POV FREEN
Que eu era uma boba apaixonada por Becky, eu já sabia há anos. Só nunca imaginei que poderia amá-la ainda mais a cada interação com Li. Eu não sei se era porque passei tanto tempo desejando ter ela ao meu lado e construindo a nossa família, ou se pelo jeito tão gentil e delicado com o que ela tratava minha filha. Provavelmente os dois, mas era impossível não observar as duas juntas e sentir meu coração acelerar como se quisesse sair do peito. Becky completava a minha felicidade de três e eu, no mais íntimo, sempre tive a certeza que assim seria. Eu sempre soube o que faltava, só precisei ser paciente o suficiente.
Havíamos terminado o sorvete e Becky havia se oferecido para lavar a louça, enquanto eu ajudava Li a tomar banho depois do estrago que havia feito em si com a sobremesa. Minha filha podia parecer uma mini adulta em certas atitudes suas, mas era extremamente desastrada. Acho que até isso ela havia puxado a mim.
Eu tentei negar a ajuda de Becky na cozinha, mas ela havia insistido que a culpa era dela da bagunça, porque ela quem tinha trazido o sorvete. Entramos em um pequeno embate que foi resolvido pela, aparentemente, pessoa mais madura do ambiente.
"Vamos logo tomar banho, mamãe, estou me sentindo grudenta e quero logo ler com Becky," Li interrompeu a minha leve discussão com Becky sobre os afazeres domésticos.
A atitude de Li mais uma vez fez com que eu e Becky ríssemos juntas, dessa vez concordado com a menina de que aquela conversa não daria em nada. Desse jeito eu fui até o banheiro com a minha filha, deixando Becky encarar a louça do jantar sozinha.
Confesso que queria observá-la. Por nenhum outro motivo senão curiosidade. Eu sabia que o tempo havia passado e as coisas haviam mudado, melhor exemplo do que a minha filha, a qual eu secava os cabelos no momento, não tinha. Porém, apesar de ter essa informação, era como se eu esquecesse dela sempre que estava com Becky. A presença de Rebecca fazia eu sentir como se o tempo tivesse congelado entre nosso último beijo anos atrás e agora. Era como se eu tivesse prendendo meu fôlego debaixo da água e agora pudesse, enfim, respirar de novo.
Terminei de arrumar Li e descemos juntas a escada para encontrar Becky cantarolando baixo, como se em seu próprio mundo, enquanto passava um pano sobre a mesa que havíamos usado. Ela parecia confortável, diferentemente do inicio da noite e eu quis decorar esse sentimento que me completava.
"Vamos ler, BecBec?" minha filha falou, a tirando de sua bolha, e fazendo com que ela virasse em nossa direção. Suas bochechas levemente coradas. Absolutamente linda.
"Sim, eu já terminei aqui," ela disse se direcionando a mim e me lançando uma piscadela.
Ela estava mais madura e independente do que eu lembrava, mesmo que ainda carregasse sua inocência e juventude nas pequenas ações. Sei que o tempo havia sido bruto com nós duas, cada uma do seu jeito, e que eu podia observar as consequências disso em pequenas nuâncias dessa nova Becky, mas era inegável que ela havia se tornado uma mulher maravilhosa.
Minha filha tomou Becky pela mão e a levou até a segunda sala, onde o sofá marrom havia sido testemunha dos nossos momentos mais íntimos até então. Beijos leves e carinhos de quem se redescobre depois de tanto tempo. Abraços saudosos e suspiros de alivio.
Na parede mais afastada da entrada da sala, havia uma estante repleta de livros dos mais diferente gêneros. A maioria tinham sido adquiridos no decorrer dos anos desde que eu havia me mudado para essa casa com Li depois do meu divórcio. Alguns eu trouxera comigo da casa que dividi com Rune e outros, ainda mais antigos e preciosos, haviam sido da mulher que agora esperava que Li selecionasse o livro da noite. Seus olhos curiosos passearam pela estante e eu vi o momento exato que ela encontrou o canto do móvel em que ficavam os livros que um dia foram seus.
Ela se virou em minha direção, parecendo levemente surpresa, mas nem tanto. Um sorriso de quem entende muito bem no rosto. Eu apenas dei de ombros, uma continuação para a nossa conversa muda. Ela me encarou por mais alguns segundos, pensativa, e eu sabia que continuaríamos aquela interação em algum momento.
Com o livro finalmente selecionado, Li puxou Becky pela mão novamente, a levando para uma poltrona confortável, na qual ela gostava de ler comigo. A poltrona era ideal para a leitura, pois dava um ótimo apoio para a coluna e reclinava com um lugar confortável para apoiar as pernas. Além de ser espaçosa o suficiente para caber o corpo pequeno de Li enroscado no meu. No caso de hoje, enroscado no de Becky.
Vi que Becky foi apenas seguindo os comandos da minha filha e pareceu um pouco surpresa com a posição que terminou na poltrona. Mas a surpresa durou pouco e um sorriso suave formou em seu rosto, ao mesmo tempo que ela tirou os cabelos que caiam sobre os olhos de Li e perguntou suavamente:
"Pronta?"
Para o que Li respondeu prontamente que sim. Antes de Becky abrir o livro, no entanto, ela me buscou com seus olhos e me viu no mesmo lugar de antes. Parada na entrada da sala, escorada no bantente.
"Você quer se juntar a nós, babe?" dessa vez ela frizou o apelido carinhoso, deixando clara a sua intenção de usá-lo. O sorriso sapeca nos lábios também a entregavam.
"Sim, mamãe," Li concordou imediatamente, me fazendo lembrar que minha filha também estava no ambiente e eu tinha que manter meus pensamentos no nível de inocência requeridos, mesmo que Rebecca tentasse fazer disso uma tarefa difícil.
Eu concordei com a cabeça, então, indo em direção ao nosso sofá, mas antes de poder me sentar nele, Becky falou mais uma vez:
"Tem espaço aqui," ela disse se referindo ao seu lado esquerdo, o qual não estava preenchido pelo pequeno corpo de Li.
"Vai ficar apertado," tentei protestar, mas o seu rosto pidão não me deixaria lhe negar nada, logo fui na direção das duas sem nem tentar protestar de novo.
Me sentei de maneira esquisita, com meu corpo de lado e desajeitado, no espaço que sobrava entre o braço da poltrona e o corpo de Becky, mas aparentemente ela não queria facilitar minha vida essa noite, pois envolveu seu braço esquerdo na minha cintura e me puxou de um jeito protetor para que eu me encaixasse em seu corpo também, da mesma maneira que Li havia feito tão livremente mais cedo.
Levantei meu rosto para encará-la e ela tinha um sorriso honesto e aberto em seu rosto, o que me fez relaxar finalmente. Ela parecia estar contente sendo o recheio daquele sanduíche inusitado e não seria eu quem iria reclamar. Me movimentei apenas para ajustar minha posição e encaixei meu rosto em seu pescoço, soltando um suspiro satisfeito. Becky pressionou seus dedos em reação na minha cintura, mas não falou nada.
"Começa, Becky," minha filha insistiu quando a demora foi demais pra ela, o que me fez rir e Becky levar o livro mais que depressa para apoiar sobre seu peito, usando o braço direito que envolvia o corpo pequeno de Li. Eu sabia que a posição não seria muito confortável para ela, então antes mesmo de ela tentar de maneira desastrosa segurar o livro com só uma mão, eu o tomei nas minhas e o posicionei de forma com que ela pudesse ler confortavelmente as letras.
Seu agradecimento veio em fora de uma pressão leve dos seus lábios no topo da minha cabeça, antes de ela começar em um tom calmo, porém determinado:
"Alice estava começando a ficar muito cansada de estar sentada ao lado de sua irmã..."
Fechei meus olhos, sentindo a vibração da voz de Becky ecoar por todo o meu corpo. O seu cheiro invadia o meu nariz, enquanto sua voz embalava minha imaginação para lugares maravilhosos. Mas de alguma forma, ali, nos braços do meu destino, compartilhando uma noite tranquila com os meus dois grandes amores, eu tinha certeza que não havia lugar mais fantástico.
Notas da autora:
Boa tarde, bebês.
Demorou, mas saiu.
Me desculpem qualquer erro. Eu to atrasada para a minha aula, mas não queria deixar vocês esperando mais.
Espero que gostem e até o próximo!
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People Change
FanficDez anos após a estréia de Gap e de um romance escondido, Freen e Becky são convidadas para um reencontro na mídia, mas a verdade é que ninguém sabe que elas não se falam há anos. Freen reconstruiu sua vida e montou uma família. Dez anos depois, Be...