Capítulo 49: Toda linda

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(Amanda)

00h:51min - Domingo.

Ricardo foi tão amorzinho quando me pediu para morar com ele, que o mesmo fez questão de fazer um escritório só pra mim em um dos aposentos da cobertura.

Ele usou o espaço até para deixar um piano de cauda e uma ampla estante de livros na parede. Como se fosse meu mini lugar particular. Uma graça o meu refúgio, me sinto tão acolhida dentro dele.

Grande parte do meu tempo livre eu passo aqui. Virou o meu lugar preferido da casa, meu cantinho de paz.

Muitas vezes eu fico lendo todos os livros novos que vou colocando na estante. Outras, fico treinando músicas complexas das partituras de música para que meus alunos do avançado aprendam.

E também uso o tempo que possuo para ter ideias para novas mixagens, que por sinal, o interesse e busca foram tão altas depois das apresentações do ano passado que precisei abrir um tempinho na minha agenda e passei a dar aulas a respeito disso no Centro também.

Claro que o Rick pensou em si mesmo também, fazendo um dos quartos de estúdio de dança, para poder ensaiar o que ensinará para os alunos e aproveitou para deixar nele o novo terrário da Celeste.

Inclusive, nesse instante ele está lá, alimentando ela e ensaiando. Eu por outro lado, estou sentada sobre a mesa do escritório, lendo um dos livros de época que tinha a minha disposição.

Adoro o fato de nos darmos espaço para que possamos fazer o que mais gostamos e isso ajuda também no quesito saudade.

Mesmo morando juntos, é bom ter a própria individualidade, ter as nossas próprias regras e momentos de distração.

Ter dado tão certo com ele, com certeza foi uma benção de Deus. Inclusive, está ai algo que mudou nos últimos tempos. Passei a me entender melhor com Ele novamente e a me agarrar a minha fé.

Me fez bem demais voltar a entrar em contato com esse lado. Não fazia ideia do quanto fazia falta até me permitir novamente.

Tirar todo o peso do meu peito enquanto fazia uma prece ou simplesmente compartilhava as coisas com Ele.

Voltei a minha mão para o escapulário no meu pescoço, o mesmo que havia dado para a vovó Amália, fiquei com ele de recordação após o seu falecimento no início do ano.

A morte dela foi a única que eu entendi. A velhice a matou, foi natural, como imaginei que seria.

Ela viveu tanto tempo conosco que eu jamais poderia ficar zangada com Deus por tê-la tirado de mim.

Movo meu pescoço lentamente, ouvindo-o dar alguns pequenos estalos e direciono meu olhar para o som de uma risadinha vinda da porta do escritório.

Ricardo está escorado no batente. Ele está sem camisa e completamente suado, seu cabelo que o diga, está desgrenhado e pingando gotas pelo chão.

Ele está um gostoso e sabe muito bem disso.

Porém, o olhar acanhado e sorrisinho tímido me pegaram desprevenida demais.

— Que foi? Por que está tão tímido?

Ele deu uns passinhos na minha direção e eu deixei o livro de lado. Quando ele finalmente alcançou a mesa, Ricardo se encaixou entre as minhas pernas, colocando as mãos sobre as minhas coxas descobertas.

Isso é outra coisa que mudou.

Ando me vestindo mais à vontade. Botando minhas pernas e braços pra jogo. Ficando mais à mostra para as pessoas, mesmo com inúmeras cicatrizes, eu passei a vê-las da maneira que devia ver desde sempre.

Minha doce melodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora