CAPÍTULO 21
Nosso bebê estava finalmente em casa conosco. Após muitos meses, desde a descoberta da gravidez, aguardando ansiosos por aquele momento, a hora havia enfim chegado. Nosso pacotinho cheiroso de fofura e amor estava em nossos braços, e estávamos todos em nosso lar. Eu ainda me sentia um pouco perdido. Não sei exatamente o que é que eu esperava, mas sem dúvidas não estava preparado para tudo o que nosso pequeno Matthew trouxera para nossas vidas.
Ele ainda me parecia meio estranho. Tão franzino, com os olhos esbugalhados, a pele toda enrugada e a sua cabeça completamente careca e em um formato de cone bastante peculiar. Mas era lindo. E ficava ainda mais bonito à medida que os dias passavam e a aparência de recém-nascido ia se dissipando, a famosa "carinha de joelho" dava lugar às feições delicadas de um bebezinho saudável.
Se eu parecia ainda ter apenas perguntas e inseguranças em minha mente, Jessie, por outro lado, parecia ter todas as respostas. Minha linda mulher mostrava, a cada dia, ser uma fortaleza. Tão madura, tão cuidadosa, tão afável. Ela tomava conta de nosso filho com uma devoção imensurável, uma serenidade intransponível e um amor incondicional. Era como se ser mãe fosse o chamado de sua vida, como ela própria dizia.
O laço que Jessie e Matthew criaram tão rapidamente era invejável. Eu simplesmente amava ver os dois juntos. Almejava estar com eles o tempo todo. Quando não estava em casa junto a eles, estava sempre sentindo saudades. Pensava neles todo o tempo em que estivesse fora. Corria para casa após cada jornada de trabalho. E me sentia péssimo a cada vez que precisava deixar os dois e sair para trabalhar novamente.
Obviamente, aquilo não estava incomodando apenas a mim. Minha rotina árdua de trabalho também afetava Jessie e Matthew, que passavam boa parte do tempo apenas na companhia um do outro. Certo dia, cheguei em casa tarde e encontrei os dois dormindo juntos em nossa cama. Quando peguei Matthew em meus braços para levá-lo para o seu berço, Jessie me repreendeu.
- O que você está fazendo? - questionou. E apesar de estar sussurrando, seu tom de reprovação ainda era claro.
- Vou levar ele para o berço - expliquei.
- Não. Ele dorme aqui.
- Na cama? Junto com a gente?
- Sim! - gritou em um sussurro.
- E isso não é ruim?
- Bem, nem eu nem Matthew gostamos de dormir sozinhos. Então você pode se juntar a nós aqui, ou ir dormir no berço dele.
Dadas as minhas limitadas opções, coloquei Matthew de volta na cama e deitei-me ao lado deles, sem reclamar.
Logo percebi que dividir a cama com nosso bebezinho era um deleite. O cheirinho de neném que sua cabeça exalava era um calmante natural. Jessie sempre cantava belas canções de ninar que geralmente me faziam pegar no sono antes mesmo do nosso filho, a quem elas eram direcionadas. E quando ele acordava no meio da noite, sempre estávamos bem ali para acalentá-lo, alimentá-lo e fazê-lo dormir novamente.
Cada uma das fases do desenvolvimento de Matthew parecia ser a melhor de todas. A princípio, quando ele era um recém-nascido, eu olhava para aquela coisinha, tão pequenininha, e pensava que seria a melhor fase. Depois, ele cresceu um pouquinho, começou a sorrir e meu coração derreteu. Logo, ele aprendeu a dar gargalhada, depois começou a brincar... e cada fase era ainda melhor do que a outra.
Ter um filho é como ter uma lente de aumento gigante. Foi depois que ele nasceu que eu comecei a ver aquilo que realmente importa. Coisas que antes pareciam ser de extrema importância, agora eu via que não eram. Filhos nos ajudam a focar naquilo que mais importa, de fato. Meu trabalho, minhas aspirações profissionais, status social... tudo isso ficava em segundo plano. Minha família era o mais importante. E não havia dúvidas quanto a isso em minha mente.
Foi por isso que, apesar de estar bem a frente na fila para me tornar comandante na companhia aérea, eu ainda assim não hesitei em tirar minhas férias naquele final de ano, para poder passar as festas ao lado de quem mais importava. E para poder apresentar nosso pequeno aos seus bisavós, do outro lado do oceano, em Inverness, na Escócia.
