Capítulo 7: Quer colo também?

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12h:15min – Terça Feira

Estava concluindo a aula do meu último aluno do período da manhã.

Dimitri.

Ele tem cerca de trinta e dois anos. É um cara bem apessoado. Alto, usa óculos de grau, dono de um sorriso encantador, tem o cabelo baixo nas laterais e seu topete é todo cacheadinho.

Sério, os cachos dele são tão lindos quanto os meus.

Acho que o cabelo é uma das primeiras coisas que reparo nas pessoas. Pra mim o cabelo não somente emoldura o nosso rosto, ele mostra parte da nossa identidade e personalidade.

Enfim... Ele se formou em economia, trabalha na área e tudo mais. E há dois anos atrás ele procurou pelas aulas de canto e de piano. Dimitri evoluiu muito de lá pra cá. O alcance vocal principalmente, ele soube aproveitar bem o agudo que a sua voz tem.

O que o Dimi mais teve dificuldade nesses dois anos foi em questão a sua coordenação motora no piano, usar as duas mãos ao mesmo tempo para tocar notas diferentes. Sempre foi algo confuso pra ele e extremamente complicado.

Por isso, nas últimas semanas pedi para ele focar nesse treino em seus horários livres e obtive sucesso com isso. Tanto que fiquei com um sorriso largo enquanto o via dedilhar as teclas do piano com elegância.

— Estou orgulhosa do seu desempenho, você está arrasando! — bati palmas quando ele finalizou "You are The Reason" do Calum Scott.

— Também com uma professora como você, não tem como decepcionar. — ele falou, galanteador e tocou levemente a minha mão que estava sobre o teclado.

O fato de ele ter ultrapassado essa linha me fez estremecer e não foi no bom sentido. Eu comprimi o lábio, olhei dele para a mão dele algumas vezes, porém, mesmo assim o Dimi não se tocou.

Fui deslizando a minha mão para fora do teclado e isso não pareceu incomodá-lo ou afastá-lo de alguma forma.

Por que ele não pode ser um aluno normal? Por que sempre que tem uma brecha o Dimi resolve fazer esses comentários desnecessários?

Não entendo. Pra quê isso? Tocar em partes do meu corpo que eu nunca lhe dei acesso, a não ser quando precisava orientá-lo com alguma nota diferente.

Não estou aqui pra ser cantada, estou aqui pra ensinar. Ele sabe disso, já esclareci diversas vezes. Qual é a dificuldade de entender as coisas? De entender que eu não estou afim?

Suspirei profundamente e levei minhas mãos às têmporas, massageando-as com delicadeza.

Bem, se ele não tiver um comportamento de aluno, cabe a mim manter a relação profissional aqui. Como sempre.

— Ah, pode parar com isso. — faço um gesto de insignificância com a mão. — Tudo se deve a sua própria capacidade, eu só te dei o empurrão que faltava.

— Pode continuar fazendo isso sempre que quiser. Gosto de saber que posso me superar e te impressionar ao mesmo tempo. — ele piscou pra mim e no instante em que os olhos dele recaíram sobre os meus lábios, eu tossi levemente e fiquei em pé, obrigando-o a fazer o mesmo.

Permaneci calada enquanto arrumava as partituras e anotava na dele o que queria que ele visse em casa.

Com o Dimitri em meu encalço eu saí da sala de música e toda vez que ele tentava puxar algum assunto, eu apenas respondia o necessário.

Fiquei completamente aliviada de chegar na região do pátio e das quadras. Não só por conseguir respirar de verdade e me acalmar, mas por ver meus amigos nas arquibancadas.

Minha doce melodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora