Lua🌙
Nunca imaginei que voltar pra casa poderia ser desesperador.
O silêncio reinava naquela casa.
Fui no meu quarto e deixei as minhas coisas lá.
Andei pelo corredor e cheguei ao quarto dos meus pais.
Bati na porta e abri devagar.
Lua:Posso entrar? - Perguntei já entrando.
Celine:Pode sim amor - Ela estava sentada na cama observando os milhares de exames que a médica do meu pai olharia naquele dia.
Lua:Cadê o papai? - Me sentei na cama ao lado da minha mãe.
Celine:Tomando banho pra ir no hospital - Falou sem tirar a atenção dos papéis.
Escutei o meu pai vomitar lá dentro do banheiro.
Celine:Precisa de ajuda? - Perguntou alto.
Otto:Não meu amor, fica tranquila - Respondeu com a voz falha.
Lua:Mãe... - Falei sentindo as lágrimas invadirem os meus olhos.
Celine:Eu sei amor tá complicado - Suspirou se mantendo firme.
Lua:Tô com muito medo - Ela segurou a minha mão.
Celine:A gente tá tentando ok? - Me olhou e eu assenti.
Lua:Alguma novidade aí? - Perguntei apontando pros exames.
Celine:Não... - Me olhou - Mas é melhor deixar o profissional dizer - Minha mãe nunca mentiu pra mim, sempre me deixou saber a realidade toda do que estava acontecendo.
O meu pai saiu já vestido com agasalhos e se sentou do meu lado.
Otto:Já chegou? - Me abraçou de lado.
Lua:Sim, quero te levar pra quimio hoje - Ele me olhou.
Otto:Não precisa filha, é um saco.
Lua:Eu sei, mas deixa eu te levar hoje por favor - Pedi e ele riu.
Otto:Tá bom, eu sei que tu não consegue ficar longe do melhor pai do planeta terra - Nós rimos.
Minha mãe juntou os exames e entregou pra ele.
Nos despedimos da dela e fomos pro meu carro.
Entramos no mesmo e saímos de casa enquanto eu dirigia.
Parte do caminho foi em silêncio até eu quebra-lo.
Lua:Desculpa pai - Ele me olhou confuso.
Otto:Pelo quê?
Lua:Por ter me isolado de vocês essa última semana, eu precisava assimilar tudo - Ele assentiu.
Otto:Eu te entendo filha, tá sendo difícil pra todos nós - Mesmo que ele não deixasse transparecer, eu sabia que meu pai estava mal.
Lua:Pai - Ele murmurou um "hum" - Você quer mesmo desistir? - Parei no sinal vermelho e nos entreolhamos.
Otto:Eu sinceramente não sei, talvez... - Suspirei - Isso tá me matando devagar, cada dia que se passa pior eu fico - Eu assenti.
Lua:Pensa bem tá, eu sei que tá sendo doído - Segui caminho.
Ele ficou voando até chegar ao hospital.
Entramos no mesmo e fomos direto pra sala da medica que acompanhava o caso do meu pai.
Lua:Olá doutora - Falei entrando na sala.
Dra.Jade:Olá Lua - Falou com a voz calma dela
Otto:Boa noite - Apertou a mão dela.
Dra.Jade:Boa noite Otto - Sorriu educadamente - Sentem-se por favor - Apontou para as cadeiras - Como estão as coisas? - Perguntou assim que nos acomodamos.
Otto:Meio ruins - Entregou o envelope cheio de exames pra ela.
Dra.Jade:Tem sentido algum efeito colateral por conta da quimio ou dos remédios? - Perguntou abrindo o envelope e espalhando aquele monte de papel sobre a mesa.
Otto:Tenho sentido muita fraqueza, falta de ar e vômito, é quase todo dia - Explicou.
Dra.Jade:Isso não é um bom sinal - Analisou os exames e olhou pra ele como se precisasse dizer algo.
Otto:Seja sincera comigo doutora, é muito grave? - Segurei a mão dele em sinal de apoio.
Dra.Jade:Olha a situação é bem delicada. O seu tumor não está regredindo como deveria, a quimioterapia e os medicamentos não tem sido suficientes - Senti um nó se formar na minha garganta.
Otto:Não há nada que eu possa fazer? - Perguntou com desesperança.
Dra.Jade:Olhando bem esses exames vejo que existe duas saídas, pode fazer um tratamento paliativo que vai fazer o câncer avançar devagar ou fazer uma cirurgia de retirada do tumor - Ele nem se chocou enquanto eu já sentia vontade de chorar.
Otto:Se eu escolher o tratamento paliativo quanto tempo eu tenho?
Dra.Jade:Aproximadamente três meses - Não reagiu nem por um segundo.
Otto:E a cirurgia?
Dra.Jade:Se tudo correr como planejado, poderá viver normalmente por muitos anos, mas quero te deixar ciente que a cirurgia é de altíssimo risco - Ele olhou indeciso pra ela.
Lua:Pai, você precisa pensar direito - Susurrei e ele assentiu.
Otto:Posso pensar melhor? - Ela assentiu.
Dra.Jade:Claro, fique a vontade - Deu abertura a ele - Mas me dê a resposta ainda essa semana, não temos muito tempo - Ele assentiu.
Otto:Tudo bem...
Dra.Jade:Precisa continuar a quimioterapia pra evitar muito avanço ok? - Ele assentiu - Vamos lá? - Nos levantamos e fomos pra salinha de quimio.
Ela colocou o medicamento pra pingar na veia dele e nos deixou sozinhos para conversar, mas ele não disse nada a sessão inteira.
Eu estava preocupada demais, meu pai estava cada vez pior é eu não podia fazer nada pra ajudar.
Terminamos e fomos pra casa.
...
Chegando lá a acessória do meu pai estava toda em casa, ele foi conversar com eles.
Meu pai precisava dar um tempo da carreira de cantor, já que ele não tinha forças nem pra fica em pé.
Ele fez uma live anunciando o hiatus e explicando o motivo.
Foi uma choradeira só, a galera que estava em casa se acabou em lágrimas e eu fui a que fiquei pior.
Os milhoes de fãs estavam devastados, era o assunto mais comentado no mundo.
Uma galera veio pra frente casa cheios de cartazes e o meu pai falou com eles da varanda, nunca vi ele chorar tanto na minha vida toda.
Ao mesmo tempo que eu sentia orgulho do que ele já havia conquistado nesses anos de carreira dele eu também me sentia triste pelo fato dele ter que parar de fazer uma das coisas que ele mais amava na vida.