CAPÍTULO 26
Estar em Nova York enquanto minha esposa grávida e nosso filho pequeno estavam longe de mim, em Daytona, era uma tortura. Eu sentia falta deles todos os dias. Eu me preocupava com eles o tempo todo. Eu tinha medo que algo desse errado com a gravidez e eu não estivesse lá para consolar Jessie. Eu tinha medo que tudo desse certo com a gravidez e no fim eu não estivesse lá para o nascimento de nossas filhinhas. E agora eu tinha um novo medo: o medo de que eles nunca mais quisessem retornar.
Jessie sugeriu que eu pedisse transferência para a Flórida, mas não era tão simples. A única base da United Airlines na Flórida era o aeroporto de Orlando, uma base excepcionalmente cobiçada, especialmente por pilotos mais velhos. E como na aviação tudo gira em torno da senioridade, eu tinha pouquíssimas chances de conseguir tal mudança. Além disso, eu já havia mudado de base recentemente, o que também me impedia de realizar qualquer nova troca por alguns anos.
É óbvio que eu também gostaria muito de poder viver em Daytona Beach novamente, havia me apaixonado por aquela cidade desde o meu primeiro ano de faculdade. Mas, infelizmente, uma mudança naquele momento era simplesmente inviável.
A distância, mais uma vez, tornou-se um obstáculo em nossa relação. Eu sentia tanta falta deles que, às vezes, enquanto tomava banho, abria o shampoo de tília de Jessie e o shampoo de neném que cheirava como a cabecinha de Matthew, somente para poder sentir o cheiro deles. Borrifava o perfume de Jessie sobre os lençois da cama e me aconchegava em um monte de travesseiros, tentando de alguma forma sentir a presença dela ali. Era tanta saudade que doía. E eu tinha sorte se conseguia ir para Daytona duas vezes no mesmo mês, para ver os amores da minha vida. E a cada vez que eu os via novamente, Jessie reiterava seu desejo de que nós nos mudássemos para a Flórida permanentemente.
Quanto à gravidez, Jessie recebeu cuidados médicos excelentes na Flórida, conseguindo continuar o progresso que havíamos iniciado com nossos médicos de origem, em Nova York. A semana 28 chegou e passou e recebemos uma nova meta de 34 semanas.
Contudo, após a trigésima semana de gestação, devido a problemas relacionados à hipertensão gestacional, os médicos ordenaram que Jessie não se levantasse mais da cama. Ela devia manter repouso absoluto, deitada e com as pernas levemente elevadas. Ao menor sinal de piora, ela seria admitida no hospital, para evitar que aquilo progredisse para uma eclâmpsia.
Naquela semana, quando fui visitá-la na casa de seus pais, encontrei-a deitada em sua antiga cama, com almofadas sob os pés inchados, dormindo a sono solto. Ainda me surpreendia com o quanto minha mulher era linda, mesmo estando nos estágios finais de uma gravidez complicada, exausta, dolorida e completamente inconsciente, ela ainda era linda. Era impossível não sorrir com a cena. Matthew também estava dormindo, o que era uma raridade.
Encontrei Jolene na cozinha, debruçada sobre a bancada, segurando uma lata de chantilly. Ela usava um lenço para cobrir sua cabeça completamente careca. Sua magreza impressionava. A cada vez que eu a via, ela parecia ter definhado ainda mais. Seu estado de saúde era delicado e isso estava escancarado na palidez de seu rosto, nas marcas em sua pele, na profundidade de seus olhos, na total ausência das sobrancelhas e nas rachaduras em seus lábios.
- Jolene? Está tudo bem? - perguntei, cauteloso.
Ela se virou para mim. Tinha restos de chantilly nos cantos da boca e uma expressão desorientada.
- É essa maldita quimioterapia - falou ofegante. - Desde que comecei o tratamento, eu não consigo mais sentir o gosto de doces. Mas, por algum motivo, consegui sentir o sabor disso hoje - ela balançou a lata de chantilly, aparentemente vazia, que tinha nas mãos. - Eu provavelmente vou vomitar tudo isso, daqui a pouco. Mas que se dane. Estava querendo algo doce há meses.
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Sob O Pôr Do Sol
RomansaO terceiro livro da série. A conclusão da história de Sammy e Jessie.