As minhas pernas tremiam como bambus. Eu não saberia dizer quantas vezes meu joelho direito havia colidido com a mesa todas as vezes que eu ouvia a porta do pequeno café abrir e fechar atrás de mim. Claro que eu tinha chegado quase uma hora antes no meu ponto te encontro com Freen, afinal eu não havia dormido nada na noite anterior e o meu corpo inteiro vibrava ansiedade.
A porta do café abriu mais uma vez e eu não sei dizer como, mas um sentimento de certeza se instalou em mim, e eu sabia que dessa vez era ela.
Fechei meus olhos, tentando controlar todas as emoções que percorriam meu corpo. Eu não a via pessoalmente faziam seis anos. Ela poderia ser uma pessoa completamente nova e esses sentimentos não fariam mais sentido, porque a pessoa pela qual eu os sentia já não existia. Esse era o fio de esperança em que eu me segurava para não surtar completamente.
"Oi, Becky," sua voz suave invadiu meus ouvidos e tive que me controlar para não soltar nenhum ruido que entregasse meus reais sentimentos.
Eu mais senti que ouvi ela se sentando a minha frente, enquanto me forcei a abrir meus olhos. Pela primeira vez em seis anos em eu estava de frente com seus olhos expressivos que se estreitavam nas pontas, não só pelas suas raízes asiáticas, mas pelo seu olhar intenso de concentração. O seu nariz pequeno e boleado e sua boca cheia e marcada me atingiam da mesma maneira que há muitos anos atrás. Freen continuava tão linda pessoalmente quanto eu a recordava.
"Freen," seu nome saiu como um desabafo dos meus lábios, fazendo um sorriso surgir em seu rosto.
"Becky," ela me respondeu em um tom mais seguro. Era clara sua felicidade em me ver. Isso fez com que meu peito voltasse a se agitar em um misto de alegria e incerteza. "Obrigada por vir," ela completou, levando a sua mão direita para tomar a minha esquerda que repousava na mesa entre a gente.
Meu olhar recaiu automaticamente sobre o seu toque quente em minha mão e eu tive que controlar o impulso de não puxar minha mão para mais perto de mim. Mais uma vez eu vivenciava a dualidade de querer seus toques e não saber o que fazer com os sentimentos que eles me causavam.
Me mantive calada porque não sabia o que dizer. Tudo ainda parecia uma espécie de sonho. Fazia tempos que eu tinha deixado de lado a esperança de tê-la mais uma vez na minha vida. Aquela era uma realidade que não me cabia mais. Freen era apenas um pensamento que visitava minha mente quando eu estava vulnerável o suficiente para permití-lo.
"Espero que não esteja esperando faz tempo," ela falou me tirando dos meus próprios pensamentos e me fazendo encarar seu rosto mais uma vez.
De forma mais consciente, tirei minha mão de debaixo da sua com delicadeza e balancei minha cabeça em positivo, mesmo sem concordar com nada.
"Não se preocupe," falei, me recuperando. "Você não me deixou esperando," a garanti. Afinal eu podia estar ali faziam horas, mas ela tinha sido pontual.
"Eu fico muito feliz que você tenha vindo, espero que não leve isso a mal, mas eu temi que você não aparecesse," ela disse e a insegurança em sua voz me surpreendeu.
Não me entenda mal, enquanto estávamos juntas, Freeen foi sempre aberta e vulnerável, ao ponto de eu ter certeza que meus sentimentos eram correspondidos. Mas esses eram em momentos raros, quando estávamos a sós. Perceber essa abertura em um ambiente estranho, depois de tanto tempo, me fez estranhar.
"Não se preocupe," me forcei a responder e a lançar um sorriso, que tenho certeza que pareceria forçado até para quem não me conhecesse.
Seus olhos pequenos se fixaram na minha boca e eu sabia que ela analisava o meu sorriso. Aí entendi que ela estava tão a flor da pele para as minhas reações a aquele reencontro quanto eu.
"Você não mudou nada," ela disse, voltando a levar seus olhos aos meus, como se tivesse concluído a sua análise e tivesse gostado dos resultados.
Eu tentei sorrir pelas suas palavras, mas honestamente eu não consegui, afinal eu realmente não havia mudado nada. Desde que ela havia entrado novamente em minha órbita, tinha ficado claro que eu ainda a amava da mesma maneira.
"Eu mudei alguma coisa," respondi em uma voz baixa, desviando nossos olhares.
"Claro, me desculpe, eu não quis dizer nada com isso," ela falou parecendo arrependida.
"Não se preocupe, eu entendi o que você quis dizer," tentei garantí-la.
"Me desculpe se eu forcei esse encontro," ela recomeçou, ainda hesitante em seu jeito de falar. "Eu entendo que você queria se afastar anos atrás, mas pensei que talvez o convite do Saint tenha saído na hora certa para nos reunirmos novamente."
O seu tom de voz era calmo e gentil e eu percebia a verdade nele. Ela realmente parecia acreditar que já tínhamos passado tempo o suficiente afastadas para mantermos um contato normal. Além disso, parecia que ela almejava esse contato tanto quanto eu. Mesmo que eu não admitisse para mim mesma esse fato.
"Não é sua culpa, então você não precisa se desculpar," respondi. "E sobre o reencontro, eu vou ser honesta e dizer que ainda não tenho certeza," falei.
"Hum..." sua voz saiu mais baixa ainda. "Você queria me ver?"
A insegurança em sua voz me fez querer mudar a minha atitude em relação a aquele encontro, mas honestamente eu não tinha total controle sobre mim, aquele reencontro exigia tanto de mim que eu não sabia descrever meus limites.
"Não me leve a mal, mas eu não sei," respondi.
"Eu odeio o jeito que a gente se afastou," ela disse.
"Eu também," respondi. "Mas infelizmente, ainda acho que foi o certo a se fazer."
Notas da autora:
Veio aí o primeiro encontro Freenbecky. O que sairia dessa reunião?
Obrigada por ler. Até o próximo!
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People Change
FanfictionDez anos após a estréia de Gap e de um romance escondido, Freen e Becky são convidadas para um reencontro na mídia, mas a verdade é que ninguém sabe que elas não se falam há anos. Freen reconstruiu sua vida e montou uma família. Dez anos depois, Be...