24| Jantar

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O homem abre uma porta, e me olha. Ele apenas me indica o cômodo com a cabeça, mas como não me mexo, ele bufa impaciente.

ㅡ Entre!

Fecho a cara, e passo por ele sem o olhar. Ao entrar, percebo que é uma enorme sala de jantar. Observo as janelas de vidro, as paredes bem projetadas e o chão brilhando como um brinco.

Eu estava distraída nisso, até ser interrompida por uma voz não muito distante.

ㅡ Vai ficar aí olhando?

Caspian não está me olhando, muito pelo contrário, parece fazer pouco caso da minha presença. Ele tem um jornal aberto em mãos, onde seus olhos estão fixos.

Ele se senta na ponta da mesa, com algumas bebidas já servidas ao seu redor. O vejo levar a taça ao lábios, e depois sacudir o jornal ao virar a folha.

ㅡ O que quer que eu faça? ㅡ pergunto aparentando estar entediada com os joguinhos dele, mas no fundo eu estava me tremendo de medo.

Seus olhos desgrudam no jornal e pousam em mim. Sinto como se uma faca bem afiada fosse posta em meu pescoço, porque era essa a sensação de ter aqueles olhos dourados me vigiando.

Porra, porque ele tinha que ser tão intimidador?!

ㅡ Sente e coma.ㅡ diz isso como se fosse o óbvio e volta o olhar para o papel.

Ergo as duas sobrancelhas, e abro a boca em completa incredulidade. Isso estava me matando por dentro! Eu quero muito entender o que se passava na cabeça dele agora.

ㅡ Me sentar aí com você? É comer com um lobo ao lado. ㅡ tento controlar minha irritabilidade. Nunca desejei tanto esganar alguém dessa forma.

Um simples sorrisinho de canto, é o que recebo como resposta. Um sorrisinho que valia mais que mil palavras não ditas, palavras essas que eu preferia não ouvir.

Dou um passo devagar, e depois mais outro. Observo o local, vendo que não havia nenhum guarda aqui.
Ao voltar meus olhos para Caspian, percebo o quanto ele ê novo demais para estar lendo um jornal... Ou será que ele realmente se interessava por isso?

Era estranho. Ou será que isso era apenas mais uma forma de dizer "não preciso pôr meu olhos em você para que eu a vigie. Não me sinto ameaçado por você". Um completo desdém.

Trinco o maxilar e me obrigo à ir até a cadeira vazia. Um pouco distante dele, mas ainda perto demais para mim.

ㅡ Qual a garantia de que isso não esteja envenenado? ㅡ pergunto, sem nenhum humor. Aquilo realmente era uma dúvida que me preocupava.

Ele fecha o jornal devagar, e o dobra enquanto diz:

ㅡ Se eu quisesse a matar, já teria o feito. ㅡ sua voz parece fazer meus ossos sacudirem.ㅡ E eu não costumo gostar de mortes tão rápidas e simples quanto um envenenamento.

ㅡ Rápida? ㅡ ignoro meu tremor.ㅡ Acha que um troço que acaba com os órgãos de uma pessoa com apenas uma dosagem é algo simples ?

Eu acho.ㅡ dá de ombro, e se apoia nos cotovelos para me encarar.ㅡ Qual você sugeria?

Sinto meu corpo entrar em alerta.

ㅡ Como? ㅡ pergunto.

ㅡ Qual é a mais dolorosa para você? ㅡ pergunta, calmamente.

Tenho que piscar várias vezes para processar o que ele acabara de me dizer. Uma moça entra, me servindo da comida ainda quente e logo sai.
Caspian parece esperar a minha resposta.

ㅡ Acha mesmo que eu o diria? ㅡ arqueeio uma sobrancelha.

Ele sorri aos poucos e desvia o olhar relaxado para outro ponto. Caspian se encosta no estofado da cadeira, tamborilando os dedos na mesa.

ㅡ Acredito que seja o esfolamento.ㅡ começa, fazendo meus olhos irem até ele.ㅡ Um técnica muito comum onde a pele do indivíduo é retirada por completo e...

Sinto meu estômago pesar.

ㅡ Para.ㅡ o interrompo.ㅡ Não vou conseguir colocar nada para dentro com você me falando sobre técnicas dolorosas de matar um ser humano.

Ele me olha por alguns segundos, antes de assentir com a cabeça, parecendo guardar para si os divertimentos em seus olhos brilhantes agora.

Engulo em seco e olho para o prato já posto em minha frente. Pego o garfo ainda cautelosa, e isso faz Caspian rir.

ㅡ Lhe garanto que não está envenenada.ㅡ diz parecendo se animar com minha hesitação. ㅡ Posso ir aí e provar, caso queira...

O olho feio.

ㅡ Não, valeu.ㅡ olho de volta para meu prato e enfio uma garfada na boca.

O sabor da comida quentinha logo atingir meus sentidos, me fazendo esquecer o homem ao meu lado. Fazia um bom tempo que eu não comia algo decente.

Embora eu odiasse comer com alguém me olhando, como tudo sem me importar. Caspian volta a ler seu jornal, mas sinto que ele nem presta a atenção no mesmo. Estava parecendo que eu era o seu divertimento ali... Como seu eu estivesse ali apenas para o entreter.

E isso só se confirmou conforme o tempo ia passando. Assim que terminei, ele se levantou e disse:

ㅡ Espero que esteja satisfeita, agora pode ir.

Não questiono. Ao menos eu estava sim satisfeita. Levanto e me viro sem me despedir dele. Caspian não merecia minha cortesia, e de alguma forma, pensei que ele fosse me repreender por tamanha falta de educação; mas não. Saí sem olhar para trás, de volta ao pequeno quarto de May.

Meu Doce Vilão (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora