'Cause you and I, we were born to die.

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Ponto de vista Eileen Copeland.

Era tarde quando eu me levantei, me certificando de que Alex não iria acordar com a movimentação da cama e que principalmente não sentiria falta do calor do meu corpo naquele momento.

Eu não me arrumei, apenas troquei de roupa. Não havia motivos para aquilo. Apenas troquei de roupa e me certifiquei de que não estava me esquecendo de nada. Bom, o combinado era não levar nada, mas me sinto tentada a levar meu gravador e o taser portátil. Eu não tenho nenhuma garantia da parte dela, aliás. Assim como não tenho nada a perder.

Engoli em seco ao me encarar no espelho. É uma grande loucura, eu consigo sentir meu coração acelerado a ponto de me fazer pensar que terei um ataque a qualquer momento, meu sangue parece circular mais rápido e minha respiração parece cada vez mais limitada. Então, é essa a sensação de estar diante do desconhecido? De não saber o que há do outro lado? Sem dúvidas é desesperadora. Mas ao mesmo tempo eu estou tranquila. Tranquila até demais.

Voltei até o quarto, percebendo que Alex não havia movido um músculo sequer desde que eu saí da cama. Encarei o relógio digital no celular que deixei carregando sobre a mesinha de cabeceira. 23h45. Acho que é hora de ir.

Sentei-me calma e lentamente no espaço vazio onde eu estava deitada anteriormente, bem ao lado dele, acendendo o abajur. Não me preocupei tanto em acender, pois quando Alex dorme para valer ele vira uma pedra e nem um show de heavy metal do lado dele é capaz de o acordar.

É quase como uma terapia ver Alex dormindo. Seu rosto transparece tranquilidade, suas sobrancelhas estão relaxadas, o que significa que seu sono está bom; as pálpebras parecem pesadas demais e me dão a certeza de que ele não estava sonhando ou tendo pesadelos; a respiração era suave, o ar saía sem muita dificuldade pelas narinas e o peito subia e descia devagar; não posso deixar de ressaltar como suas bochechas parecem coradas assim como sua boca levemente entreaberta.

É uma bela visão para se ter antes de ir.

Afasto um pouco o meu cabelo para me aproximar dele, não deixando que alguns fios peguem no rosto dele e acabem o acordando. Inclinei mais um pouco e dei um beijo suave em sua testa, rápido demais para que ele não pudesse sentir tanto e consequentemente acorde.

— Eu te amo. — sussurrei, mesmo sabendo que ele estava em seu décimo terceiro sono e se ouviu isso ele vai pensar que foi apenas um sonho. Melhor assim.

Me afastei, me levantando da cama e desligando o abajur, fazendo um trajeto silencioso até a porta e a abrindo, olhando mais uma vez para ele. Senti um nó na garganta antes de dizer:

— Me perdoe por isso, Alex.

[...]

Uma estrada deserta em meio a uma chuva de novembro quando os zeros acabaram de se alinhar no relógio era tudo o que eu via à minha frente. Não falei com ninguém ao sair de casa, tampouco fiz questão de levar o celular. Tudo o que eu carregava sobre meus ombros era uma aceitação. De saber com o que eu iria lidar.

Conseguia avistar a primeira subseção da doca da empresa Starline, um falido estaleiro que era famoso há algumas décadas. Atualmente, tudo o que restava ali eram containers enferrujados e empilhados, transformando aquela doca em um cenário de filme de suspense ou afins.

Deixei o carro em um local relativamente afastado, ignorando a ideia de pegar um guarda-chuva ou uma capa. Até porque eu não tenho nenhum dos dois aqui, mas não que eu vá precisar. Eu já nem sei mais o que estou pensando conforme abraço meu próprio corpo, puxando as extremidades de meu suéter cinza de lã como se isso fosse me proteger do frio.

Our Worst Nightmare | Alex Turner (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora