Dorothy was right though.

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Ponto de vista — Alex Turner.

Dizem que medo é um estado emocional que surge em resposta à consciência perante uma situação de eventual perigo. Mas puta que pariu, eu nunca pensei que sentiria literalmente na pele qual a sensação de ansiedade misturada ao desespero. Absolutamente mais nada passava em minha mente. Nada.

Quando escutei o disparo, eu parei de me mover imediatamente, como se tivesse um botão de ''liga/desliga'' dentro de mim que foi apertado. Meus olhos atordoados estavam fixos nos olhos álgidos de Louise enquanto o corpo dela estava sob o meu. Meu corpo tremia, mas ainda assim fui capaz de me mexer o suficiente para conseguir abaixar o olhar e encarar minhas mãos cobertas de sangue, e uma delas ainda segurava a arma.

— Alex! — escutei Eileen exclamar próximo a mim, mas era como se ela estivesse distante. Muito distante. Olhei para ela, a vendo se abaixar ao meu lado, o horror estava estampado em sua face.

Encarei Louise mais uma vez, uma poça de sangue de cor tão vívida quanto carmim se formava sob seu corpo enquanto as duas mãos dela estavam sobre a barriga. Então, eu me dei conta do que aconteceu, um verdadeiro choque de realidade.

— Meu Deus... — murmurei, minhas mãos trêmulas largaram a arma, minha respiração ficou rarefeita como se eu estivesse em um lugar muito alto. — O que eu fiz?

— Você... atirou em mim. — Louise grunhiu constatando o óbvio. Meu choque era tanto que eu não conseguia fazer nada. Eu não quis fazer isso, eu não quis apertar o gatilho.

— Hayden, chama uma ambulância! — Eileen gritou para o irmão dela, e logo ele correu para o carro, provavelmente para pegar o celular e ligar para uma ambulância. Eileen tirou o suéter completamente molhado e colocou sobre o ferimento de Louise, pressionando forte.

Eu não conseguia entender. Não entendia como ela estava tendo a empatia de ajudar a mulher que segundos atrás não hesitaria em apertar o gatilho para tirar a vida dela. Mas eu não estava com a consciência totalmente sã para fazer perguntas. Na verdade, minha consciência pesava mais do que uma tonelada.

''Eu não quis fazer isso, eu juro que eu não quis fazer isso''.

Era o que eu repetia para mim mesmo mais vezes do que eu poderia contar, e quando me dei conta, eu estava cercado de ambulâncias e pessoas alheias. Minha visão turva captou o momento em que a ambulância chegou rapidamente, indo socorrer Louise enquanto havia tempo. As sirenes e conversas ofuscavam os trovões altos, envolvendo minha mente como uma canção de ninar.

Eu não conseguia dizer nada, não conseguia responder os paramédicos quando me questionaram se eu havia me ferido ou se precisava de atendimento. Minha mente estava vazia mas ao mesmo tempo tão cheia enquanto eu encarava minhas mãos com resquícios de sangue, assim como minha roupa.

— Alex... — escutei ela me chamar, mas eu não consegui olhar para ela, ficando em um estado de estática que eu jamais pensaria que sentiria algum dia. Senti a mão dela sobre meu ombro, também sentindo o corpo dela ficar ao meu lado, não se importando com o chão molhado e nem com a chuva caindo sobre nós. — Vai ficar tudo bem com ela. — ela disse, eu podia sentir em sua voz que nem ela conseguia acreditar nisso.

— E se não ficar? — murmurei, sentindo ela pegar minha mão e apertar, enquanto a outra segurou meu rosto para que eu olhasse para ela. Seus olhos, ainda que assustados, ainda conseguiam me trazer um pouco de paz em meio à tormenta.

— Vai ficar. — ela me assegurou, piscando algumas vezes enquanto sentia as gotas de chuva deslizarem por seu rosto como uma cascata. Engoli em seco, tentando me agarrar a essa pequena esperança. — Por que você veio? — ela perguntou depois de um curto período sendo abraçados pelo silêncio.

Our Worst Nightmare | Alex Turner (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora