CAPÍTULO 22
Quando se é piloto de avião, aprende-se sobre os vários tipos de turbulências e como evitá-las. No entanto, existe uma em particular que é altamente imprevisível: a turbulência de céu claro. Ao contrário das outras, esta ocorre quando não há nuvens, não há indícios de mau tempo nos indicadores meteorológicos, nem mesmo nossos sofisticados radares são capazes de captá-las.
Metaforicamente, às vezes, podemos ser surpreendidos com turbulências de céu claro em nossas vidas. Quando tudo parece estar indo bem e, de repente, você se vê no meio de uma crise. Sem qualquer indício, sem aviso prévio, sem sinais para que você se prepare, ainda que minimamente.
Bem, para ser justo, talvez tenha havido sinais. Talvez eu estivesse alheio à minha realidade. Talvez eu devesse ter percebido. Talvez... Mas não o fiz.
Após minhas curtas férias curtindo uma viagem em família, voltei ao trabalho com mais vigor do que antes.
Na aviação, tudo gira em torno da senioridade, isso quer dizer que quanto mais tempo você tem na linha aérea, mais próximo fica de uma possível promoção. E não é apenas o tempo de casa que conta. Suas horas de voo com a companhia também afetam diretamente a sua posição na fila. Ao entrar de férias, eu era o primeiro oficial sênior número um na fila para me tornar comandante e queria que continuasse assim.
Revigorado, me coloquei à disposição da companhia em todas as horas possíveis, respeitando o limite mínimo de repouso, me mantive ativo o máximo que pude. Voluntarioso, me dispunha a trabalhar em fins de semana, feriados e quaisquer outras datas para as quais outros pilotos torciam o nariz.
É óbvio que minha esposa não ficou nada feliz com aquilo. Mas ela realmente aparentava não se incomodar tanto assim. Pelo contrário, fazia um tremendo esforço para me manter próximo ao nosso filho, mesmo distante. Fazer vídeos de Matthew virou seu novo hobby. Ela estava sempre com o celular em mãos, pronta para registrar cada pequena conquista do nosso garotinho e compartilhar comigo para que eu pudesse acompanhar.
E foi assim que eu vi grande parte do desenvolvimento do nosso pequeno. Fotos de seu primeiro dentinho de leite, vídeos de sua primeira vez experimentando frutas, de seus primeiros truques, aprendendo a jogar beijos e a dar tchauzinho para a câmera. Eu amava ver meu filho aprender coisas novas. E é claro que queria poder acompanhar de perto, pessoalmente, e não através das lentes de um celular.
Com o tempo, meu esforço foi finalmente recompensado. A notícia da minha tão aguardada promoção veio, e eu estava em êxtase! Queria muito dividir aquela conquista com minha maravilhosa mulher, que havia me apoiado mesmo apesar de não ficar contente com minha ausência constante.
Ao chegar em casa, me deparei com uma cena curiosa: Jessie estava de joelhos e com as mãos no chão, no carpete da sala, enquanto incentivava Matthew a fazer o mesmo. Ela parecia impaciente.
- Vamos, garoto! - ela dizia, com uma certa urgência escondida na voz. - Você consegue!
Ele se debatia, deitado de bruços, com a barriguinha no chão, fazendo um tremendo esforço para manter sua cabeça erguida com seu ainda frágil pescoço de bebê.
- O que está acontecendo? - me intrometi.
- Estou tentando ensinar o Matthew a engatinhar. Ele já devia ter começado - Jessie desabafou.
- Devia?
- É. Agora vamos, Matthew! Mostra pro papai o que você sabe fazer. Vem aqui com a mamãe. Vem!
Eu olhei novamente para ele. O pobre coitado parecia desnorteado, a ponto de começar a chorar, frustrado, não pela própria incapacidade de engatinhar, mas por não compreender por que sua querida mãe estava lhe submetendo àquela tortura descabida.
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Sob O Pôr Do Sol
RomantizmO terceiro livro da série. A conclusão da história de Sammy e Jessie.