POV BECKY
Não saberia dizer quantas noites virei acordada sentindo falta do cheiro doce que os cabelos lisos a minha frente exalavam. Assim como as incontáveis vezes que pensei na sensação que era ter o seu corpo envolvido em meus braços, tentando em vão manter vivas as sensações que antes pareciam tão longínquas. O calor aconchegante de ter o seu corpo colado ao meu, por muito tempo, tinha se tornado apenas uma memória distante. Era uma sensação agridoce, tal provar o melhor sabor do mundo, mas sentir a boca amarga.
E nunca, nem nos meus maiores devaneios, eu imaginei que eu dormiria praticamente todas as noites com o meu nariz entre aqueles cabelos perfumados, com os meus braços em volta daquele corpo quente, envolta no sentimento mais próximo de plenitude que eu poderia descrever. Eu estava em casa novamente. O destino tinha me dado uma segunda chance e eu não queria nunca mais ter que sobreviver de resquícios de memórias. Eu era grata pelo gosto doce de amar Freen todos os dias de novo.
Freen se mexeu em meus braços de repente, e eu de maneira instintiva, prendi minha respiração e fiquei imóvel, temendo tê-la acordado mesmo sem intenção. Percebi, no entanto, que ela ainda estava adormecida, mas tentava mudar sua posição contra o meu corpo, logo eu afrouxei meu abraço, permitindo com que ela se virasse em minha direção e encaixasse seu rosto no meu pescoço, me agarrando pela cintura. Tive que segurar a risada na minha garganta, mas não pude evitar o sorriso abobado que surgiu em meus lábios. Ela sentia exatamente o mesmo.
E dessa vez eu não tinha que me questionar se estava interpretando as coisas certas, porque eu não lia nosso amor nas entrelinhas como antes. Ela fazia questão de falar todos os dias, pois tinha aprendido durante os anos, que o amor se demonstra com atos de carinho e afeto, mas um relacionamento saudável se baseia em diálogo. E eu, tentando me tornar a minha melhor versão para ela (e para Li também), buscava todos os dias olhar a vida de maneira diferente, mais aberta e otimista. Não vou mentir que era desafiador, mesmo com as novas ferramentas e a terapia, mas era difícil não acreditar no melhor da vida quando o seu melhor está ali, no alcance dos seus dedos.
Passei mais alguns minutos apreciando aquele momento, mas a batida ritmada do coração de Freen sobre o meu peito e o embalo de sua respiração compassada, me ninaram de volta ao mundo dos sonhos.
Acordei no outro dia com a força de um peso caindo repentinamente sobre meu corpo. Me espantei, soltando um "humpf" antes de abrir meus olhos em confusão. A leve chateação dissipando rapidamente dos meu corpo ao ver o rosto lindo da criaturinha que eu aprendia a amar cada vez mais.
"Bom dia, BecBec!" Li disse animada, ainda com o seu corpo sobre o meu. Seu sorriso, recentemente desdentado, me fez sorrir automaticamete em resposta.
"Bom dia, LiLi!" respondi, levando minha mão para arrumar seus cabelos lisos que caíam sobre seus olhos. "Hoje decidiu virar despertador?" brinquei.
"A mamãe disse que você estava aqui, mas você estava demorando demais," a menina reclamou, fazendo uma careta que era tão familiar com a de Freen, que fez meu coração aquecer no peito.
Com a menção de Freen, deixei meus olhos percorrerem o quarto e constatei que estava vazio além de mim e Li. A porta escancarada dava indícios de movimento no restante da casa, mas era distante. Soube naquele momento que Freen não fazia ideia que Li estava ali, me acordando naquele momento.
"E tinha algum motivo específicio para o qual você estava me esperando, pequena?" perguntei, já me levantando da cama e me espreguiçando. Ainda estava um pouco cansada, mas se ela queria a minha companhia, não negaria. Eu sabia que ela estava animada para abrir seus presentes.
"Mamãe deixou eu abrir meus presentes depois do café e, Becky, eu ganhei tantos e tantos livros," a menina disse com seus olhos brilhando e foi inevitável não soltar uma risada gostosa com a sua animação. "Você precisa vir ler eles comigo!" ela disse, concluindo a sua missão ao meu acordar.
"Mas é claro que eu vou, meu bem," respondi de maneira automática, sentindo um carinho imenso se espalhar pelo meu corpo. Era um sentimento incomum e desconhecido para mim, a forma como eu amava Li. Porque sim, eu amava a garota, não havia dúvidas nisso. Não era um sentimento difícil, era tão fácil quanto o jeito livre e aberto que ela me encarava naquele momento.
"Li Malinee Chamkinha Bunmi, o que eu falei sobre você vir acordar a Becky?" a voz severa de Freen ecoou pelo quarto, fazendo eu e Li nos virarmos em direção a porta do mesmo, onde Freen mantinha sua feição de reprovação e suas mãos em sua cintura.
"Mas mamãe..." a menina ia começar, quando eu interrompi.
"Eu já estava acordada quando ela passou no corredor e eu a chamei," falei sem nem pensar duas vezes. E os dois rostos viraram em minha direção. Freen parecendo incrédula e Li tentando esconder um sorriso na beira do rosto.
"Li, por que você não espera a gente lá embaixo? A Becky já desce para ir ler com você," Freen volta a falar, com o mesmo tom de voz de antes. E dessa vez eu engulo em seco, porque sabia que agora a severidade em seu tom era direcionada a mim.
"Tá bom, mamãe," a menina falou, claramente descontente, e saiu do quarto arrastando os pés.
Freen não deu atenção aos seus protetos silenciosos, e esperou pacientemente os passos lentos da menina a levarem até o térreo da casa, antes de voltar a me encarar. O olhar de reprovação que eu esperava, foi substituído por um sorriso frouxo e olhos brilhantes e carinhosos.
"Achei que seria minha vez de levar bronca," falei rindo de maneira relaxada com sua disposição.
"Não que eu aprove suas mentiras, dona Rebecca," Freen disse, dando passos longos em minha direção. "Principalemente para encobrir as mal criações de Li," ela continuou, agora esticando seus braços para segurar em cada lado da minha cintura. "Mas você pode agradecer a essa sua carinha linda que eu não consigo ficar chateada com você," ela concluiu, colando sua boca na minha em um beijo carinhoso. "Bom dia, meu amor."
Eu, sem dúvidas, me derreti toda, antes de envolver meus braços em seu pescoço e beijar sua boca novamente.
"Bom dia, meu amor," falei antes de encaixar meu rosto em seu pescoço e me aproveitar do seu cheiro doce. Eu nunca me cansaria disso.
"Achei que você estaria cansada demais hoje de manhã," ela disse e eu posso ouvir a insinuação em sua voz, o que me fez rir abafado em sua pele.
"Pelo contrário, acordei revigorada," falei, deixando um beijo em seu pescoço, antes de me afastar para encarar seus olhos curiosos.
"É?" ela perguntou, buscando as palavras não ditas em meu rosto.
"Sim. Você quer saber uma verdade?" perguntei, acariciando sua nuca levemente, a fazendo fechar os olhos.
"Uhum," ela respondeu simplemente, me puxando ainda mais contra o seu corpo, parecendo de maneira instintiva.
Eu aproximei meu rosto do seu ouvido e deixei um beijo leve ali.
"Eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida," confessei em um sussuro. Não como um segredo, mas como uma verdade inegável.
Freen ia me responder, mas eu afastei nossos corpos antes que ela pudesse e fui em direção ao banheiro.
"Agora deixa eu ir me arrumar, porque aparentemente tenho vários livros para ler," falei antes de lhe lançar uma piscadela.
Só vi ela rindo e negando com a cabeça, antes de eu fechar a porta do banheiro.
O sorriso que eu vi estampado no meu rosto no espelho durante toda a minha rotina de higiente matinal, só era mais uma comprovação do que eu sentia bater firmemente em meu peito. Eu tinha encontrado meu lugar.
Notas da autora:
Bom dia, babes! Queria dar um mimozinho de domingo pra vocês.
Estamos nos encaminhando para o final da fic e quero mostrar onde cada uma chegou. Esse capítulo foi levezinho, porque agora a nossa B, se sente leve também.
Espero que gostem e até o próximo!
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People Change
FanfictionDez anos após a estréia de Gap e de um romance escondido, Freen e Becky são convidadas para um reencontro na mídia, mas a verdade é que ninguém sabe que elas não se falam há anos. Freen reconstruiu sua vida e montou uma família. Dez anos depois, Be...