21h:44min - Terça.
Eu tive tanta sorte por ter tido terapia no sábado. Pude falar tudo com a Simone, desde o que aquele bêbado tentou fazer comigo no beco, desde o Rick espancando ele e me levando em segurança pra ComArt.
Só me sentia bem pra falar sobre esses assuntos com ela. Não só por conta dos anos de trabalho que tem tido comigo, mas por saber que ela me entenderia.
Simone sugeriu que eu começasse alguma atividade que envolvesse defesa pessoal e quando falei a respeito disso com o Rick e as minhas amigas, todos aprovaram no mesmo instante.
Como eu só tinha tempo livre aos domingos, o Sid ficou encarregado de me ensinar algumas coisinhas no período da manhã. Ele não soube as razões de eu ter recorrido a luta, mas ficou contente por essa iniciativa minha, porque desta maneira eu poderia extravasar até mesmo os sentimentos ruins.
Relatei pra Simone o meu pedido pro Rick, o nosso beijo e como eu me senti nos braços dele. O quanto estava começando a se tornar mais fácil e que eu estava cogitando dar uma chance para abraços alheios também.
Óbvio que a minha terapeuta se animou e disse que se eu ainda tivesse certo receio, que eu abraçasse as pessoas que não tenham nenhum tipo de interesse em mim. Pra poder me adaptar aos poucos.
Segui o seu conselho, abraçando primeiramente as minhas amigas, que se emocionaram tanto ao ponto de chorar. Fiquei bem constrangida por conta disso, mas o choro falou mais alto. Porque segundos depois eu também me vi chorando que nem um recém-nascido.
Também desabafei a respeito do Ricardo. Do fato dele sempre estar presente quando eu mais preciso, dando suporte pra mim e aos pouquinhos estar me permitindo criar um vínculo maior com ele.
Simone comentou que essa facilidade que estou tendo com relação a ele, está vindo naturalmente porque percebi que o Rick é confiável. Tanto quanto as minhas amigas são.
Confesso que isso me deixou bem intrigada.
Na minha cabeça, se eu confiava mesmo neles, por quê eu não conseguia desabafar sobre a minha maior dor? Sobre os meus machucados internos e externos?
Ela fez questão de dizer que seria o trabalho mais demorado de se conseguir. Pois não tinha relação com confiar neles ou não. Tinha relação com a culpa e a vergonha que eu sentia. Com o receio de me verem de maneira diferente e até mesmo se afastarem de mim.
O meu medo estava agindo tanto sobre as minhas vontades, que ele havia se tornado algo muito maior de se controlar. Portanto, tínhamos que continuar tentando e que mesmo que demorasse, no final de tudo valeria cada tempo gasto.
A última coisa que disse pra ela é que havia combinado de jantar com os meus amigos durante a semana depois do trabalho. E que eles haviam reservado lugar para nós no dinner in the sky, localizado no Ibirapueira.
Simone ficou me analisando para saber se estava confortável com o fato de ficar amarrada sobre a cadeira. Sabendo que amarras eram um problema para mim também.
Apenas falei que precisava enfrentar isso de alguma forma e que achei que essa poderia ser interessante, principalmente quando teria outras coisas para me preocupar e para ocupar a minha mente.
E cá estou eu, esperando no estacionamento da ComArt os meus amigos terminarem de se arrumar para que possamos sair todos no mesmo veículo. No Chevrolet Spin do Sid.
Embora eu saiba que só caiba 7 pessoas no carro, as meninas disseram que não se importavam de uma ir no colo da outra, principalmente se essa outra fosse a sua namorada.
Quando eu finalmente vi todos caminhando na direção do Spin, suspirei em alivio, porque eu não estava aguentando mais a espera e minha barriga muito menos.
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Minha doce melodia
RomanceMesmo fazendo terapia há cinco anos, Amanda Siqueira ainda carrega inúmeros traumas dentro de si. Apesar de ter alguns receios, ela busca sempre ver o melhor da vida, por mais difícil que seja. Extremamente determinada no que diz respeito ao trabal...