38. Resistência

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POV BECKY

Comemos os nossos lanches assim que chegamos na casa de Freen e em poucos minutos já estávamos no sofá, aproveitando restante do tempo que eu teria até ter que voltar para o estúdio. O sentimento de estranheza com a presença de Aran completamente esquecida, enquanto os dedos pequenos de Freen passavam pelas mexas dos meus cabelos, arranhando levemente meu couro cabeludo. Dessa vez eu estava em seus braços e aproveitava seu cafuné, que era o meu carinho predileto.

"Você vai trabalhar até tarde hoje?" Freen perguntou, cortando o silêncio que preservávamos fazia alguns minutos. Confesso que demorei um tempo para racionalizar suas palavras, pois estava no limbo entre o sonho e o desperto.

"Até umas 18:00, acredito," respondi, me ajeitando um pouco em seus braços, encaixando ainda mais meu rosto em seu pescoço. Ela soltou um murmúrio de aprovação a minha nova posição.

"Se você não for estar muito cansada, você queria vir jantar aqui?" ela perguntou de maneira tímida, depois de mais um tempo em silêncio.

"Você não vai enjoar de mim?" brinquei, deixando um beijo em seu pescoço, sem nem precisar me mover de tão próximas que estávamos.

"Acho que vai precisar muito mais que um almoço e um jantar para eu enjoar de você," ela respondeu, me apertando um pouco mais forte em seus braços.

"E você vai cozinhar de novo para mim?" perguntei, imaginando ela se movendo na cozinha em uma atividade tão rotineira quanto o preparo de um jantar e senti meu coração acelerar. Por tanto tempo, tudo o que eu mais queria era isso. Ter algo sólido com Freen, saber onde iríamos chegar. Viver o dia a dia, as coisas boas e ruins. Era até surreal saber o quanto eu queria isso durante todos esses anos e saber que eu estava vivendo isso. 

"O que você quiser," ela prometeu, deixando um beijo em minha testa.

"Então eu estarei aqui," confirmei, voltando a fechar meus olhos, ainda sem acreditar no quanto eu era sortuda. 

Tivemos que sair mais uma vez do sofá de Freen e nos separar. Ela me levou até o estúdio na hora correta. Não podíamos nos despedir do jeito que queríamos ali, então tínhamos feito na casa dela. Ela apenas pressionou seus dedos em minha coxa e me desejou um bom trabalho, dizendo que me esperaria com Li pela noite. 

Entrei no estúdio me sentindo leve e inspirada, a sala estava como eu havia visto antes de sair com Freen, mas dessa vez eu me sentia leve. Nem os olhos curiosos e sofridos de Aran conseguiram perfurar a áurea de felicidade que me cercava. Me doía sua dor, mas Freen era meu destino, eu sentia isso em todo o meu corpo desde o momento que a conheci. 

Me sentei mais afastada dos meus colegas depois de cumprimentá-los e meus dedos percorreram pelas teclas do piano, formando uma melodia que combina exatamente como eu sentia. Era calma e melodiosa, como as batidas do meu coração relaxando sobre o corpo pequeno. Apesar do tempo compassado, era alegre e animada, diferente de todas as canções que meu coração compôs durante tanto tempo. E no final, com meus olhos fechados, enquanto meus dedos dançavam pelas teclas, eu não me sentia como se fizesse um desabafo ou uma confissão. Era como se, enfim, eu parasse de de escrever sobre o que tinha sido e voltava a ser capaz de sonhar com o que viria. Me sentia como um autor, que ainda não sabe muito bem o rumo da história, mas está contente em apenas deixar os sentimentos o guiarem pelas páginas, porque sabe que essa é a melhor maneira de escrever uma história.

Eu me perdi no meu próprio momento e quando abri meus olhos, percebi que todos os meus colegas me encaravam. Me espantei com a atenção, até que eles começaram a bater palmas, me fazendo sentir super tímida.

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