➢ CAPÍTULO 38

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Ele não me consertou com o corpo, mas com as palavras

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Ele não me consertou com o corpo, mas com as palavras.

Ficamos acordados a noite toda conversando sobre tudo e sobre nada em nossas vidas, o que me ajudou a respirar. Saber mais fatos sobre Jungkook fazia a minha vida parecer menos solitária.

— Quando você soube que queria trabalhar com carros? — perguntei.

Ele fez uma careta e deu de ombros.

— Não era o que eu queria. Eu queria fazer Belas Artes. Puxei mais o lado da minha mãe do que o do meu pai, mas, depois de tudo que aconteceu, achei que deveria ajudar na oficina.

— Você nunca quis ser mecânico?

— Nunca.

Fiquei triste por ele. Jungkook nem conseguiu encontrar tempo para correr atrás dos próprios sonhos depois de passar tanto tempo cuidando do pai.

— Você pode voltar a estudar.

Ele deu de ombros.

— Estou bem aqui.

— Mas você está feliz aqui?

— A felicidade nunca pareceu ser uma opção para uma pessoa como eu.

— Você merece muito ser feliz.

— Menos do que você. — Ele deu um sorriso. — Você merece toda a felicidade do mundo.

Nós vivíamos em um universo estranho, ele e eu. Um universo no qual não éramos exatamente livres para expressar como realmente nos sentíamos em relação ao outro, mas, na minha mente eu não parava de repetir:

Eu adoro você. Eu adoro você. Eu adoro você...

Ele passou os dedos pelo meu punho e puxou meu braço para me beijar ali.

— Machuquei você da última vez que a segurei pelo punho.

— Existem maneiras bem piores de se machucar. — Dei uma risada. Ele franziu um pouco a testa, olhando para a marca no meu punho. — Está tudo bem, Jungkook. Eu estou bem.

— Eu não quero machucar você.

— Ultimamente você é a única coisa que não me machuca. — Eu me aproximei e dei um beijo leve em sua boca.

Ele fechou os olhos por um segundo e quando os abriu de novo, senti um frio na espinha.

— Quando você tem que voltar para Atlanta para dar aula?

A gente nunca conversava sobre a minha partida. Nos últimos meses, a gente só caía um nos braços do outro e não trocava muitas palavras, a não ser por gemidos. Quando conversávamos, era sempre sobre o nosso passado, nunca sobre o futuro.

— Em umas três semanas — respondi.

Ele baixou o olhar, com expressão de decepção.

— Ah, está bem.

— O que foi? — perguntei.

— É só que... Vou sentir saudade. Só isso.

Senti o coração palpitar.

— Jeon Jungkook sente saudade das pessoas? — brinquei, tentando controlar o sentimento que tomava o meu peito.

— Não das pessoas... só de você.

Eu adoro você. Eu adoro você. Eu adoro você...

Eu o abracei e comecei a acariciar sua pele, enquanto ele me envolvia em seus braços. Pousei o olhar em sua boca. Aquela mesma boca que já tinha passeado por todo o meu corpo, mas o que me tocava mais eram as palavras que
saíam por entre aqueles lábios.

— Eu também vou sentir saudade — declarei suavemente. — Sem você, eu teria me afogado neste verão.

Ele me beijou, e alguma coisa mudou naquela noite. Os beijos dele foram diferentes, mais reais do que a história fictícia que vínhamos contando um para o outro todos os dias durante todas aquelas semanas. Ele não disse as palavras, nem eu, mas nossos beijos pareciam implorar por um pouco mais de tempo, alguns toques a mais e mais palpitações no peito.

Fiquei até mais tarde naquela noite enquanto nosso toque imitava algo que poderia ter sido confundido com amor.

Quando o sol nasceu, eu me vesti para voltar para casa.

— Eu vou levar você — disse ele.

Sorri e bocejei.

— Você sabe que eu não vou aceitar.

— Então, mande uma mensagem de texto para avisar que chegou.

— Posso fazer isso.

— Tudo bem. — Ele sorriu e se apoiou no batente da porta.

— Tudo bem — respondi.

— Lalisa Manoban?

— O quê?

Ele pigarreou e enfiou as mãos nos bolsos.

— O que você acha de a gente sair um dia desses? Tipo em um encontro de verdade?

Senti um frio na barriga.

— Eu não sabia que Jeon Jungkook convidava pessoas para encontros.

— Não pessoas... Só você.

Mais um pouco de frio na barriga.

— Na verdade, eu ia convidar você para ir a um lugar comigo.

— Onde? — perguntou ele.

— Todos os anos, desde que me entendo por gente, meus pais dão uma festa a rigor no salão de baile da prefeitura para arrecadação de fundos para a caridade. É um acontecimento aqui na cidade, e todo mundo se veste como se fosse a entrega do Oscar ou coisa assim. Tem um jantar e um baile e literalmente todo mundo da cidade vai estar lá.

— O Baile dos Manoban's. Já ouvi falar.

— Você vem comigo? — pedi. Ele fez uma careta e senti meu coração se partir. Enrubesci de vergonha. — Se não quiser, não precisa ir. Juro, eu só achei que...

— Eu quero ir — disse ele, tentando me tranquilizar. — Minha única preocupação é que as pessoas dificultem as coisas para você se aparecer lá comigo. Não quero estressar você ainda mais e causar mais problemas na sua vida. As pessoas vão comentar.

— Que comentem — respondi, colocando a mão no peito dele. — A gente simplesmente não vai ouvir.

Ele sorriu.

O tipo de sorriso que fazia meu coração saltar no peito.

Ele se inclinou e encostou a testa na minha. Seus lábios roçaram os meus, e eu sabia que estava acabada.

— Então... — sussurrou ele. — Temos um encontro?

— Sim. — Senti um frio na espinha. — Temos um encontro. Boa noite, Jeon Jungkook.

Ele me deu um beijo suave na boca, e senti com todas as fibras do meu ser quando suas mãos pegaram minha nuca. Ele massageou a pele com suavidade e falou com voz rouca:

— Bom dia, Lalisa.

SHAME - LiskookOnde histórias criam vida. Descubra agora