Capítulo 16

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CAPÍTULO 16

Foi como se a Terra inteira parasse. Senti o chão desaparecer debaixo dos meus pés. Eu nem consegui dizer nada. Então o homem que falava do outro lado da linha continuou:

- Ela precisa de uma cirurgia de urgência. Sofreu um quadro grave de apendicite aguda. Encontramos seu número no contato de emergência no celular dela. Estamos no Hospital NewYork-Presbyterian, em Manhattan. Em quanto tempo o senhor acha que consegue chegar aqui?

- E-eu... eu estou na Califórnia - gaguejei.

- Tem algum outro membro da família que poderia vir prestar assistência para ela? Pois ela chegou totalmente desacompanhada.

- Sim. Sim, a irmã dela trabalha aí mesmo, neste hospital. Doutora Juliet McGregor-Cohen. Se puder entrar em contato com ela, seria ótimo. Mas eu vou tentar chegar aí o mais rápido possível.

Eu ainda teria mais três pernas de voo e dois pernoites pela frente, mas tive que interromper minha viagem para poder socorrer minha esposa. Informei ao despacho operacional, que rapidamente acionou um piloto da reserva para me substituir, e então parti no primeiro voo de volta para Nova York.

Foi a pior viagem que já fiz. A apreensão, a falta de informação, a impossibilidade de comunicação... era tudo simplesmente excruciante. Eu só queria poder abraçá-la e estar lá por ela quando ela mais precisava, como ela sempre esteve por mim.

Quando cheguei, a cirurgia já tinha terminado. Jessie estava em um quarto, se recuperando. Juliet estava com ela, mas nos deixou a sós depois de eu entrar. Jessie dormia, serena. Mas eu não pude aguardar até que ela acordasse naturalmente. Afaguei seus cabelos e beijei sua testa.

- Ah, meu amor... Me desculpe por não estar aqui antes - sussurrei, o que a fez despertar.

Ela abriu um sorriso, respirando profundamente.

- Você está aqui - constatou, a voz ainda falhando.

- Estou. Eu estou bem aqui, meu bem.

Ironicamente, o distanciamento causado por uma doença, que abalou a maior parte do nosso segundo ano de casados, foi justamente diminuído por outra doença inesperada.

Os papéis se inverteram. Jessie, que tão ferozmente havia dedicado boa parte de um ano da sua vida a cuidar de quem necessitou, agora era quem precisava de cuidados. E eu, de bom grado, me dispus a ser seu cuidador.

O médico nos comunicou que Jessie precisaria permanecer internada por alguns dias, o que eu estranhei.

- Quando minha mãe teve apendicite ela foi embora do hospital no mesmo dia - argumentei.

- É verdade que, em casos comuns, a maioria dos pacientes admitidos com apendicite aguda recebe alta dentro de um ou dois dias após a apendicectomia. Porém, o caso de Jessica foi excepcionalmente mais grave. Ela sofreu o que chamamos de apendicite supurada, o que significa que a parede do seu apêndice foi rompida, liberando fluidos altamente inflamatórios na cavidade abdominal, o que pode ocasionar sérias complicações, como abscesso, peritonite ou sépsis. Por isso, precisamos mantê-la aqui, para podermos drenar a incisão e manter a antibioticoterapia.

- Entendo...

A resposta do médico foi tão convincente que eu não tinha nada mais a dizer a não ser "entendo", mesmo que eu não tivesse entendido perfeitamente todas aquelas palavras escalafobéticas que ele usara.

Tirei uma licença do trabalho para poder acompanhar minha mulher durante seu período de recuperação. Estive com ela no hospital todos os dias em que ela ficou internada.

Sob O Pôr Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora