POV FREEN
Quase um mês havia passado desde que Becky havia decidido enfim buscar ajuda profissional. Ela estava tendo duas sessões por semana e o processo de adaptação varia bastante. Tinham momentos que ela ficava ainda mais retraída e reflexiva, assim como tinham momentos que ela se tornava mais apegada e até carente, o que era fofo. Eu dava seu espaço quando ela assim queria e a acolhia em meus braços quando ela não queria largar do meu corpo.
Por conta desse processo, ela estava ficando cada vez mais dias e noites em casa. Quando ela queria ficar sozinha, ela desaparecia alguns dias na sua casa, mas esses momentos pareciam cada vez mais contados. Acho que ela estava começando a trabalhar dentro de si, o que a motivava a querer se retrair em si e o que ela precisava para sair desse casulo e se abrir para o mundo. Ou talvez não para o mundo, porque ela sempre foi reservada, mas talvez para as pessoas que a amavam.
Eu via suas pequenas mudanças como uma espectadora, me orgulhando das suas conquistas e contente de poder compartilhá-las com ela. Não podíamos reaver o tempo que havíamos perdido, mas a cada novo passo que dávamos juntas, eu sentia as feridas do passado sendo curadas. Tudo acontece por um motivo e tudo aconteceu como tinha que acontecer.
Uma das provas disso, foi uma noite quando cheguei em casa, cansada de um dia cheio de reuniões e entrevistas e encontrei a minha casa aparentemente vazia. Meu rosto retorceu em confusão ao deixar minha bolsa e casaco no sofá e tirar meus sapatos desconfortáveis. Becky havia ficado de receber Li em casa quando Rune viesse trazê-la. Era incomum eu trabalhar até tarde, mas infelizmente tinham alguns programas de televisão na época de promoção dos meus trabalhos, que tornavam isso inevitável.
O carro de Becky estava estacionado na garagem, então não tinha como elas terem saído e eu sabia que se tivessem feito, Becky teria me avisado, logo imaginei que deveria procurá-las pela casa que assim as encontraria. Caminhei até a cozinha e aproveitei para me servir de um copo de água. Estava no último gole quando ouvi de longe uma melodia. Deixando o copo na pia, decidi seguir o som.
Quando cheguei na varanda de trás de casa, vi que a melodia vinha de Becky dedilhando tranquilamente o seu violão. Ela estava sentada no chão, com as pernas cruzadas e o violão em seu colo. Li espelhava a sua pose, sentada a sua frente, olhando curiosa para o instrumento. Elas costumavam compartilhar seus amores pela leitura, mas essa era a primeira vez que eu as via compartilhando seus sentimentos pela música, afinal era outra coisa que tinham em comum. Becky sempre foi apaixonada por música, logo não me espantou quando ela decidiu seguir sua carreira musical em detrimento da atuação. E Li, em parte por influência minha, e indiretamente de Becky, cresceu ao redor da música, logo era uma das suas paixões.
Um sorriso relaxado se formou em meus lábios enquanto eu as observada de longe. Li parecia questionar algumas coisas e Becky respondia imediatamente. Me aproximei mais das duas, no intuito de ouvir o que falavam, mas tentando não ser vista. Ainda não estava pronta para interromper aquele momento delas.
"Tocar violão é difícil, Becbec?" minha filha perguntou, colocando sua mão de maneira curiosa sobre os dedos de Becky que pressionavam as cordas formando o acorde.
"No início sim, pequena. Demora um pouco para nos acostumarmos com as posições dos dedos e as cordas podem machucar um pouco," ela disse ao mesmo tempo que pegou a mão de Li, que antes repousava sobre a sua, para posicionar seus dedos sobre as cordas. "Isso é um Lá menor."
A posição era estranha, mas Li pressionou seus dois dedos no lugar onde Becky os havia posicionado, enquanto Becky usou sua outra mão para tocar a nota. Claro que saiu abafada e imperfeita, mas foi o suficiente para fazer Li soltar uma risada aguda e alta, fazendo eu e Becky sorrirmos ao mesmo tempo em resposta.
"Eu toquei, Becky!" minha filha falou animada.
"Tocou, bebê," Becky respondeu, passando sua mão livre pelos cabelos que caíam no rosto de Li por conta dos seus movimentos afobados. Seu cabelo era parecido com o meu, mas ela tinha uma franjinha que claramente já estava na hora de ser aparada.
"Canta uma música pra mim, Becky?" minha filha pediu no seu jeito mais manhoso e eu sabia, que mesmo que Becky tivesse intenção de dizer não (o que ela não faria), ela não teria coragem.
"O que você quiser, bebê," Becky respondeu, lhe lançando uma piscadinha e voltando a dedilhar levemente sobre as cordas, esperando o pedido da menina.
"Qual a sua música favorita?" Li perguntou.
"Daylight da Taylor Swift e a sua?"
"Eu já lhe falei, Becky, é a do mar!" minha filha falou revirando os olhos e rindo ao mesmo tempo.
"Ah, é verdade, pequena, me desculpe," Becky respondeu, como se tivesse cometido um grande equívoco. "Você quer que eu toque essa?" ela perguntou, já começando a tocar a melodia inicial da música tão conhecida por mim e Li.
"Por que você não canta a favorita da mamãe?" Li sugeriu, no entanto.
"Oh, e qual seria a favorita da sua mãe?" Becky perguntou, parecendo genuinamente curiosa. Isso me fez corar e pensar em interromper a conversa, mas decidi contra. Queria ver como isso terminaria.
"Ela sempre disse que todas as suas eram as favoritas dela," minha filha respondeu, já entendendo que a tão famosa Becky, que havia ouvido tantas músicas, era a mesma mulher a sua frente.
"Todas, huh?" Becky falou, parecendo divertida, e negando com a cabeça ao mesmo tempo. Isso fez com que o meu coração acelerasse em meu peito. Ela nunca me ouviria negando que eu era sua a maior fã.
Eu observei quando Becky se posicionou melhor antes de voltar sua atenção para o instrumento em suas mãos. A melodia que saiu dele me fez perder o ar por alguns segundos, porque apesar de já fazer meses que estávamos juntas novamente, faziam anos que eu não a via cantar assim tão perto.
"Of all the words, my name in your lips is my favorite," ela começou. "Your soft-spoken declaration of devotion. Like I was the chosen one, like I was the brighter one, the only one..."
(De todas as palavras do mundo, o meu nome em seus lábios é a minha favorita. Sua declaração de devoção em falas doces. Como seu eu fosse a escolhida, a mais brilhante, a única.)
Suas mão continuaram a tocar a melodia daquela música tão conhecia por mim, quando decidi sair do meu esconderijo e finalmente expor a minha presença ali. Becky não parou de tocar, no entanto, apenas segurou o meu olhar no seu, enquanto continuou cantando:
"Of all the hard choices I made, you are my favorite (De todas as escolhas mais difíceis que eu fiz, você é a minha favorita)
My do-or-die declaration of devotion (Minha fazer ou morrer declaração de devoção)
Like you're the best one (Como se você fosse a melhor)
Like you're the dreamed one (Come se você fosse a sonhada)
The only one... (A única.)"
Notas da autora:
Boa noite, bebês. Como estamos?
Esse não saiu como eu esperava, mas tudo bem, acontece. Espero que gostem mesmo assim.
A fic tá chegando em sua reta final. Tem algumas coisas que eu quero fazer antes que ela termine, mas estou aberta às sugestões de vocês também. Fiquem a vontade para deixar aqui o que vocês ainda querem ver, que farei o meu melhor para encaixar o que for possível dentro dos meus planos para o final.
E é isso. Até o próximo!
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People Change
FanfictionDez anos após a estréia de Gap e de um romance escondido, Freen e Becky são convidadas para um reencontro na mídia, mas a verdade é que ninguém sabe que elas não se falam há anos. Freen reconstruiu sua vida e montou uma família. Dez anos depois, Be...