Viajar em um voo noturno, com duração de mais de 7 horas, levando um bebê de colo é algo tão desafiador quanto se pode imaginar. Matthew estava com apenas 4 meses de vida e ainda acordava frequentemente para mamar. Viajamos na classe executiva e escolhemos nossos assentos na área mais reservada possível, para que Jessie tivesse alguma privacidade ao amamentar.
Matthew, contudo, se mostrou um excelente viajante. Chorou pouquíssimas vezes e nós não tivemos nenhuma reclamação de outros passageiros. Quando pousamos no Reino Unido, levei-o para conhecer a cabine de comando do avião e tiramos fotos com meus colegas de profissão que estavam a serviço naquela rota. Foi apenas uma curta parada em Londres, antes de partirmos no segundo voo, este de uma hora e meia, para Inverness.
Como era de se esperar, estava muito frio na Escócia, então nos certificamos de que Matthew estivesse tão agasalhado quanto possível. Ele ficou uma gracinha, com casaco, gorro e luvinhas tão pequenas que pareciam feitas para uma boneca.
Juliet e Marcus também levaram Ethan para apresentar aos bisavós, e é claro que os bisnetos foram o centro das atenções nas festas. Desde o momento em que chegamos, tinha sempre alguém querendo a chance de carregar um dos pequenos.
Apesar da diferença de idade entre Ethan e Matthew ser apenas de alguns meses, eles aparentavam estar em fases completamente distintas. Ethan era bem maior, já sabia engatinhar e fazia truques como bater palmas ou acenar; enquanto Matthew ainda era apenas um pacotinho adorável de sorrisos gengivais e movimentos descoordenados. Mesmo assim, ambos receberam, igualmente, muito carinho e atenção de toda a família. Na noite de natal, eles foram os que ganharam a maior quantidade de presentes. Roupinhas de bebê, brinquedos e até kilts com o tartan do clã McGregor, que eles vestiram para tirar a foto do cartão de natal da família.
Estar novamente na Escócia com Jessie era uma sensação estranhamente familiar. Entretanto, desta vez a situação era bem diferente da nossa primeira viagem. Agora já estávamos casados e tínhamos um filho que estava ali conosco. Aquele lugar me trazia muitas lembranças. O sentimento era indescritível. Era maravilhoso poder estar em um castelo medieval, ao lado da minha princesa e do nosso herdeiro. Estar de férias com minha família. Estar junto das pessoas que mais amo, em um lugar tão incrível. Eu certamente jamais deixaria de ficar mesmerizado com a imponência do castelo dos avós de Jessie, mesmo já tendo estado lá anos antes.
Passado o natal, quando chegou o dia 29, as celebrações do Hogmanay já haviam começado. Mesmo assim, tiramos um tempo para ficar juntos e comemorar nossa data especial. Eu estava sentado na sacada do nosso quarto, na torre do castelo, que tinha uma vista privilegiada do lago congelado e da bela paisagem que se estendia até o horizonte. Ao meu lado, Jessie carregava no colo o nosso pequeno Matthew. Apesar do frio, meu coração estava quentinho.
- Eu nem acredito que estamos aqui de novo - comentei, maravilhado.
- Se você tivesse me dito, oito anos atrás, que a próxima vez que estaríamos juntos aqui seria para apresentar nosso filho aos meus avós, eu iria cair na risada - ela falou, sorrindo.
- Nem nos meus sonhos mais surreais eu poderia ter previsto isso.
- Mas, na verdade, eu já sabia que você era especial. Por isso te trouxe aqui e te apresentei para os meus avós. Eu já pensava que poderíamos ter um futuro juntos. Só não imaginava o quanto seria lindo - ela suspirou, olhando para Matthew.
Eu envolvi os dois em um terno abraço.
- Vocês me fazem o homem mais feliz deste mundo!
E por mais clichê que aquilo pudesse soar, era a mais pura verdade.
- Feliz aniversário de casamento.
- Os três anos mais felizes da minha vida - sussurrei, com a voz já embargada. - Eu amo vocês.
Jessie pegou a mãozinha de Matthew, ainda incapaz de acenar por si mesmo, sacudiu-a no ar em minha direção e falou, fazendo uma voz de bebê:
- Nós te amamos.
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Sob O Pôr Do Sol
RomansaO terceiro livro da série. A conclusão da história de Sammy e Jessie.