Capítulo 14

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CAPÍTULO 14

Quando se fala em gravidez, tudo parece concentrar-se em dois objetivos principais: passar com segurança pelo primeiro trimestre e passar com segurança pelo parto. Todo o restante entre uma coisa e outra são, aparentemente, apenas detalhes.

No primeiro trimestre, somos informados repetidamente sobre o que procurar e quando ligar para o médico. Somos monitorados de perto. Lemos artigos online e até sabemos que a estatística é relativamente alta para perda precoce da gravidez. Lemos que algo entre 10 e 25 por cento das gestações terminarão em aborto espontâneo.

Uma vez que se está em seu segundo trimestre, porém, não se ouve mais sobre abortos espontâneos. Tudo o que lemos é como o segundo trimestre é mágico. É nessa hora que a mulher começa a curtir sua barriguinha. É quando sua náusea provavelmente desaparecerá e será substituída por energia. Acontece até mesmo a dádiva do retorno inesperado do desejo sexual na mulher, e somos aconselhados a aproveitar essa fase.

Em suma, dizem-nos que estamos fora da zona de perigo. Certo? Eu também achava que era, mas nossa história foi bem diferente.

Quando entramos no quarto mês de gestação, Jessie estava finalmente começando a se sentir melhor. Ela já não tinha mais tantos enjoos recorrentes, não aparentava mais estar sempre cansada e nauseada. E foi também quando começaram a surgir os desejos alimentares mais estrambólicos já vistos pelo homem.

A princípio, seus desejos eram até mesmo um pouco divertidos. Numa noite gelada de outono, Jessie me fez levantar da cama para sair à procura de sorvete de pistache.

— Pistache? — perguntei, ainda sonolento.

— TEM que ser de pistache! — ela frisou.

Noutra ocasião, quando eu estava em Denver, me preparando para um voo de volta para Nova York, ela me ligou, em desespero, dizendo que eu não podia voltar para casa sem rabanetes. E daí que ela nunca tivesse comido rabanetes antes? Era o que ela desejava, e eu tinha de dar um jeito. Andei por dois mercados inteiros, até achar um último ramo, meio murcho, que levei para casa. Ela comeu tudo com a maior vontade do mundo e, logo após o último pedaço, correu para vomitar no banheiro mais próximo.

À medida que as semanas passavam, seus desejos começaram a ficar cada vez mais excêntricos: salsicha com manteiga de amendoim, picles com mel, ou simplesmente um limão siciliano, que ela chupou inteiro fazendo caretas. Mas seu desejo mais insólito veio numa tarde despretensiosa de domingo, quando a peguei encarando a parede da sala de estar, e ela então me confidenciou que queria muito saber que gosto tinham aqueles tijolos.

— Eles parecem tão gostosos. Sempre pareceram bons assim?

— Não. Nunca. E você não vai experimentar isso hoje — assegurei.

Tive que vigiar pelo restante do dia, com medo que minha esposa extremamente grávida tentasse roer a beirada de alguma parede da nossa casa.

Em meio a fase dos desejos, eis que ressurgiu aquele que eu mais gostei de suprir: o desejo sexual. A chama se reacendeu, e eu não poderia estar mais contente. Às vezes, quando chegava do trabalho, nem sequer tinha tempo de tirar meu uniforme antes de Jessie me atacar, ávida, sedenta, deliciosamente disposta a se entregar para mim novamente. Eram tempos felizes.

A médica nos orientou que, a essa altura, já poderiamos saber com segurança qual era o sexo do bebê. Até começamos a discutir nomes, mas não decidimos nenhum. Queriamos descobrir o sexo primeiro. Esvaziamos o quarto que usávamos como escritório e pintei toda a parede de branco, para nos preparar para a chegada do novo membro da família. Assim que soubéssemos qual era o sexo, eu iria colocar um novo papel de parede e nós comprariamos os móveis necessários para que aquele cômodo se tornasse o quartinho do nosso bebê que estava a caminho.

Sob O Pôr Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora