(Ricardo)
11h:01min – Domingo
Mal consegui dormir depois do que houve de madrugada.
Sei que em algum momento, o que eu fiz foi um tipo de gatilho pra Mandy. Só queria saber o que foi, pra eu não fazer mais.
Fiquei acariciando seus cachos, tentando buscar sozinho respostas para a atitude arisca que a Amanda teve.
Parte de mim soube o que poderia ter lhe acontecido, mas era demais para digerir, pra suportar, principalmente quando uma das últimas coisas que a Amanda falou pra mim foi que estava suja, que precisava de outro banho.
Mas não deixei-a sair de perto de mim e, com a permissão dela, peguei-a no colo e coloquei-a gentilmente sobre a cama de casal. Ela estava tão frágil, toda encolhida sobre o colchão que eu não conseguiria me manter distante, mesmo que fosse um desejo dela.
Sendo assim, fiquei com ela o tempo todo. Velando o sono da Mandy, que por incrível que pareça adormeceu nos meus braços enquanto chorava baixinho.
Foi terrível vê-la tão desestabilizada daquela maneira. Algo a apavorou e a enojou.
Não consegui discernir se era nela mesma ou com relação a quem ela viu no meu lugar. Só queria poder ajudá-la de alguma forma, tirar um pouco da dor que carrega.
Entretanto, eu sabia que não devia forçar a barra, essa conversa tinha que partir dela. Quando se sentisse segura e pronta pra isso.
É tão difícil pensar nisso enquanto a olho.
Desde de que acordou a Mandy sequer olhou para mim. Mesmo que eu tenha dito que ela não tinha porquê se envergonhar, não adiantou.
Então, olhá-la ao meu lado na mesa de café da manhã da chácara dos tios, com várias pessoas em volta e notar o quanto a Amanda parece tensa, inquieta, distraída, desconfortável e constrangida, parte o meu coração.
O silêncio estava insuportável.
Não somente entre nós dois, mas parece que toda a família resolveu se silenciar. Não sei se é costume deles comerem sem trocar ideia, mas eu precisava falar algo. Estava incomodado demais.
Levei um pouco de bolo de laranja com cobertura açucarada até a boca e resmunguei satisfeito, ganhando toda atenção pra mim.
— Está delicioso! Quem fez? — questionei, curioso.
Vi de soslaio a Mandy relaxar um pouco na cadeira, aliviada. O clima ao menos agora pode ficar mais agradável, assim eu espero.
— Eu. — Dona Viviane ergueu o indicador e sorriu orgulhosamente.
— A tia e a vovó são excelentes doceiras. Elas têm um negócio próprio em Paulínia. — Amanda falou docemente, ganhando um sorrisinho carinhoso das duas mulheres a nossa frente. — E você prima, como andam as coisas?
Tamy limpou a boca com um guardanapo e pareceu imensamente feliz por ter a atenção da Mandy voltada pra ela.
— Ando fazendo alguns trabalhos voluntários na região. Venho ensinando as modalidades de dança que aprendi ao longo dos meus 29 anos para crianças dos abrigos de Campinas. — ela falou, orgulhosa.
— E tem sido uma motivação pra você? Pra ficar distante do que você falou comigo noite passada? — resolvi puxar assunto também, o que pareceu surpreender todos na mesa.
— Sem dúvidas. Me mantém afastada de coisas que só me afundam. — Tamires olhou significativamente para a Amanda e elas pareciam conversar pelo olhar.
![](https://img.wattpad.com/cover/331683420-288-k435977.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha doce melodia
RomanceMesmo fazendo terapia há cinco anos, Amanda Siqueira ainda carrega inúmeros traumas dentro de si. Apesar de ter alguns receios, ela busca sempre ver o melhor da vida, por mais difícil que seja. Extremamente determinada no que diz respeito ao trabal...