agradável. O nada com ela também é incrível.

Fico viajando em meus pensamento e no pequeno momento que estamos vivendo antes de dormir. Tudo parece um sonho.. os dias ao lado dela sempre parecem um sonho, ela trás leveza, tranquilidade e paz.

Maiara, sempre foi a luz da minha vida. Apesar de ser o total tumulto também.

— Awn! amor, olha isso! — Ela levanta o celular um pouco acima de sua cabeça e me mostra o que havia achado tão fofo. Eu olho e vejo que a deixou daquele jeito. — Poderia ser nós.

Engulo a seco quando meus olhos encontram a tela de seu celular. Uma família linda com seu pequeno bebê sorrindo em seus braços.

Vejo tudo a minha volta se desfazer como aqueles efeitos de coisas se desfazendo com o vento. A calmaria que antes habitava no mesmo ambiente deu espaço pra uma tensão e um clima pesado.

Mexo alguma vezes na cama e não consigo abrir a boca pra falar uma palavra se quer.

— Amor.. — Ela diz se virando pra me olhar. — Por que dessa cara?

— Não quero falar sobre isso!

— Ah não! Não começa, por favor. Nós estamos bem. Não foi por mal que mostrei o vídeo...

— Não é apenas o vídeo é também a sua fala. — Me levanto e olho em teus olhos. — Você não parece ter entendi que não há possibilidade de fazermos isso mais.

— Difícil Marília.

— O que é difícil? Me diz o que é difícil.. — Eu a encarro. — É difícil entender que apenas eu e você basta?

— Esse nunca foi o nosso sonho, Marília.

— Agora é o que temos.

— Você tá dizendo o que eu acho que está dizendo? — Ela me olha com atenção, seus olhos parecem enxergar a minha alma. — Se for, me diz com todas as letras pra eu ter certeza.

— Estou....

— FALA MARÍLIA! — Sua voz sai firma, mas da pra sentir em cada palavra o choro entalado na garganta.

— Eu não quero Mai.. não quero ter filho!

— MARÍLIA SAI! - Ela grita se levantando da cama e apontando pra porta do nosso quarto.

— Você é cabeça dura. É tão difícil assim me entender? Entender que não é por mal?

— Você só tá pensando em você, não tá levando em consideração alguma o que eu realmente quero.

— Eu não quero te ver sofrer e você não quer abrir mão de ficar grávida. Eu não farei isso, eu não vou te colocar nessa situação de novo. — Eu me levanto da cama e paro em sua frente. — Quer me ver como uma pessoa horrível ou seja lá como você vai me ver a partir de agora. Mas saiba que eu não estou pensando em mim, estou pensando em você.

— Pensando em mim? — Ela da uma risada sarcástica. — Eu sou grande Marília, eu consigo me cuidar e tomar as decisões por mim.

— Eu sei, mas isso não é só sobre você, Mai. É sobre nós.

— Marília, eu não vou perder meu tempo discutindo mais uma vez. Me deixa sozinha, deixa eu colocar a cabeça no lugar. — Ela caminha até a porta e a abre e me olha. — Saiba que com você ou sozinha eu terei meu filho. Você querendo ou não!

Eu apenas a olho, passo pela porta e logo em seguida sinto a mesma ser batida atrás de mim. Desço as escadas pensando no que ela havia dito e por mais que eu no fundo queira muito ser mãe eu não estou disposta a passar por todo o processo de novo.

São longas noites fazendo planos e sonhando com a nossa família, vivendo a espera de um resultado que nunca chega.

Maiara sempre coloca expectativas demais o que deixa as coisas ainda piores quando não sai como o planejado.

Não é tão simples continuar e fazer tudo de novo. Todas as vezes que tentamos e não deu certo só nós fizeram mal, só nós fez se afastar ainda mais uma da outra a cada negativo.

Já estamos desmoronando e a beira de uma abismo, um negativo agora seria o iceberg que afundaria o nosso barco.

Eu tenho total convicção que todas as minhas decisões podem nos levar a algo que não queremos, mas decidir continuar com o processo nos levará a algo que já sabemos como será o fim. Eu sinceramente não quero arriscar, não quero sentir o vazio que senti da última vez.

Se em todos os meses eu não me permitir me perder a cada negativo, nesse último eu me perdi.

Perdi quem eu sou, perdi a esperança e o desejo incontrolável de ser mãe, perdi a vontade e uma porcentagem grande de quem sou e pelo que vejo estou perdendo a outra metade que me compõe.

Me ajeito no sofá perdida em todos os meus pensamentos, pensando em todos os pro e contra de todas as escolhas que venho tomando  e tudo parece tão incerto. Me perco em cada pensamento que remou em minha cabeça até que o sono toma conta de mim e eu adormeci aqui mesmo.

Depois da tempestade. - MaililaOnde histórias criam vida. Descubra agora