Depois da tempestade. - Mailila

Capítulo 22

— Por que chegou tão brava ontem? — Minha mãe diz sentando ao meu lado no sofá.

Por sorte passei a manhã e grande parte da tarde sozinha. Consegui de alguma forma ficar na minha e chateada. Eu ainda estou processando tudo.

Quando cheguei em casa na noite passada eu mal consegui dormir, a Maiara falando que teríamos um filho não saia da minha cabeça. Não existia som alto suficiente que me fizesse deixar de pensar.

— O motivo de sempre...

— Maiara? — Ela me olha e eu apenas concordo com a cabeça. — Pela sua cara já está nítido que brigaram.

— E não foi por nada. Em minha defesa ela estava escondendo algo que era extremamente importante pra mim. — Me ajeito no sofá tentando de alguma forma não transparecer o quão brava eu estou.

— E o que era de tão importante assim que te incomodou até mesmo depois do término de vocês?

— Você vai ser vovó! — A olho esperando uma reação e ela parece simplesmente paralisar.

Ela piscas algumas vezes o que parece fazer pra tentar assimilar o que eu acabei de falar, ela passa o dedos pelos seus olhos o pressionado levemente e desliza a mão pelos seus cabelos.

— Sério? — Sua voz sai embargada. — Não é brincadeira, filha? É sério mesmo?

Sinto toda a emoção em cada palavra que ela pronuncia, dou um leve sorriso e a olho.

— Sério! Não iria brincar com isso.

— AÍ MEU DEUS, EU PRECISO LIGAR PRA MAIARA! - Ela diz toda animada pegando o celular.

— Mãe!

— Desculpa! — Ela diz colocando seu celular em cima do sofá. — Desculpa filha, é que depois que você disse que eu serei avó eu esqueci tudo que você havia me falado antes. — Ela da risada e eu acabo a acompanhando rindo de toda a sua euforia. — Me diz, por que ficou tão brava com ela assim?

— Mãe, ela demorou meses pra me contar. Eu passei meses achando que ela estava grávida do Mioto, pra no fim ela dizer que o filho é nosso. Sério, não tem condições nenhuma, ela não tinha direito algum de me privar de fazer parte desse momento. O filho também é meu, eu tenho todo direito!

— Você tem razão em dizer que você tem tanto direito quanto ela. Mas, você não pode se esquecer que foi você que deu um basta nessa questão de filhos, foi você que se afastou quando ela mais precisava de você. Se coloque no lugar dela e pensa como ela se sentiu e o quão difícil também foi pra ela passar todos esses meses sem você ao lado dela pra partilhar esses momento. — Ela estende a mão e segura na minha e olha em meus olhos. — Eu não te criei pra ser injusta, nem se fazer de cega diante das situações da vida e muito menos pra olhar apenas pro seu umbigo. Eu entendo toda a sua chateação e toda a sua raiva. Você tem total direito de sentir tudo que está sentindo, mas não tem direito algum de anular o que a Maiara sentiu e muito menos o que ela decidiu fazer.

— Eu não queria perder essa fase... — A interrompo.

— Mas você a colocou nessa situação. Você conhece ela o suficiente, você acha mesmo que ela iria preferir dividir isso com outra pessoa que não fosse você? É óbvio não é? Óbvio que ela não iria querer isso. E eu não estou falando só da relação que vocês poderiam ter, mas vocês são mulheres fortes e maduras o suficiente pra lidar com isso independente do status do relacionamento de vocês.

— Se fizesse questão ela não estaria desfilando pra cima e pra baixo com o Mioto.

— Para Marília! Você não é assim, seu ciúmes está te deixando cega. Não coloca esse peso sobre ela... na verdade não deveria nem colocar  sobre você. Para de ser cabeça duro e começa a enxerga as coisas como elas realmente são. Você pode ser orgulhosa o quanto for, mas tem que pesar a mão e pensar com a razão. Maiara está gravida, pelas minhas contas não demorará tanto tempo assim pra ele nascer. Se vocês já não conseguem se relacionar, sejam as mulheres que vocês tanto falando por aí e arcam com as consequências. Para de fazer esse jogo barato pra sempre ter razão. Não vivemos só de razão e você sabe disso. VOCÊS DUAS ESTÃO ERRADAS, mas você sabe que foi você quem agravou toda a situação. Eu posso está sendo dura agora, mas quando tiver seu filho você entenderá perfeitamente o que digo. Se você precisa de um tempo, tira esse tempo, mas saiba que não tem todo o tempo do mundo se ainda quer aproveitar os últimos meses do bebê de vocês na barriga dela. Coloca a cabeça no lugar, deixa de ser fria e orgulhosa e pensa um pouquinho com seu coração. Não é mais sobre você e ela, agora é sobre você, ela e um bebê.

Eu estou chateada demais, mas percebo que grande parte da chateação é por saber que outra pessoa viveu grande parte desses momentos ao lado dela. Eu não consigo descrever o sentimento, mas sei que minha mãe tem razão. A verdade é quando ela não tem razão? Talvez eu devesse pensar e ser um pouco menos orgulhosa. Nosso diálogo e convivência sempre funcionou, apesar do amor que sentíamos, nosso ponto forte sempre foi o diálogo e não sei porque isso se tornou difícil agora.

Sinto meu rosto molhado, mal havia me dado conta que as lágrimas que estava segurando desde a noite passada resolveram escorrer pelo meu rosto agora.

— Eu sei.. você tem razão! Eu me deixei levar por toda a raiva que estava sentindo. Eu sei que não tenho sido uma das melhores pessoas nos últimos meses.. — Enxugo algumas lágrimas e a olho. — Eu tenho noção disso, mas as vezes eu não quero dar o braço a torcer. Acho que essa foi a forma que encontrei de fingir que as coisas não me atinge e não dói como de fato está doendo.

— Boba. — Ela sorri. — Devia ter usado isso pra compor, sempre fez isso muito bem.

— E quem disse que eu não fiz? — Dou risada. — Mas eu prometo pensar e colocar a cabeça realmente no lugar.

— Eu sei que vai! Você sempre da um jeito. Eu só espero que você faça isso o mais rápido possível, pois o tempo do bebê não espera. — Ela me puxa pra um abraço e da um beijo em meus cabelos. — Você é cabeça dura as vezes mas não tenho dúvidas que será uma mãe incrível.. — Ela faz uma pausa, finaliza o abraço e me olha. — A Mai também, vocês formam um time e tanto.

Dou apenas um sorriso concordando com o que ela havia falado. Eu tenho total certeza que Maiara será uma mãe incrível e torço muito pra que no fundo eu também seja.