38| Você é terrível

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Algumas lágrimas se acumulavam no canto dos meus olhos.

Queria externar meus pensamentos, berrar com Caspian, mas não o fiz ainda porque sabia que algo o estava atormentando, já que o mesmo havia ficado calado durante todo o caminho e quando eu tentava o olhar de canto, via seus olhos caídos e um expressão séria.

Ouvi Samir falar sobre Jude... O que aconteceu com ela? Por que isso mexeu tanto com ele?

Saio dos meus pensamentos quando percebo que o carro está parando no encostamento de uma avenida. Caspian desliga os faróis, mas permanece em silêncio. Alguns segundos se passaram, crescendo a minha agonia, por isso, digo já sem aguentar:

ㅡ Era esse o meu plano?ㅡ minha voz sai baixa, mas cheia de ressentimento.

Caspian não diz nada, e isso só me faz ficar irritada. Se ele quisesse me matar, já teria matado. Com esse pensamento, tomo fôlego:

ㅡ Era esse o seu plano, Caspian?!ㅡ viro meu corpo para ele.ㅡ Estou cansada de ter que ficar nesse tabuleiro onde só vocês mexem as peças! Se me trouxe aqui para ver Samir ou entrar em um acordo com ele, porque não o fez?!ㅡ o empurro, irritada e com algumas lágrimas escorrendo por minhas bochechas, mas ele nem mesmo se mexe. ㅡ O que você quer de mim, Caspian?!

ㅡ Quero que me diga  qual é o interesse de Samir em você, Morgana. Porque você certamente não o ama e ele muito menos! ㅡ me encara, o olhar sério e ficando irritado à cada palavra. ㅡ Quero que pare de mentir pra mim e me diga se você já conhecia aquele cara, porque ele também não parou de encará-la! ㅡ semicerra os olhos.ㅡ Como conheceu Samir? O que aconteceu naquela noite? Porra, eu quero saber tudo sobre essa merda!

Paro de chorar, mas minha bochechas ainda estão úmidas. Senhor, o que eu faria?

ㅡ  Você não tem nada a ver com o que quer que tenha acontecido entre eu e Samir. ㅡ Isso o faz franzir o cenho.ㅡ Foda-se qual seja merda do seu plano, Caspian.  Não sou o seu brinquedo!ㅡ  me exaspero.ㅡ   Estou farta dessa brincadeira. Se quiser me matar, que mate, porque se você não o fizer, Samir ou eu mesma o faço. ㅡ dito isso abro o carro e saio andando.

O vento bate em meu rosto, açoitando alguns fios em meu rosto. Mal me afasto do carro quando o escuto bater a porta e dizer:

ㅡ Morgana, não me obrigue à fazer isso.ㅡ paro de andar e me viro, o vendo mirar a arma em mim.

Apenas o encaro e arqueio uma sobrancelha.

ㅡ Atira então. ㅡ falo, ainda o olhando.

Confesso que tento não demonstrar o quão desesperado meu coração está para que ele não faça isso. Para que Caspian ainda tivesse um pingo de humanidade. Ele não baixou a arma, mas também não atirou ou parou de me olhar. Ele dá alguns passos em minha direção e preciso de muito autocontrole para não vacilar ou dar para trás.

O cano gelado encosta em minha testa, e posso ver seus olhos um pouco marejados, o que me faz piscar algumas vezes, confusa.

ㅡ Caspian...ㅡ sussurro, quase sem palavras. Meu coração martelava no peito, e sentia minhas mão tremerem, mesmo assim, ainda o encarei. O choque foi de imediato quando decifrei o que estava ali. ㅡ Você não consegue me matar. ㅡ digo, com certeza.

Ele balança a cabeça e baixa a arma, exalando pesado. Meu alívio foi tanto que só percebi que estava prendendo a respiração após isso. De repente, Caspian me abraça apertado. Fico tensa, mas muito mais incrédula.

ㅡ Por favor, volte para o carro, Mor...ㅡ  diz, sua voz vacilante.

Ele estava chorando?

Não consigo responder de imediato. Sem reação, apenas encosto minha testa no peito de Caspian, confusa e atordoada com os meus próprios pensamentos e atitudes.

ㅡ Você é terrível..ㅡ sussurro.

ㅡ Eu sei.ㅡ responde, quase inaudível.ㅡ Me perdoe...

Te perdoar? ㅡ repito de maneira estupefata. Você ia me matar! ㅡ o acuso, o nó na garganta crescendo.ㅡ Meus Deus, Caspian, o que há com você?

ㅡ Eu não sei, Morgana! ㅡ se exaspera.ㅡ Eu não sei o que há com você! Está me deixando maluco! ㅡ franzo o cenho, agora ainda mais perdida.ㅡ  Pra te matar, eu teria que me matar logo em seguida, não entende?!

Me afasto dele bruscamente, espantada ao ver seus cílios brilharem.

ㅡ Como?ㅡ eu estava desalinhada em meus pensamentos. ㅡ Por quê?

Ele exala pesado, parecendo repensar várias vezes antes de soltar:

ㅡ O peso na consciência me atormentaria todos os dias, disso eu tenho certeza. ㅡ responde em uma lufada de ar.

Não o respondo, pois foi como se ele tivesse jogado uma bomba prestes à explodir em meu colo. O que ele queria dizer com aquilo? Ele tinha noção do que tinha acabado de dizer? Esse não era o Caspian que eu conhecia.

Não sei quanto tempo se passava enquanto ficamos nos encarando, sem saber o que dizer uma ao outro.
Eu não sabia como lidar com esse lado de Caspian.

Como não digo nada ele diz:

ㅡ Vamos conversar, por favor... ㅡ estava mais calmo, porém, exausto.

Por favor...

Mesmo assim, engulo em seco e estendo as minhas mãos.

ㅡ Me dá a arma. ㅡ peço séria. Sem hesitar, ele a entrega em minha mãos, após travar. Era gelada e pesada, fazendo minha pele se arrepiar. ㅡ Agora podemos. ㅡ não tenho certeza se ele ouviu, pois nunca me encontrei tão sem palavras.

Após isso, ando até seu carro novamente.

Meu Doce Vilão (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora