Capítulo 27: Me impressionou

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14h:03min – Terça.

Quando o Ricardo me pediu para dar um espacinho pra ele na minha agenda, eu jamais imaginei que significaria manter o dia inteiro livre para que fizéssemos tudo que ele havia planejado.

Não nos encontramos em um local especifico de nossa escolha, ao contrário. O Rick fez questão de me buscar com a sua Harley e eu não me opus ao passeio. Até porque eu amei a sensação da última vez que estive na garupa.

Não apenas por tê-lo comigo, mas por ter desfeito algumas das minhas inúmeras amarras.

Precisei ser bem convincente para que as minhas amigas não me arrastassem para o churrasco que iriam. Na verdade, até os amigos do Ricardo estariam lá. Então, suponho que ele tenha que ter dado uma boa desculpa para não comparecer também.

Não que eu esteja achando ruim. Prefiro mil vezes um passeio que desconheço total o cronograma, do que ir a um que me sentiria desconfortável a maior parte do tempo. Um que teriam muitas caras novas e bêbados sem noção.

Quanto mais eu me preservar, melhor.

Eu sequer conhecia o caminho que o Ricardo estava fazendo. Só compreendi a grandiosidade quando sua Harley parou em frente a uma das lojas de vinil mais antigas e mais procuradas de São Paulo.

— NÃO ACREDITO! — dei um gritinho entusiasmado. — Eu sempre quis vir aqui. — sussurrei, emocionada.

Esperei que o Rick saísse da moto, para que eu pudesse sair também e fiquei olhando a fachada do lugar com um sorriso sonhador.

Adoraria ter uma loja de música, tanto quanto gostaria de ter uma mini biblioteca. O fato do Ricardo conhecer esse meu lado, me fez fazer uma beicinho e olhá-lo com fascínio.

— Como soube desse meu gosto? — arqueei levemente a sobrancelha enquanto ele apoiava a mão na base da minha coluna e me guiava para dentro do amplo ambiente.

O friozinho do ar condicionado deixou tudo mais aconchegante ao meu ver. Amei os letreiros em led vermelho no final da loja, as paredes cobertas por tinta preta e por diversos discos. Todas as prateleiras e divisórias por estilo musical.

— No seu instagram eu vi a sua vitrola e uma de suas paredes repletas de capas de disco de vinil. Achei que seria um ótimo lugar pra te trazer, que você se sentiria bem aqui. — ele deu de ombros, como se isso não tivesse sido nada demais.

Mas foi TUDO!

Cumprimentei com um aceno de cabeça o dono da loja e fui passando meus dedos por todas as sessões que tinham ali. Buscando algum disco que eu não tivesse.

Pegando em minhas mãos tanto o do Pet Shop Boys quanto o do Sex Pistols. Depois de olhar a lista de músicas que continham no disco, abracei-os com um dos braços.

Voltei a dar atenção para a fileira seguinte e de soslaio percebi que o Rick também estava encantado com o lugar, principalmente com os enfeites musicais na vitrine do caixa.

Mesmo de longe eu pude ver que todas estavam à venda.

— Você não precisava me trazer aqui pra me impressionar, sabe disso, né? Até porque você já me impressionou. — falo de maneira contida e passeio meus dedos pelos discos de vinil do setor de pop.

— Se você está dizendo, então, que tal me dar uma chance? Uma chance de verdade. — Rick falou rapidamente e eu acabei soltando uma risadinha nasalada.

Virei lentamente o meu rosto pra ele, que se balançava para frente e para trás enquanto escondia as mãos atrás das costas.

— Não estou fazendo isso? Te dando uma chance pra nos conhecermos melhor? — rebati e vi o momento exato em que Rick tropeçou nos próprios pés e precisou se apoiar nas fileiras de discos, pois não esperava que eu dissesse isso tão diretamente. — Está tudo bem ai, Olaf? — perguntei bem humorada ao vê-lo se endireitar ao meu lado com um sorrisinho sem graça.

Minha doce melodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora