Me olhei no espelho pela enésima vez e me perguntei se shorts jeans, regata branca com uma camisa azul de tecido leve era o suficiente para passar o dia com meu ex amor e sua filha. Arrumei meus cabelos, que ainda mantinha levemente abaixo dos ombros, soltos. Completei meu look com um óculos escuros e peguei minha carteira e chaves para ir encontrar Freen e Li.
Eu me sentia inquieta desde que havíamos combinado os detalhes daquele encontro. A coragem que tinha me possuído no momento que sugeri que ela me chamasse para sair havia desaparecido por completo. Agora só restava a ansiedade.
Tínhamos combinado de nos encontrar em um estacionamento próximo ao templo. Como da primeira vez em seis anos que eu via Freen, eu cheguei absurdamente adiantada e fiquei as esperando dentro do meu carro. Quase pulei de susto quando fui despertada da hipnose do meu próprio celular quando Freen bateu na janela do meu carro.
"To achando que nunca vou te ver dirigir," ela falou rindo enquanto eu saia do veículo para comprimentá-la.
"Isso está virando uma obsessão, Freen. Você quer que eu dê uma volta no quarteirão só pra saciar essa sua vontade?" continuei a sua provocação e minhas palavras fizeram com que o olhar de Freen sobre mim mudasse.
Eu via um pouco de estranheza, afinal eu realmente havia mudado desde muitos anos atrás. A minha ousadia havia apenas crescido com os anos. Mas no final, a curiosidade parecia vencer em seu olhar.
"Não precisa, acho que a minha 'obesessão', como você bem colocou, não seria saciada se não fosse algo espontâneo," Freen respondeu, com um tom jocoso em sua voz.
"Se esse é o caso, então vamos ter que esperar o momento certo," encerrei aquela provocação boba que sempre acabávamos mantendo esses dias e procurei ao redor por Li. Avistando o carro de Freen no estacionamento a alguns metros do meu. "Cadê a Li?"
"Ela está no templo," Freeen respondeu indicando com sua cabeça para o templo do outro lado da rua de onde estávamos. Meus olhos arregalaram em surpresa.
"Sozinha?" falei com um leve tom de desespero em minha voz, travando rapidamente meu carro e me apressando para puxar Freen comigo. Diferente do que eu esperava, ela se manteve parada, fazendo resistência ao meu movimento, o que me fez virar para encará-la.
"Ela está com o Rune," Freen respondeu e meu mundo caiu.
Acho que a minha expressão mostrou exatamente isso, porque eu pude ver as emoções mudarem na expressão atenta de Freen sobre mim. Suas mãos rapidamente buscaram as minhas e eu nem tive tempo de surtar com seu toque gentil novamente na minha pele, porque já estava surtando com o fato de que apesar de Freen ter me assegurado que eu não estaria sendo um incômodo, isso realmente não queria dizer que a minha segunda pergunta sobre Rune também tinha sido respondida.
"Uma tia dele está doente e ele queria orar junto com Li para a sua saúde," Freen começou em uma voz extremamente delicada, ao mesmo tempo que seus dedões começaram a fazer movimentos circulares sobre a palma da minha mão. "Ele queria poder fazer isso com ela antes de ir ao trabalho, então achei que seria bom deixá-los ter esse momento sozinhos," ela continuou.
Meus olhos que estavam grudados em um ponto qualquer na calçada, finalmente voltaram a ir de encontro aos castanhos gentis a minha frente. O misto de sentimentos que emanava deles era tão confuso quando meu peito e minha cabeça nesse momento. A cada nova interação com Freen eu só conseguia me sentir ainda mais confusa.
Ela ia falar mais alguma coisa, mas fomos interrompidas por passos seguidos por uma voz doce chamando por "mamãe" animadamente. Isso me fez desvencilhar minhas mãos um tanto bruscamente das mãos de Freen, dando um passo para trás e engolindo em seco. Eu estava completamente arrependida de ter aceitado tudo isso.
