Mais uma vez a minha relação com Freen havia mudado. Em um pouco mais de dois meses, havíamos passado de ex companheiras que não se falavam para aquelas que trocam mensagens, que têm encontros casuais, para o completo silêncio e agora a fase atual: inserção total nas nossas rotinas.
Parecia que a nossa última conversa havia aberto as portas para o passado e Freen estava se recolocando na minha vida da mesma maneira que ela havia entrado há muitos anos atrás: intensamente e completamente. Apesar de aquilo me confundir, eu não podia negar que eu amava cada segundo que passávamos juntas, afinal não era a toa que eu havia desenvolvido sentimentos tão intensos e duradouros por essa mulher, ela conseguia me encantar novamente a cada dia que passava. Eu sentia que eu estava caminhando para um limbo, mas como uma completa viciada, eu não conseguia me restringir. Freen era a minha droga.
Nossas interações eram puramente platônicas, no entanto. Era como se eu e ela tivéssemos entrado em um acordo mútuo e mudo que essa era uma linha que não estávamos dispostas a passar. Mas a verdade era que apesar de o envolvimento físico ter feito sim parte de grandes momentos nossos no passado, o que nos conectava era muito maior que isso. Eu não vou mentir que senti a falta da maciez da sua pele e do cheiro doce que era único seu. Que não tiveram noites nesses anos, que eu não me pegava pensando em como tocá-la e tê-la me tocando de volta tinha sido uma das melhores experiências da minha vida. Porque para mim, com a Freen, nunca foi apenas físico, era algo a mais. Algo inexplicável e, pelo menos até esse momento da minha vida, irreplicável.
Haviam tido algumas vezes nessas ultimas semanas, que Freen havia tentado introduzir uma conversa ou outra sobre o nosso passado, assunto esse que eu fugia como se fugisse da cruz. Mas todas as vezes, eu a havia interrompido. Não era como se eu não quisesse uma explicação, ou achasse que poderíamos ficar nesse espaço entre o saber e o não saber por muito tempo, eu apenas queria mais tempo. Era como se quisesse preservar as lembranças em uma doma de vidro: intocáveis, imutáveis.
Foi numa dessas suas várias tentativas, que senti que meu tempo estava acabando. Freen parecia que estava chegando no seu limite em aceitar as minhas interrupções e trocas de assunto toda vez que ela trazia este tópico a tona.
"Por quê você sempre faz isso?" ela questionou em frustração, depois que eu simplesmente fingi que não havia ouvido a sua pergunta.
Estávamos, nesse momento, na cozinha da minha casa. Ela preparava alguma coisa no fogão – que estava recebendo bastante atenção essas semanas – enquanto eu fazia companhia a ela, sentada no balcão da cozinha, escrevendo coisas aleatórias no meu caderno de música.
"Isso o que?" me fiz de boba, tentando relaxar meu corpo para ele não mostrar quão tensa eu realmente estava. Essa foi a primeira vez que ela me questionou algo nas minhas táticas de evasão.
O silêncio era tamanho que ouvi quando ela desligou o fogo e suspirou pesado.
"Você não vai conseguir isso dessa vez," ela respondeu em um tom de voz baixo, paciente, porém assertivo. "A gente precisa ter essa conversa, Becky."
O seu toque gentil em meu braço, me fez pular no banco e me desequilibrar no mesmo, quase tombando para o chão. Eu não tinha percebido que ela tinha se aproximado tanto.
"Desculpa, eu não queria te assustar," ela falou, preocupada, retirando sua mão do meu braço.
"Não, eu... Eu só não vi você tão próxima," falei, clareando minha garganta.
"Eu não quis te pegar de surpresa, me desculpe," ela continuou. Eu não queríamos que entrássemos num ciclo de desculpas sem fim, mesmo que tudo em mim gritasse que era a melhor maneira de evitar o assunto anterior.
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People Change
FanfictionDez anos após a estréia de Gap e de um romance escondido, Freen e Becky são convidadas para um reencontro na mídia, mas a verdade é que ninguém sabe que elas não se falam há anos. Freen reconstruiu sua vida e montou uma família. Dez anos depois, Be...