29| Posição fetal

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Não dormi. Em nenhum momento.

Meu corpo estava tenso, assim como minha mente andava barulhenta. Nem mesmo consegui me mexer da posição fetal a qual deitei.
Engulo em seco, observando o dia clarear. May dorme como uma pedra em sua cama, alheia ao que se passava em minha mente.

Me sento na cama, exausta de ter que ficar ali, e de ter que lidar com o barulho do tiro ainda ressoando em meus ouvidos. Sinto a algema gelada em meu pulso, e suspiro, respirando fundo.
Encosto minhas costas na parede, e olho para minha mão presa à cabeceira de madeira.

Encaro o escuro. Havia um grilo insuportável do lado de fora. Parecia que o som de sua cantoria ecoava em meu crânio, fazendo meus olhos doerem.

Fecho os olhos e encosto minha cabeça na parede.

Merda, merda!

Eu só queria ir embora. Eu só queria estar ao lado de Thai; das minhas amigas!

Meu nariz arde, e sinto as lágrimas rolarem por minhas bochechas como ferro quente marcando o lugar por onde passavam. Eu não sabia o que havia feito para merecer tanta desgraça, mas estava nítido que o destino me odiava.

Fungo, sentindo um zumbido crescente em meu ouvido.

Eu estava cansada. Muito cansada.
Meus olhos correm para a janela de May.

Qual era a altura?

May se mexe na cama, me fazendo despertar dos pensamentos. Só assim percebo que minha pele está suada, minha respiração ofegante e o coração disparado no peito.

Eu estava sufocada ali.

ㅡ May...ㅡ a chamo, sentindo meu estômago pesar.

Nenhuma resposta.

ㅡ May, acorda! ㅡ falo um pouco mais alto.

Ela se vira.

ㅡ Mas o que diabos...

ㅡ Eu vou vomitar!

Ela logo está de pé, correndo para procurar as chaves. 
Enquanto ela liga a luz, aperto meus olhos e mordo o lábio inferior com o enjôo cada vez maior.

ㅡ Calma, calma! ㅡela quase berra.ㅡ Achei!

Corre até mim, e sem pensar duas vezes, retira as algemas. Corro em direção ao banheiro, onde me ajoelho diante do vaso e despejo todo o jantar.

Meu corpo treme e me encolho à cada segundos que passo ali, curvada e vomitando o que mal tinha em meu estômago.

ㅡ Minha nossa...ㅡ May afasta meus cabelos. ㅡ Puta merda, eu vou...ㅡ ela sai do banheiro, e eu olho para trás, a vendo se abanar com as duas mãos. ㅡ Espere aí!

Isso me faria rir caso eu não estivesse com a horrível sensação de aperto no peito. Fecho os olhos e tento controlar a minha respiração.

Alguns minutos se passam, e só abro meus olhos quando sinto uma mão delicada se fechar em meu ombro.

Levanto a cabeça, e vejo Jude com panos nas mãos. Pisco algumas vezes, um pouco confusa. O fato de ela estar ali, me faz esquecer a sensação ruim.

Era surpreendente para mim, e ao mesmo tempo curioso.

Ela sorri de lado, e faz um gesto para que eu me levante. Faço o que ela pede, e a vejo indicar o chuveiro.

Ergo as duas sobrancelhas e dou descarga no vaso antes de perguntar:

ㅡ Tomar banho? ㅡ pergunto. Minha voz sai rouca, e minha garganta arde.

Ela faz que sim.

Suspiro, cedendo, e tiro minhas roupas ali mesmo. Jude era menor do que eu, tinha uma aparência calma e uma postura aconchegante.

Não me incomodo ao me despir em sua frente. Ela nem mesmo desce o olhar, apenas estende as coisas que estão em suas mãos e balbucia:

Javoltoas palavras não saem claras, mas entendo, apesar da dificuldade pois eu nunca havia escutado a sua voz.

Sorrio de canto, escondendo a péssima sensação da memória do que talvez tenham feito com a sua língua. Seja lá o motivo, ainda era terrível!

ㅡ Tudo bem.ㅡ digo, baixo e agora mais calma.

Ela sorri, parecendo estar grata por eu não demonstrar nenhuma reação, e se vira, indo embora.

Ligo o chuveiro e entro sem hesitar debaixo da corrente fria. Não me dou o trabalho de mudar a temperatura.
A água fria parecia limpar tudo, lavando e purificando o que tinha de ruim. Sorte a minha mão derreter e ir ralo à baixo.ㅡ penso.

Durante o banho, ainda choro baixinho, envergonhada por minha situação deplorável ali.

Me senti o mais vulnerável que gostaria, e isso me deixava extremamente irritada e, principalmente, triste.
Me demoro no banho. Jude entra, deixa mais algumas fragrâncias e roupas minhas, e sai sem dizer mais nada.

Só quando meus dedos já estão enrugados, é que saio, mesmo que arrastada.

Só quando meus dedos já estão enrugados, é que saio, mesmo que arrastada

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Meu Doce Vilão (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora