Capítulo 24: Relíquia

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(Amanda)

19h:41min - Sexta.

Meus lábios estavam entreabertos vendo o quanto o meu aluno do nível iniciante estava tocando "Skyscraper" da Demi Lovato como se tivesse nascido pra isso.

Thiago tem cerca de quinze anos, cabelos pretos arrepiados, um sorriso com covinha no canto dos lábios e um olhar tão doce...

Tem seis meses que começamos as aulas e as mãos dele pegaram o jeito rapidamente.

Ele nunca tinha colocado as mãos em um teclado antes, mas por ter tido aulas de violão com o Rafa, ele tinha facilidade em sincronizar todos os movimentos das mãos.

É tão surreal que eu não pensei muito. Apenas esperei que ele terminasse a canção e virasse pra mim. Os olhinhos amendoados estavam tão ansiosos que eu não contive o riso e nem o aplauso.

— Eu fiz tudo certinho? — suas bochechas coradas me diziam o quanto ele estava tímido e o quanto ansiava por aprovação.

— Você me surpreendeu tanto, que a partir da semana que vem começaremos a treinar canções das partituras intermediárias. — sorri, orgulhosa.

Thiago arregalou os olhos e deu um salto da cadeira, dando vários pulinhos empolgados pela sala de música.

— Quero ver essa animação no dia da sua apresentação. Que logo mais estará aí. — lembrei-o e ele se sentou, me olhando nervosamente. — Sabe que pode escolher a música que quiser, certo?

— Acho que vou ficar com a diva da Demi ou com o pedaço de mau caminho do Shawn. — Thiago ficou pensativo.

— O que você escolher para mim estará ótimo. O importante é você se divertir e não se cobrar. — pisquei pra ele que rapidamente organizou suas partituras, os cadernos e saiu saltitante da minha sala, parando na porta apenas pra me mandar um beijinho no ar.

Peguei carinhosamente e depositei contra a minha bochecha, arrancando um risinho tímido dele.

O som do tic-tac do relógio na parede ganhou a minha atenção. Sorri um pouquinho ao perceber que eu teria uns vinte minutinhos para jantar.

Desliguei o teclado e antes que pudesse dar alguns passos para fora da minha sala, o apito de mensagem do meu celular ecoou pelos quatro cantos.

Tateei todo o meu corpo em busca do aparelho e ao não encontrá-lo, busquei-o pela sala, achando-o caído sobre o banquinho que eu estava sentada.

Com o aparelho em mãos, voltei ao meu destino: cozinha. Precisava pegar minha marmita na geladeira.

Enquanto eu seguia pelo corredor, vi algumas notificações do grupo de funcionários da ComArt, algumas no grupos das minhas amigas, da minha prima, dos meninos, outras que não dei muita importância e apertei em uma mensagem no privado, de um número que eu não tinha salvo.

Fiquei confusa ao não ter uma foto de perfil, então me atentei ao textinho que havia ali.

Desconhecido: É uma relíquia das boas. Achei que você fosse gostar de relembrar os velhos tempos.

Avaliei a fotografia minuciosamente, focando especialmente no olhar inocente da garotinha.

Um olhar que se perdeu com o tempo. Olhar de quem nem sequer sabia que essa foto ainda existia. Que na época sequer tinha noção que a foto não era inofensiva.

Agora, tendo noção do que implica eu estar ali, sentada no colo dele. Faz meu estômago embrulhar e até doer, faz a bile subir na minha garganta, parando ali, como se não conseguisse sair.

Minha doce melodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora