60. Nojentas

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POV FREEN

O aroma familiar de mariscos cozinhando na churrasqueira era espalhado pelo jardim através da brisa leve que fazia naquele dia agradavelmente fresco. O sol brilhava forte no céu, mas as sombras das muitas plantas do meu jardim proviam uma sombra confortável para os dois corpos deitados sobre uma toalha na grama.

Os murmurinhos e risadas das duas eram a trilha sonora perfeita para me acompanhar enquanto eu virava os camarões na grelha, com um sorriso que havia se tornado permanente em meu rosto.

Terminei de virar todos os mariscos para que pudessem cozinhar de maneira uniforme, e larguei o utensílio que usava sobre um prato na mesa ao lado da churrasqueira. Fui até a mesa e terminei de arrumar os acompanhamentos que havia trago mais cedo, assim como os pratos e talheres. A voz de Li soava alto o suficiente para eu ouvir algumas partes da história que ela lia, mesmo daquela distância, e aquele sentimento de orgulho que eu achei que diminuiria com o tempo, se mantinha forte em meu peito.

"Você já está lendo tão melhor que eu, pequena," ouvi Becky dizendo em seu tom de voz que eu havia reconhecido como seu tom de voz particular para Li.

"Você acha mesmo, BecBec?" minha filha perguntou, em um seu tom de voz esperançoso. Meus olhos foram automaticamente atraídos para a cena a alguns metros de mim. Li encarava Becky com olhos de admiração.

Becky tinha seu corpo esticado na toalha sobre a grama, com um dos seus braços dobrados atrás de sua cabeça, servindo de suporte, enquanto sua outra mão acariciava gentilmente o cabelo de minha filha, que estava deitada perpendicularmente ao corpo de minha namorada, com a cabeça em sua barriga. Li tinha o livro aberto entre suas mãos pequenas, enquanto suportava o peso dele sobre seu pequeno corpo. Agora, com 6 anos de idade e alguns meses, Li já lia textos grande com maestria. Isso se dava muito por cenas como essa, corriqueiras nos quase três anos de relacionamentos dela e de Becky.

"Mas é claro, bebê. Você, com certeza, é a minha leitora favorita," Becky respondeu facilmente, tirando sua mão do cabelo de Li para deslizar gentilmente por sua testa e toda a extensão do seu nariz, para finalizar com uma batidinha na ponta do mesmo. O sorriso desdentado que surgiu no rosto de Li foi instantâneo. "Mas acho que está na hora de dar uma pausa..." Becky disse, me fazendo encará-la e perceber seus olhos agora em mim. "Acho que está na hora de tirar nossas bundas preguiçosas da grama e ir ajudar sua mãe com o almoço, não acha?"

Li reclamou um pouco, mas acabou concordando, fechando o livro e se levantando de maneira preguiçosa. Becky fez o mesmo em seguida, pegando o livro e a toalha em suas mãos. 

Minha filha veio correndo em minha direção, me contando empolgadamente sobre tudo o que havia acontecido na história. Como se eu não tivesse acompanhando a leitura das duas, fingi empolgação com cada nova informação que me era apresentada.

Quando Becky, enfim se aproximou de nós duas, ela deixou a toalha dobrada e o livro sobre um banco antes de envolver seus braços na minha cintura e deixar um beijo casto em meu maxilar.

"Precisa de ajuda, babe?" ela perguntou em tom baixo, enquanto Li continuava com seu monólogo, sem mesmo ligar para nós duas.

Virei meu rosto para o lado, para que sua boca pudesse alcançar a minha e ela entendeu, beijando meus lábios levemente.

"Isso era o que eu precisava," respondi, fazendo-a sorrir daquela sua maneira jovial e apertar ainda mais meu corpo em seus braços.

"O amor é nojento," Li falou de repente, fazendo com que ambas olhássemos em sua direção, percebendo que ela tinha terminado de falar sobre o livro e agora fazia uma careta em nossa direção.

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