40| Uma história de amor?

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Encaro Caspian com surpresa e confusão misturadas. E antes que eu pudesse desistir e deixar a curiosidade me matar por dentro, solto:

ㅡ Está mesmo falando da mesma Jude que eu?

ㅡ Estou, Mor.ㅡ seu jeito casual de falar meu nome, me surpreende e me faz corar um pouco. Mas se ele percebe, não demonstra. Na verdade, Caspian estava imerso em seus próprios pensamentos. ㅡ Nunca se perguntou do porquê dela não falar ?

Pisco algumas vezes, afugentando a incerteza e continuando a atenção na conversa.

ㅡ C-claro... Mas não consegui pensar em alguém cruel o suficiente para fazer isso. ㅡ Minto.

Caspian me olha calmamente, avaliando as minhas palavras.

ㅡ Não fui eu. ㅡ diz, a voz soando baixo. ㅡ Eu amei Jude mais do que pudesse amar alguma pessoa algum dia, nunca a machucaria.

ㅡ O que a mulher que você ama faz trabalhando aqui como qualquer funcionário? ㅡ franzo o cenho, curiosa e surpresa demais ao saber que Caspian já havia amado alguém.

ㅡ Amei, Mor. Hoje, o que sinto é apenas... Consideração. ㅡ balança o copo de vidro em suas mãos, observando o gelo girar junto com o líquido. ㅡ Quando a pedi em casamento, o noivado não saiu de imediato como o esperado. Iríamos no casar semanas após o pedido, já que estávamos apaixonados demais para esperar. Minha mãe faleceu, e resolvemos adiar por conta do luto.ㅡ limpa a garganta e põe o copo na mesinha ao seu lado, cruzando os braços e encarando o chão. 

ㅡ Minha nossa...ㅡ Caspian havia ficado noivo? A mãe dele morreu no mês do noivado?!

ㅡ Eu devo ter ficado muito depressivo na época, e me culpei por um tempo por não estar cem por cento para a mulher que amava. E até tentei usar isso como desculpa para me mover do buraco o qual eu estava, e ir focar em nosso relacionamento, já que Jude estava distante demais...ㅡ me olha. ㅡ Até eu flagrar ela transando com Samir, que na época era um dos meus amigos, e até tinha ido me dar apoio no velório de minha mãe.

Minha boca se abre, mas as palavras somem. Eu não sabia o que era pior.

ㅡ Minha reação foi espancá-lo, mas não o matei. Talvez esse tenha sido o meu primeiro erro. ㅡ sorri de lado. ㅡ Meses depois, Jude foi atrás de mim, afirmando estar grávida de mim. Fizemos o teste, e ela realmente estava. Mas eu sabia que a criança poderia não ser minha, mesmo assim, fui otário o suficiente para acolhê-la e cuidar para que a gestação fosse tranquila. O tempo passou, e eu já me encontrava ao seus pés, novamente... Aliás, nunca havia deixado de a amar. ㅡ se ajeita na cadeira, os olhos ainda em mim.ㅡ Mas no terceiro mês, Jude desapareceu. Eu fiquei louco.

ㅡ Ela foi embora...? ㅡ minha voz saiu baixa também, como se fosse um segredo.

ㅡ Não. Supostamente havia sido sequestrada por Samir. Mas essas hipóteses foram descartadas.ㅡ inclina levemente a cabeça.ㅡ Ela me enviou uma mensagem afirmando que estava com o pai do filho dela. Tenho certeza de que Samir correu atrás do osso ao saber que eu estava a abrigando em minha casa...

ㅡ Então ela voltou com ele? O filho realmente não era seu?

ㅡ Não sei. Estava esperando a criança nascer. ㅡ engole em seco.

Havia algo em sua voz, algo muito triste e pesado que ele estava disfarçando. Caspian limpou a garganta e continuou:

ㅡ Meses após, Jude foi deixada em minha porta.

ㅡ Deixada? ㅡ pisco algumas vezes, temendo para o que estava por vir.

ㅡ Sim. Deixada em condições lastimáveis. ㅡ seu peito se infla. ㅡ Aparentava ter sido espancada. Sua língua havia sido mutilada e seus cabelos tinham falhas, além das marcas no corpo.

ㅡ Meu Deus...ㅡ meus olhos se arregalam. ㅡ E  a criança?!

