2. Richie

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A minha resposta foi extremamente vaga, eu sabia. Me critiquei depois também por não ter sido educada o suficiente para lhe cumprimentar como ela havia feito, mas a verdade era que tudo aquilo tinha sido demais para só um dia.

Assim que apertei enviar, desliguei meu celular. Não queria saber qual seria a sua resposta, não estava pronta para aquela conversa. Não ainda. Talvez nunca.

Me levantei da mesa do meu escritório pessoal e alonguei meus músculos doloridos de um dia imprevisto. Balancei minha cabeça tentando clarear meus pensamentos e decidi que um banho quente era a melhor solução para tentar relaxar.

Pensei em abrir uma taça de vinho, mas meu estômago vazio de um dia inteiro reclamou só com o pensamento dessa possibilidade. Deixando a ideia pra lá, caminhei lentamente até meu quarto, me direcionando ao banheiro.

Depois do banho - que conseguiu relaxar os músculos do meu corpo, mas infelizmente não a minha mente - eu rolei por horas na cama até o cansaço finalmente vencer e me presentear algumas horas de sono.

Acordei do meu sono inquieto com barulhos vindos do lado de fora do meu quarto, mas definitivamente dentro da minha casa. Suspirei cansada, porque já imaginava quem poderia ser.

Sem vontade, joguei o lençol de lado e fui até o meu banheiro lavar meu rosto e escovar meus dentes antes de encarar o novo dia. Pensei também em trocar minha roupa de dormir - que consistia de um conjunto de shorts e moletom preto - mas logo desisti. Não tinha planos para aquele dia e assim que me livrasse da minha atual companhia, eu passaria o dia naquelas roupas.

Saí do quarto e fui logo atacada pelo cheiro bom de comida sendo preparada. Não pude negar que meu estômago reclamou mais uma vez, me lembrando da última vez que eu o havia escutado. Caminhei mais rapidamente até a cozinha, onde minhas suspeitas se mostraram verdadeiras quando vi quem a ocupava.

"As chaves são para emergência apenas, Richie," falei tentando demonstrar descontentamento.

"Pelo estado em que anda a sua dispensa, comida é uma emergência, irmãzinha," meu irmão respondeu, se virando pra mim ainda mexendo algo no fogão, o que me fez sorrir apesar da minha primeira reação ao saber da sua presença.

"Você sabe que eu odeio cozinhar," respondi me sentando no bancada da cozinha, longe do fogão. Minhas palavras fizeram meu irmão rir e balançar a cabeça em negação.

"Você pode pagar alguém pra fazer isso, sabia?" ele respondeu, enquanto se movimentava pelo espaço melhor do que eu.

"Eu prefiro evitar companhias quando possível," falei minha resposta usual, dando de ombros.

Isso fez com que ele parasse seus movimentos e se virasse para me encarar completamente dessa vez. Seu semblante era sério e senti um frio no meu estômago, dessa vez não tinha nada a ver com fome, e sim porque eu reconhecia aquele olhar.

"Becky..." ele tentou começar, mas eu o interrompi, levantando minha mão direita em um gesto claro que ele não deveria continuar.

"Eu já sei o que você vai falar, Richie. E honestamente, hoje não é um bom dia para isso," concluí, me levantando do balcão e cruzando meus braços sobre o meu peito, numa postura de defesa.

Meu irmão suspirou em derrota e vi quando seus ombros cederam, ele não iria insistir.

"Ok, maninha. No menu de hoje não vai nenhuma lição de moral, apenas um bom café da manhã, que tal?" ele perguntou com um sorriso pequeno no canto da boca que me fez relaxar e sorrir também.

"Mais que perfeito. Obrigada," respondi.

Comemos em meio a uma conversa amena, onde Richie me contava sobre as novidades em sua vida, em que falávamos sobre nossos pais e evitávamos qualquer conversa sobre a preocupação de toda a minha família com o jeito que eu levava a minha vida há alguns anos.

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