20h:42min – Sábado
O som alto que vinha do gramado de trás da chácara começou a ecoar nos meus ouvidos e um pânico foi começando a se instalar dentro de mim.
Esse é o último lugar que eu gostaria de estar. Por que me obriguei a vir só pra fazer média com a minha avó?
Passei as minhas mãos úmidas sobre a minha calça jeans preta e fechei os meus olhos.
Encarar o passado quando ele está tão enraizado no seu presente, não é uma sensação muito boa. Principalmente com as marcas que deixaram internamente e fisicamente em mim.
Mesmo sem me tocar, eu pude sentir o calor do corpo do Rick emanar contra o meu, fui abrindo lentamente os meus olhos e ergui a minha cabeça pra ele.
Ricardo estava como eu esperava. Sorrindo docemente pra mim, me incentivando em silêncio, dizendo que está tudo bem, que não estou sozinha.
— Estamos nessa juntos, tá legal? — ele sussurrou e eu a contragosto assenti.
Com o Rick ao meu lado adentrei a grande casa de campo dos meus tios.
Observei tudo ao meu redor. Os quadros nas paredes, os moveis, os enfeites de festa. Tudo parecia igual a última vez que estive aqui. Acho que até eu estou igual.
A sala ampla, com o sofá azul marinho espaçoso. A televisão gigantesca que está sendo segurada pelo suporte na parede.
A mesa de jantar em um tom de caramelo. O barzinho no fundo da sala no mesmo tom, expondo diversas bebidas diferentes e taças de cristal.
Girei vagarosamente o meu rosto para o corredor que dava para os quartos e eu me senti enjoada no mesmo segundo.
A bile não chegou a alcançar a minha garganta, mas eu sabia da sua presença. E do quanto eu possivelmente não conseguiria me alimentar de nada, porque havia perdido completamente a fome.
— Que tal você adoçar um pouco mais a sua vida antes de irmos até lá? — Ricardo sugeriu ao me entregar um halls enquanto colocava outro dentro da própria boca.
Respirei desanimadamente, mas peguei a bala para mim, abrindo-a e sentindo o geladinho dela contra a minha língua.
Gentilmente o Rick repousou sua mão sobre a base da minha coluna e embora eu tenha me sobressalto, o toque suave era algo que me reconfortava um pouquinho.
Fiquei contorcendo as minhas mãos ao passo em que a distância entre nós dois e os convidados diminuía.
Quando alcançamos a porta de vidro e vimos o quanto estava cheio o gramado, eu me vi gemendo baixinho.
Um gemido de desgosto.
Não queria passar por isso. É tão injusto.
Meu olhar foi avaliando cada um dos parentes que tinha ali. Uns que não via há anos, outros que gostaria de nunca mais ver.
Ao notarem a minha presença a surpresa no olhar deles foi perceptível. Não apenas por eu realmente ter vindo, mas por estar acompanhada.
Entendo a reação deles, afinal, namorar implica muitas coisas. E a última vez que estive junto a eles, não lidava bem com toque. O que possivelmente os faça achar que hoje em dia isso é normal pra mim.
Tirando o Osmar, todos que estavam ali, estavam com um sorriso terno. Não pude deixar de recorrer ao Rick.
Com o indicador pedi pra ele abaixar um pouquinho o rosto, para que eu pudesse cochichar.
— Você terá de barrá-los pra mim, tudo bem?
— Como assim? — ele ficou confuso e eu resolvi explicar melhor.
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Minha doce melodia
RomanceMesmo fazendo terapia há cinco anos, Amanda Siqueira ainda carrega inúmeros traumas dentro de si. Apesar de ter alguns receios, ela busca sempre ver o melhor da vida, por mais difícil que seja. Extremamente determinada no que diz respeito ao trabal...