Capítulo 23: Inventando tudo

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19h:41min - Sábado.

Cheguei em cima da hora para a minha terapia. Ainda bem que não precisei remarcar horário, porque eu não ia suportar passar mais uma semana sem desabafar com a Simone.

Ela me ajuda tanto, ainda mais quando a confusão na minha cabeça está difícil demais de compreender.

— Ok, mocinha, iremos por partes. — Simone se ajeitou na poltrona enquanto eu me encolhia no sofá. — Como foi a viagem?

Ela me encarou com atenção, principalmente as minhas mãos inquietas.

— Acho que eles acreditaram na minha encenação com o Rick, mas isso não impediu o Osmar de tentar me intimidar. Ele sempre ficou em cima da Tamy e de mim quanto a relacionamentos, garotos... — suspirei pesadamente.

— E você o enfrentou desta vez? — Simone anotou alguma coisa no seu bloquinho e entrelaçou as mãos sobre os joelhos.

— Em partes. — sussurrei. — Ele pareceu entender quando eu disse que a vida era minha, portanto, cabia somente a mim as decisões que tomava, sendo boas ou não.

Encostei melhor a minha cabeça no encosto e inclinei meu rosto pra cima, olhando fixamente para as três luzes no teto.

— Só uma coisa me incomodou. — acrescentei, mordendo fortemente o lábio inferior.

— Que seria?

— A Tamy. Ela continua a mesma, em todos os sentidos da palavra. Tive uma conversa franca com ela na festa enquanto o Rick conversava com o Osmar, tentei convencê-la a vir pra São Paulo, que teria um lugarzinho pra ela em casa, até mesmo na ComArt, que ela podia ter uma vida diferente da que ela tem. Que poderia recomeçar, ser outra Tamires. — falei, desanimada.

— Sua prima continua irredutível?

Baixei o meu olhar para Simone, vendo-a ajeitar a armação do óculos.

— Sim. — choraminguei. — Queria tanto que ela visse que pode se reerguer. Que ela merece mais do que a vida que leva, de todas as dores que carrega.

O cantinho dos lábios da Simone se erguerem em um sorrisinho e ela arqueou uma das sobrancelhas pra mim. Como quem diz: você está se ouvindo?

— Ei. Eu tenho me dado chances que não acreditava ser capaz. Aos poucos, mas é algo. — ergui meu dedo em riste e ela riu baixinho. — É sério, Simone, eu até beijei o Ricardo e dormi na mesma cama que ele, claro, depois de ter jogado ele pro chão por ter tido uma crise, mas mesmo assim, eu...

— Espera, rebobina. — Simone me interrompeu e eu comprimi o lábio. — Vocês se beijaram? — ela ficou extremamente animada e eu assenti timidamente. — Como foi isso?

— Por pressão da família. Eles queriam ver um beijo. Só que depois quando fomos pro quarto, eu acabei cedendo e dando outro, e foi bom, até o momento que deixou de ser. — falei a última parte em um fiapo de voz.

— Você viu ele? — ela me encarou seriamente e deslizou a caneta sobre o papel.

— No começo não. Só quando o Rick mordeu o meu lábio e passeou os dedos por uma das minhas cicatrizes da barriga. Não foi doloroso, nem nada do tipo, mas fez minha mente ser transportada pra outro lugar. Depois disso eu não conseguia discernir o que era real ou não. Eu não via o Ricardo comigo mais. Eu me senti péssima por ter empurrado ele da cama. — olhei-a culpada. — Ele foi tão perfeitinho que nem brigou comigo ou me afastou. Ao contrário, o Rick me aninhou nos braços e me acalmou. Permitiu que eu chorasse até adormecer.

— Como foi pra você a questão do toque? Foi fácil lidar? — ela descruzou as pernas e eu chupei o meu lábio inferior.

— No começo foi esquisito, mas não foi incomodo. Ele foi respeitador o tempo todo. Só tocava lugares que havíamos combinado que estaria bom pra mim. Ricardo só encostava em mim com a minha permissão. Acho que isso facilitou para eu depositar a minha confiança e segurança nele. — expliquei baixinho.

Minha doce melodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora