Capítulo 10

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Mel

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Mel

Medo. Quando eu era criança e tinha uma imaginação muito fértil, costumava ter medo da minha própria sombra. Era esquisito me sentir perseguida por ela o tempo todo e sempre que eu abria os meus olhos. As vezes o medo era tão grande que eu gritava e corria para os braços do meu pai. É triste pensar que eu vi isso nos olhos do Aiden ontem e por mais que eu quisesse que ele se abrisse comigo e me contasse o que estava acontecendo, ele se tornou um túmulo lacrando qualquer possibilidade de alcança-lo, mas eu sinto que ele quero que o alcance, que chegue perto e que o resgate do que quer que seja. A prova é tanta, que ele simplesmente deixou parte da sua armadura cair e me permitiu cuidar dessa pequena parte desprotegida. Eu não sabia o que fazer, então me lembrei da canção que mamãe cantava para mim todas as noites. Entoei Twinkle, Twinkle, Little Star sem emitir a sua letra de fato e funcionou. Aiden finalmente estava relaxado e livro que qualquer tormenta, mas ele não se abriu comigo, porém, adormeceu rapidamente. Tive receio de deixa-lo sozinho, que acordasse no meio da noite apavorado como eu fazia na minha infância. Portanto, saí do sofá devagarinho, fui até o meu quarto, peguei alguns cobertores e travesseiros e após cobri-lo cuidadosamente, fiz uma cama improvisada para mim do lado do sofá. Foi a noite mais mal dormida que já tive na vida. Eu precisava ter certeza de que ele estava bem e na manhã seguinte despertei mais cedo. Eu tinha um propósito: fazer o melhor café da manhã que ele já tivera na vida. A droga toda é que eu não sabia fazer nada além do básico, então tive que improvisar, mas não antes de perder pelo menos alguns minutos admirando-o. Os seus cabelos lindamente bagunçados, a barba por fazer adornando uma boca carnuda e rosada. Ela está entreaberta e revela um pouco dos dentes bem alinhados. Enquanto ressona franze a testa unindo um pouco as sobrancelhas grossas, mas é quando resmunga algo inteligível que me faz rir e me desperta para o que realmente tenho que fazer.

Sabe o que me deixou radiante? É que parece que os temores da noite passada nem existiu. Aiden voltou com seu jeito extrovertido e falante, arrancando algumas risadas minhas e o seu dia na faculdade foi tão normal quanto qualquer dia. Não tive tempo de falar com os meus amigos e sinto falta de falar e de curtir com eles, mas logo teremos tempo para isso. Na hora do almoço as capivaretes se aproximaram e pela primeira vez estava almoçando em uma mesa maior e com as pessoas que jamais imaginei me juntar. Brenice estava mais maleável e falava comigo como se fôssemos grandes amigas. Neguei mais um convite de passeios aleatórios, porém, sinto que não poderei fazer isso por muito tempo. Contudo, à noite chegou e eu me vi em um misto de ansiedade e avidez. Arrumei todos os materiais que vamos precisar para a aula dessa noite, comprei algumas caixas de suco de laranja e os poucos segundos que me restavam comecei a andar de um lado para o outro para me acalmar. Me acalmar? Como assim, Melissa? O que você pensa que vai rolar aqui? Não se percam com o Aiden, está claro como água que ele não tem interesse em você. Droga, é desanimador ouvir esses conselhos da sua própria consciência, ela consegue baixar a minha estima com um clique. Entretanto, ela não está errada. Aiden não se apega a ninguém. Foi assim com Brenice e nada impede que seja assim comigo também. E como eu sei disso? É fácil. Ele sempre mantém uma certa distância entre nós, como se fosse um sobreaviso: não se apegue, criança. Algo assim. Uma batida na porta me desperta e a minha respiração para bem no meio do caminho. Só... fique calma e não demostre sua ansiedade. Aiden não precisa saber o quão mexe com a sua estabilidade.

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