3. Ponto final

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Balancei minha cabeça, tentando evitar os pensamentos do passado e voltei a encarar meu irmão, que me olhava ainda mais preocupado.

"Becky..." ele começou, mas eu o interrompi.

"Se você vai me perguntar o que eu pretendo fazer, eu não sei. Eu não sei o que fazer," falei me levantando da cadeira e tentando aliviar minhas frustrações andando de um lado para o outro. "Primeiro eu recebo um e-mail da minha agente, que acaba sendo um convite do Saint para um reencontro Freenbecky," falei rindo do absurdo daquelas palavras saindo da minha boca depois de tantos anos.

"E depois a Freen lhe mandou mensagens? Você sabe como ela conseguiu seu número?" meu irmão perguntou, me fazendo parar minha caminhada frenética.

"Não faço ideia," respondi voltando a me sentar na cadeira, só que dessa vez praticamente jogada sobre ela. Ainda não eram nem 9h da manhã e eu já me sentia exausta.

"Talvez ela já o tivesse faz muito tempo, mas só agora teve coragem de lhe mandar mensagem," meu irmão falou em um tom baixo, como se pensando alto e para si mesmo, o que me fez encará-lo em ar de questionamento.

"Você sabe algo que eu não sei, Richie?" perguntei com um tanto de acusação no meu tom de voz, afinal sua reação foi o suficiente para eu saber que ele tinha sim alguma culpa no cartório. "Conta o que você sabe," exigi. Ele sabia que havia sido descoberto.

"Não é o que você está pensando," ele tratou de me garantir, sentando no braço do sofá que ocupava o canto aposto da minha mesa no pequeno escritório. "Você sabe que eu ainda falo às vezes com eh..." ele hesitou, como se pensando em como chamá-los. "Seus antigos colegas da Idol Factory."

Essa era a maneira que ele havia escolhido para me lembrar que apesar dos anos, e da minha decisão em me afastar de tudo e todos daquele tempo, Richie ainda mantinha contato com Freen, Nam, Heng e alguns outros. Eu não interferia nisso, nunca o faria, contanto que ele soubesse evitar esse assunto perto de mim.

"Okay," eu falei em um só suspiro. Esperando com antecipação o restante que ele tinha para falar.

"Honestamente Becky, faz alguns anos que Freen tem seu contato novo," Richie decidiu que era melhor ser direto no que tinha para me dizer.

Suas palavras foram como um soco no meu estômago. Mais porque eu não sabia exatamente como tratar essa informação. Eu achei que estava evitando todos há anos mudando minhas informações, mesmo sabendo que eles poderiam obtê-las de uma forma ou outra caso as quisessem. Eu nunca havia parado para pensar se tinha sido do interesse deles fazerem isso. Não depois de todos os obstáculos que eu criei tentando me afastar de todos.

Freen tinha meu número fazia anos. Fazia anos e ela decidiu apenas me contatar agora. Somente depois do convite de Saint. Ok.

Ok.

"Então isso tudo tem a ver com o convite do Saint," falei me sentando com mais segurança na cadeira, colocando enfim meus sentimentos e pensamentos em ordem.

Como se prevendo o que estava passando na minha cabeça, meu irmão se levantou do seu lugar no sofá.

"Não, Becky, eu não estou dizendo isso..."

"Mas é isso, Richie. Se ela tem meu número faz anos e decidiu me contatar agora, a única coisa de diferente nas nossas vidas foi o convite de Saint," falei com uma certeza que fez meu irmão voltar a sentar no sofá, parecendo frustrado.

"A gente não sabe disso, Becky," eu o encarei de um jeito que o fez levantar suas mãos em rendição. "Ok, ok. O seu argumento tem um ponto, mas eu duvido que tenha sido apenas isso," ele frizou a palavra "apenas". "Talvez o convite só tenha servido para dar a ela coragem para fazer algo que ela já queria há muito tempo."

"E isso me ajuda com o que, Richie?" falei passando meus dedos pelos meus cabelos. Me sentia frustrada, pois essa situação trazia a tona todos esses sentimentos que há muito tempo eu havia guardado a sete chaves em um lugar dentro de mim.

"Você deveria encontrá-la," suas palavras me fizeram olhar para ele bruscamente.

"Você está louco? Estou há anos tentando evitá-la, para o que? Ir correndo até ela na primeira mensagem que ela me envia?" falei me levantando e indo arrumar uma bagunça não existente sobre a minha mesa.

"Já está na hora, Becky. Você não acha? Já se passaram o que? Cinco anos?"

"Seis," respondi sem encará-lo. "Mas ainda não parece o suficiente, Richie," falei sentindo as lágrimas se formarem mais uma vez nos meus olhos. "Desde que eu recebi esse e-mail parece que tudo veio a tona novamente," senti a mão do meu irmão no meu ombro e me virei para encará-lo. Ele que me olhava com olhos gentis e acolhedores.

"Eu pensei que você estava melhor depois do Aran," Richie falou se referindo a minha nova tentativa em romance. Um músico que eu havia conhecido no trabalho há alguns meses.

"Aran é uma ótima pessoa e a gente se dá bem, mas..." virei meu rosto, porque tinha vergonha em admitir que apesar dos seis anos e das algumas tentativas em romance, nenhum ou nenhuma era ela. Nem de perto.

"Mas não é a Freen," meu irmão completou pra mim, me fazendo finalmente deixar as lágrimas rolarem livremente em meu rosto.

Eu não era assim. Mesmo tendo decidido viver uma vida mais pacata, eu não passava meus dias chorando ou suspirando e lamentando pelo o que não tinha acontecido.

Eu poderia não ter conseguido mais encontrar alguém que me fizesse sentir do mesmo jeito que ela havia me feito sentir, mas eu era feliz de uma forma diferente. Era mais uma espécie de contentamento que aquela felicidade em êxtase, mas era o suficiente para mim. Afinal isso é normal, não? A felicidade se vive em momentos, certo?

E ok, a minha família se preocupava porque eu preferia estar só do que rodeada de gente como um dia eu já preferi, mas isso era uma escolha. Eu tinha amigos que via algumas vezes no mês, e eu estava no início de uma tentativa de romance e também tinha meus trabalhos. A minha vida não era resumida em sofrimento pelo o que tinha acontecido entre eu e Freen.

Mas foi apenas um dia, um e-mail e algumas mensagens para tudo aquilo desmoronar. Como isso era possível? Como depois de tanto tempo ela ainda tinha esse controle sobre mim? Seria sempre assim?

Só se você permitir. Foi a minha resposta para mim mesma.

"Eu não quero mais viver assim, Richie. Eu vou encontrá-la. Eu vou encontrar Freen e pôr um ponto final nisso de uma vez por todas."

Notas da autora:

Até o momento acho que toda a história vai ser no Pov da Becky, mas isso pode mudar.

Juro que vai ser drama, mas vai ter romance. Pra quem já leu o que eu escrevo, sabe que sou trouxa por um romance.

É isso. Por hoje é só. Espero que estejam gostando. Até o próximo!

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