(Amanda)
19h:51min – Sábado
A pior parte de vir em um sábado para a terapia é que o consultório costuma ficar lotado.
Não sou muito boa no quesito interagir com pessoas que eu desconheço em locais que não fazem parte da minha zona de conforto, o máximo que consigo fazer é ser educada respondendo o simples boa noite e ponto.
A conversa acaba antes mesmo de começar.
Entendo que seja algo que eu preciso mudar com o tempo. Eu até que evolui bastante, levando em conta que acabo trabalhando com o público, né? Não tem como ser monossílaba a maior parte do tempo.
Só não posso disfarçar o meu suspiro aliviado ao ouvir o meu nome ser pronunciado pela recepcionista, me informando que a Dra. Simone está a minha espera.
Como todos os sábados, eu abro um pequeno sorriso de agradecimento e sigo para o grande lance de escadas.
Subo cada degrau numerando todas as coisas que preciso conversar com ela na sessão de hoje. E quando eu tenho muitas coisas pra dizer, normalmente não tenho tempo pra fazer a hipnose no final da sessão.
A Simone sempre deixa um tempo considerável para esse tratamento exatamente pelos riscos de eu vir a ter alguma crise durante o processo. Tudo o que ela não quer, é que eu saia daqui sem essa assistência e tenha uma crise sozinha em casa.
Acho muito fofo essa preocupação genuína dela. Esse cuidado.
Como de costume, eu entro na sala e fecho a porta e me encaminho para a poltrona habitual. Onde tem uma mesinha de canto com uns lencinhos e um relógio.
Me ajeito confortavelmente na mesma e reparo no olhar doce da Simone sobre mim.
Hoje ela está com os cabelos presos, mantem um sorriso acolhedor no rosto. Está com um conjuntinho social que lhe caiu perfeitamente bem.
— Embora esteja com uma carinha cansada, você parece mais relaxada, está tudo bem? Aconteceu algo esses dias que te trouxe uma pouco de tranquilidade? — ela está me avaliando minuciosamente.
— Estou bem sim. Nada tensa dessa vez, o que é um bom sinal, né? E um milagre também. — eu acabei rindo baixinho ao vê-la assentir e me olhar de maneira orgulhosa.
— Quer começar me contando o que te fez ficar assim ou quer começar me relatando como foi a sua semana?
Simone ajeitou os óculos, cruzou as pernas, apoiando as suas mãos com sua caneta e as anotações sobre o joelho.
— Bem, eu fui ao Villa Lobos como você sabe. Apesar de eu não ter me divertido como os meus amigos, jogando bola, por exemplo. Eu me soltei um pouquinho na batalha de dança que o Ricardo participou. — Simone agora parecia realmente surpresa, levando em conta que eu costumo ser mais discreta quando estou com pessoas desconhecidas por perto.
— Como foi isso pra você?
— No geral foi empolgante. Principalmente por ele ter sido um dos finalistas...
— Porém...? — ela arqueou uma das sobrancelhas.
É incrível o quanto ela me conhece perfeitamente.
Me mexi desconfortavelmente e comecei a passar a minha unha lentamente pelo braço da poltrona.
— Me senti fora da casinha, eu acho. — torci levemente o lábio. — Quando eu via a forma que outras mulheres agiam, eu tive a noção do quanto eu me diferencio delas. Do quanto eu não sou "normal". — fiz aspas com os dedos.
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Minha doce melodia
RomanceMesmo fazendo terapia há cinco anos, Amanda Siqueira ainda carrega inúmeros traumas dentro de si. Apesar de ter alguns receios, ela busca sempre ver o melhor da vida, por mais difícil que seja. Extremamente determinada no que diz respeito ao trabal...