Capítulo 4

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CAPÍTULO 4

Jessie gostou tanto da ideia do norebang, que decidiu comemorar seu aniversário em um. Era final de fevereiro, auge do inverno nova-iorquino, havia nevado na noite anterior e a cidade estava basicamente coberta de gelo, mas naquele pequeno quarto de canto estava quente como no verão. Ela convidou alguns de seus amigos da faculdade, então a sala estava cheia. Todos cantavam muito alto, riam e dançavam. Um garçom trazia petiscos e bebidas a cada 5 ou 10 minutos, o que deixava todos ainda mais agitados. A atmosfera era completamente caótica, e Jessie não poderia estar se divertindo mais.

Por outro lado, em abril, quando chegou o aniversário de Jen, o clima foi completamente diferente. E não só porque estávamos no meio da primavera, mas principalmente porque Jen estava simplesmente devastada. Ela finalmente recebera uma resposta de Juilliard, mas não fora o que ela esperava. Ou o que qualquer um de nós esperava, honestamente.

Eu soube da sua reprovação pelo telefone. Jessie me ligou quando eu havia acabado de pousar em Chicago, onde eu e o restante da tripulação iríamos passar a noite.

- Jen não foi aceita em Juilliard - ela contou assim que atendi.

- Ah, não! Isso é péssimo. E como ela está?

- Arrasada. Meus pais me disseram que ela não quer sair de casa, não quis nem comemorar seu aniversário, e está dizendo que não vai comparecer a formatura dela, que é daqui a menos de um mês.

- Coitadinha. Eu sinto muito, Jessie. Acha que devo ligar para ela?

- Acho que precisamos ir lá.

- Como é? - perguntei, apesar de ter escutado perfeitamente.

- Acho que podemos ajudar mais se formos até ela. Você vai estar de folga no fim de semana da formatura dela, não vai?

- Ainda não sei. Até agora não tive acesso a escala do mês. Mas posso pedir ao despachante que não me escale nesse dia, se for possível.

- Faça isso. Acho que ela vai gostar de ter todos ao lado dela, para dar apoio.

Quando fiz o pedido ao despachante, não tinha muitas esperanças de que fosse conseguir aquela folga. Mas assim que recebi a escala, veio a boa notícia: eu estaria disponível.

Jessie e eu fomos no mesmo voo para a Flórida naquele início de maio. Ela foi no assento do meio, ao meu lado. E ao lado dela, no assento do corredor, havia um senhor idoso, que parecia aterrorizado com a ideia de voar. Ele contou a Jessie que essa era apenas sua terceira vez dentro de um avião, e que sempre entrava em pânico. Disse que sentia muito mal estar e que seus ouvidos sempre pareciam que iam explodir. Foi quando vi Jessie tirar da sua bolsa um chiclete e oferecê-lo ao apavorado senhor na poltrona ao lado.

- Toma. Mastigue isso. Vai te ajudar com a pressão nos ouvidos. E mascar também costuma me acalmar quando tenho crises de ansiedade. Sempre que tenho alguma prova, ou algo importante, gosto de mascar chicletes. - Ela se aproximou do ouvido dele e sussurrou: - sabe, eu também costumava ter muito medo de andar de avião, mas isso sempre me ajuda.

- Obrigado, minha filha. Você é muito gentil.

O decrépito senhor aceitou de bom grado o chiclete e os conselhos de Jessie. E eu fiquei cheio de orgulho dela e de todo o progresso que tivera desde que a conheci.

A "Jessie Aconselhadora" veio à tona mais uma vez ao conversar com sua irmã mais nova. Apesar de já terem se passado algumas semanas desde a devastadora notícia da recusa de Juilliard, Jenna continuava fixa na ideia de não ir à sua própria formatura.

- Jen, você precisa ir - Jessie insistiu. - Vai acabar se arrependendo se não for.

- Para quê? Só para ver a cara de decepção e de pena dos meus professores? Ou para ter que aguentar a cara de desdém da Maddison, que agora se acha superior a todo mundo, só porque foi aceita em Juilliard?

Sob O Pôr Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora