47. Sorrisos

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POV FREEN

Retomar a minha relação com Becky era uma experiência que eu tentava aproveitar cada segundo. Um dos meus maiores arrependimentos em relação a primeira vez que ficamos juntas, tinha sido o fato de eu não ter valorizado o que tínhamos. Nos muitos anos de terapia, eu consegui entender que não havia sido culpa minha, mas sim da doença que me acompanhava, silenciosamente, mas perigosa o suficiente para me fazer tomar atitudes que não ressonavam com o que eu realmente sentia. Agora, eu queria fazer diferente. Agora eu queria ser presente, ser inteira, entregar a Becky as melhores partes de mim, porque ela merecia isso e muito mais.

Meus olhos deslizavam pelos traços delicados de Becky, que dormia tranquilamente ao meu lado. Sua feição demonstrava serenidade e o ritmo suave do subir e descer do seu peito, me embalava para um senso de paz, que somente a sua presença me causava.

Pela primeira vez, eu estava no quarto de Becky. Era o final da tarde de sábado e eu havia ido até a sua casa depois de sair de um almoço de trabalho. Aquela semana tinha sido particularmente cheia de trabalho para ambas, e eu estava morrendo de saudade do seu rostinho.

Lembrar disso me fez ter vontade de beijar seu pequeno nariz, e não conseguindo conter meus desejos em relação a Becky, deixei um beijo suave na ponta do mesmo. Becky franziu levemente o seu nariz, em uma expressão fofa, ainda embalada em seu sono, e se virou em minha direção, jogando seu braço direito sobre o meu corpo e buscando esconderijo em meu pescoço. Esse gesto, como todos os outros, fizeram meu peito aquecer e eu prontamente me ajeitei para começar um carinho em seus cabelos.

Cheguei na casa de Becky, sem avisar, mas me certificando via mensagem que ela estava em sua casa, perguntando o que ela estava fazendo. Ela me respondeu que estava terminando de almoçar e que pretendia ter uma tarde tranquila em casa, mas que se eu estivesse livre, ela queria muito me ver. Essa ultima informação me fez sorrir, mesmo eu já tendo conhecimento disso, afinal nossas mensagens e ligações durante essa semana tinham sido sempre cheias de confissões da saudade que sentíamos da presença física uma da outra.

O sorriso genuinamente feliz e levemente sapeca que desmanchou em seu rosto quando ela abriu a porta pra mim, fez eu me apaixonar novamente por ela. Alguns diriam que isso era impossível, mas não tinha outra forma de descrever o que ela me fazia sentir a cada reencontro.

Beijei muito aquele sorriso, tentando matar a saudade e depois de muitos carinhos e trocas de afeto, acabamos deitadas em sua cama para um cochilo. Para alguns, poderia ser um jeito estranho de passar nossos momentos juntas, mas a minha vida e a de Becky foram sempre tão corridas, que dormir no aconchego uma dos braços da outra, sempre foi algo que valorizamos muito. No passado, quando trabalhávamos juntas, e ainda hoje. Era reconfortante tê-la em meus braços ou estar envolvida nos seus.

Um beijo leve em meu pescoço me fez acordar dos meus pensamentos e sorrir aberto, continuando minhas carícias nos cabelos de Becky, fingindo nenhuma outra reação. Depois de alguns segundos, senti outro beijo em meu pescoço, mas dessa vez mais longo. Ela mantinha seu corpo parado e eu, mais uma vez, fingi que não havia sentido nada.

Mais um beijo em meu pescoço e mais uma vez, eu não reagi. Em seguida, senti a bufada de ar de frustração e quando ia rir da sua reação boba a minha provocação, senti a pressão dos seus dentes em meu pescoço.

"Rebecca!" falei, assustada, me afastando dela, com meus olhos arregalados. Já sentada na cama e com a mão no meu pescoço, no lugar onde ela havia mordido, a encarei com expressão de reprovação.

Becky me encarava deitada na cama, com seus cabelos curtos como uma cortina pelo travesseiro branco, com o mesmo sorriso sapeca de quando eu cheguei na sua casa, e qualquer sentimento de aborrecimento que eu podia estar sentindo, evaporou. Ela me ganhava fácil.

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