Freen me analisou por mais alguns segundos antes de virar em direção as nossas novas companhias.
"Baby, você já terminou suas orações com o seu pai?" ela disse em uma voz suave, mas diferente das quais eu já havia ouvido. Essa parecia reservada a sua pequena versão. Isso fez um sentimento quente se instalar em meu peito e me fez sorrir, apesar dos sentimentos anteriores.
"Sim, mamãe. O papai disse que a minha oração vai ajudar muito a tia Phae."
"Isso com certeza, meu amor. Um coração tão puro quanto o seu só pode ter uma oração beeeeem forte," Freen disse sorrindo enquanto tomava Li em seus braços.
"Foi o que eu disse a ela," a voz masculina me fez despertar do meu transe na interação mãe e filha e finalmente olhar na direção da figura masculina que se aproximou junto com Li.
Rune tinha os cabelos pretos bem aparados em um corte clássico, sua postura era alta e elegante e suas feições eram definidas e simétricas. Ele realmente era um homem bonito.
"Obrigado por me permitir invadir alguns minutos do dia de vocês três," ele continuou em um tom de voz brincalhão, se aproximando de mim. "Prazer, Becky. Já ouvi muito de você. Eu sou o Rune," ele falou, me cumprimentando com suas mãos fechadas diante de si e uma leve reverência.
"O prazer é meu," consegui me forçar a dizer, enquanto repetia seus gestos em respeito.
Ele sorriu levemente antes de se virar para Freen, que agora tinha Li em seu colo.
"Obrigado por me acompanhar, pequena," ele disse colocando sua mão sobre a cabeça da filha, em um gesto de carinho. "Até mais, Freen, Becky," falou com acenos de mão, já se virando para ir em direção ao seu carro, imaginei.
"Até mais, Rune. Tenha um bom dia de trabalho," Freen respondeu ao mesmo tempo que Li disse "Tchau, papai" e eu consegui grunir baixo algum tipo de despedida.
Fiquei encarando as costas do homem se afastando da gente e não conseguia deixar de pensar em quão estranho tinha sido tudo aquilo. Eu havia finalmente conhecido o novo amor de Freen e ele havia sido tão cordial e até gentil, porém o que me espantava era que as suas palavras pareceram realmente verdadeiras. Como se ele realmente escutasse muito sobre mim.
"Você se incomoda de fazer mais uma oração poderosa, Li?" acordei dos meus pensamentos com a voz de Freen ao meu lado. "Eu e a tia Becky ainda precisamos fazer as nossas orações," Freen disse, me encarando com um sorriso encorajador.
Eu retribuí seu sorriso, porque era impossível para mim vê-la tão feliz e não compartilhar dessa felicidade.
"Mas acho que primeiro eu deveria apresentar vocês direito. Becky, essa é a minha filha Malinee. Li, essa é a Becky de quem tanto lhe falei," Freen concluiu sua apresentação, enquanto Li me olhava de forma curiosa e tímida.
"Prazer, Li. Sua mãe fala muito sobre você e fico contente em finalmente poder conhecê-la," falei de forma gentil. A menina assentiu, ruborizando forte e se escondendo no pescoço de Freen, que soltou uma risada baixa, acariciando os braços da filha em um gesto de consolo.
"Ela está um pouco tímida, mas vai se soltar," Freen me se assegurou, colocando Li devagar no chão. "Preparadas para começar o dia?" ela perguntou, tomando a mão de li em uma de suas mãos e, para a minha total surpresa, a minha na sua outra.
E não, eu não estava nada preparada.
Notas da autora:
Bom dia, bebês. Aproveitei minha folga pela manhã para postar um capitulizinho para vocês.
Espero que gostem e até o próximo!
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People Change
FanfictionDez anos após a estréia de Gap e de um romance escondido, Freen e Becky são convidadas para um reencontro na mídia, mas a verdade é que ninguém sabe que elas não se falam há anos. Freen reconstruiu sua vida e montou uma família. Dez anos depois, Be...