ㅡ Ela perdeu. Provavelmente, meses antes, também devido à agressões antigas. ㅡ sua boca se torna uma linha fina.

Silêncio. Não consigo dizer nada, pois estou aterrorizada.

ㅡ A tentativa de Samir de ter um filho com você, deve ser consciência pesada por saber que suas ações levaram a morte de seu primeiro filho. Culpou Jude por perder o menino, mesmo sendo ele o culpado por tal feito. ㅡ Estou sem reação. Meu estômago pesa.ㅡ A tratei, e a melhor opção foi deixá-la morar aqui. E quanto a sua posição, ela quem quis. Jude não fala comigo e nem eu com ela. é como se não nunca tivéssemos vivido um relacionamento.

ㅡ Não guarda mágoa dela?ㅡ pergunto, cautelosa.ㅡ Ou raiva?

ㅡ Tenho pena. ㅡ solta, em uma lufada de ar. ㅡ Mágoa e raiva eu guardo é de Samir e do restante da minha vida.

Mais silêncio. Há milhares de pensamentos em minha cabeça, cada um pior que o outro. Apesar disso, noto pesar em Caspian. Agora ele bebe o líquido em seu copo, como se isso fosse descer o que quer que estivesse preso em sua garganta.

Me sinto tão mal que mal consigo segurar as palavras:

ㅡ Samir é um monstro. ㅡ falo mais para mim mesma, ainda atônita. ㅡ Minha nossa, só em pensar que já estive nas mãos dele... Que já respirei o mesmo ar que ele, me dá ânsia.

Escuto o copo sendo colocado de volta sobre o vidro da mesinha. Encaro Caspian, que não me olha de volta. Ele está sério.

ㅡ Não sou muito diferente dele. ㅡ diz, captando a minha atenção. ㅡ Fiz o que fiz por Jude, porque a amava. Mas não tenho piedade daqueles que não sinto o mesmo. Não me orgulho do que fiz, mas também não me arrependo, isso é o que me torna pior. ㅡ agora ele me olha. ㅡ Ah não ser com você.

Não respondo de imediato. Ainda estou captando o que Caspian diz.

ㅡ Eu?

ㅡ Sim. Me arrependo de ter a tratado da forma que tratei. ㅡ suspira. ㅡ Sei que não tem perdão... Mas queria que ficasse ciente disso.

ㅡ Você... Quer o meu perdão? ㅡ o vejo engolir em seco. Não respondo de imediato, Caspian parece ansioso. ㅡ Ah... Lembra quando disse que se livraria de Samir? ㅡ ele assente. ㅡ Pois bem. Essa é a minha condição.

Caspian ergue as duas sobrancelhas. Eu não estava gostando da minha proposta, ainda mais em um momento como esse, mas eu precisava ter a certeza de que Samir não voltaria à me incomodar. Sem ele, eu tinha alguma esperança de voltar à minha vida normal.

ㅡ Certo. ㅡ assente, respirando fundo. ㅡ Por enquanto, fique aqui. É mais seguro.

O encaro por alguns segundos antes de dizer:

ㅡ Por que está fazendo isso? 

ㅡ Tenho uma dívida com você.

Apesar de tudo, sorrio fraco, olhando para baixo.

ㅡ Espero que não esteja mentindo. Ainda estou com a arma.

Isso o faz rir pelo nariz.

ㅡ Pode ficar com ela como garantia. ㅡ o olho. 

Nos encaramos por alguns segundos, até alguém bater na porta, me fazendo piscar e desviar o olhar.

ㅡ Caspian? ㅡ a voz de Erick sai abafada.

Me levanto, levando a arma comigo. Levanto o objeto e o balanço no ar, chamando a atenção de Caspian para ela.

ㅡ Obrigada pelo presentinho. ㅡ dito isso, ele sorri fraco e eu retribuo, me virando para sair.

Ao abrir a porta, Erick me encara um pouco surpreso, ainda mais quando seus olhos vão para a arma de fogo em minhas mãos. Não o fio muito, saio andando dali, indo em direção ao meu antigo quarto, agora, de forma espontânea.

Muito embora eu tivesse motivo para agradecer, não consegui. Meus pensamentos estavam voltados para a a história frustrante de amor de Caspian.



Meu Doce Vilão (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora