22h:31min - Sexta.
Faz alguns dias que eu tenho passado muito mal, mas tenho escondido de todas as formas que posso do Rick. Pelo menos o máximo possível, porque não quero deixá-lo esperançoso.
Sei que devia contar para o Ricardo, só que eu não quero que ele crie expectativas de novo e no final eu tenha outro aborto espontâneo.
E eu sei que é um risco comum nas mamães de primeira viagem.
Foi uma das sensações mais dolorosas e traumatizantes da minha vida a perda do bebê. Eu estava realmente perdendo a fé de que conseguiria ser mãe.
Nossos amigos e o Rick foram os que mais me botaram pra cima nos últimos tempos.
Só que era tão difícil vê-los, ficar perto deles, com todos criando os seus próprios filhos, constituindo uma família e eu...
Bom, eu me senti tão mal por ter um pouco de inveja do que não estava conseguindo ter, que me afastei um pouco de todos.
Não queria descontar a minha amargura em ninguém. Fiquei extremamente deprimida com a perda, porque eu já via o pequenino ou pequenina nos meus braços.
Via o quarto do bebê com clareza na minha mente. Conseguia imaginar todas as fases dele ou dela e dores de cabeça que nós dois teríamos.
Eu estava tão exausta de tentar e não dar em nada.
Já estávamos tentando ter um bebê há cerca de dois anos. E quanto mais o tempo passada e eu não obtinha sucesso nesse quesito, pior eu me sentia.
Era como se eu fosse menos mulher por isso, pelo menos era isso que minha cabeça me dizia... que aquela vozinha diabólica vivia sussurrando.
Os médicos diziam que não tinha nenhum problema conosco no quesito fertilidade, mas mesmo assim vivíamos nessa luta diária para conseguir dar continuidade a uma gravidez.
Atualmente eu estou beirando os 32 anos, enquanto o Ricardo está no auge dos seus lindos 29, quase chegando aos 30.
E ele continua sendo um partidão. Continua sendo espetacular pra mim, só consigo tecer elogios pra ele. O quanto ele vem me apoiando, me colocando pra cima não tá escrito.
Enfim... Por não querer frustrá-lo mais uma vez, eu resolvi comprar um teste de gravidez, esses de farmácia mesmo, mas eu teria de fazer escondida dele.
No momento, eu teria que encontrar uma boa desculpa para sair do sofá e dos beijos deliciosos dele. O que não seria uma tarefa fácil.
Mas vale a tentativa, não é mesmo? Ainda mais depois do nosso jantar.
Hoje, o Ricardo teve a ideia de fazer uma noite de pizza em casa. Ele mesmo virou o chefe de cozinha e se propôs a fazer.
Eu comi um pouquinho enquanto assistíamos um filme de terror, só que desceu tão mal, que eu estou extremamente nauseada.
Não quero falar para o Rick. Não quero que ele pense que estou assim pelo que fez pra comermos. Foi feito com tanto carinho e mesmo assim eu estava lutando contra a minha vontade de botar tudo pra fora.
E seria terrível se eu fizesse isso com os lábios dele colados aos meus. Fui pausando lentamente o beijo, lhe dando vários selinhos discretos.
Ricardo deu uma leve mordida na ponta do meu nariz, o que me fez sorrir um pouco.
— Está tão bom ficar aqui com você sabia? — ele murmurou baixinho, todo carinhoso.
— Agarradinho?
Vagarosamente ele maneou a cabeça e eu suspirei baixinho.
— Pra mim também. É sempre a melhor parte do meu dia. Na verdade, eu conto as horas pra chegar em casa, só pra poder desfrutar 100% da sua companhia. — declarei docemente.
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Minha doce melodia
Roman d'amourMesmo fazendo terapia há cinco anos, Amanda Siqueira ainda carrega inúmeros traumas dentro de si. Apesar de ter alguns receios, ela busca sempre ver o melhor da vida, por mais difícil que seja. Extremamente determinada no que diz respeito ao trabal...