Capítulo 30

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CAPÍTULO 30

Precisei voltar brevemente a Nova York para finalizar os trâmites de minha recisão, buscar o restante de nossas coisas e devolver nosso antigo apartamento, já que havia sido decidido que não voltaríamos mais a morar lá.

Tive um pequeno momento catártico no aeroporto JFK, que havia sido minha base de trabalho por tanto tempo. Olhei em volta, relembrando os tantos momentos que vivi ali... Eu sabia que iria sentir falta de tudo aquilo, mas também sabia que estava fazendo a coisa certa ao priorizar minha família.

Depois de inúmeras entrevistas de emprego e muitas expectativas criadas, finalmente consegui um trabalho em uma pequena escola de aviação civil com base de operações no aeroporto de Daytona Beach. O salário era muito inferior se comparado ao que eu recebia como comandante da United Airlines, mas o serviço era extremamente gratificante.

Voltei a ter a chance de pilotar aviões de pequeno porte, como o Cessna 172 no qual havia feito tantas e tantas horas de voo durante meus anos como aluno. A parte boa desses aviões menores é que o piloto realmente executa todas as ações. Quando se voa enormes aviões a jato, você basicamente está no controle de um computador, onde seu trabalho é inserir os comandos e monitorar os instrumentos. Já nos aviões de instrução seguimos as regras de voo visual, o que significa que você precisa estar atento a tudo ao seu redor, além de estar inteiramente no controle daquela aeronave. A sensação era realmente revigorante.

Ademais, eu também tinha a oportunidade única de ver de perto o brilho nos olhos daqueles jovens aspirantes a pilotos, podia ensinar-lhes os princípios, desde os mais básicos, e acompanhar seu progresso, além de receber sua admiração. No entanto, sem sombra de dúvidas, a melhor parte do meu novo emprego era que eu podia estar em casa todos os dias, com minha esposa e meus filhos. Não apenas assistir essas criaturinhas crescerem, mas de fato participar da criação delas e estar sempre presente. Isso fazia toda a diferença.

Em nossa busca incansável pela casa perfeita, ficou claro que não conseguiríamos algo exatamente como almejávamos. Por isso, concordamos que o ideal seria construir. Sendo assim, optamos por alugar uma casa mais simples, até que tivéssemos condições de construir uma da forma que gostaríamos.

Encontramos uma boa casa de três quartos, com uma bela piscina - exigência de Jessie, é claro -, garagem ampla e um quintal de dar inveja, tudo por basicamente metade do valor do aluguel que costumávamos pagar por nosso diminuto apartamento em Manhattan. Ah! As vantagens de se viver na Flórida...

Agora teríamos quartos o suficiente para a nossa família de cinco. As meninas ainda dormiam em seus bassinets no nosso quarto, para facilitar as longas noites acordando a cada duas ou três horas. Mas Matthew agora já dormia sozinho em seu próprio quarto. Montamos uma cama Montessoriana e decoramos todo o quarto nesse mesmo estilo, para que tudo que ele precisasse estivesse ao seu alcance. Ele adorou seu novo cantinho.

Apesar de Aurora e Amy ainda dormirem conosco, também montamos um quarto para elas, para que eventualmente pudéssemos deixá-las lá durante toda a noite. No entanto, a principal função desse quarto naquele momento era para amamentação. Jessie gostava de amamentar as meninas ao mesmo tempo, para que não tivesse de fazer tudo uma segunda vez.

Provavelmente nem é preciso dizer, mas a parte mais difícil de ter gêmeas é que, bem, há duas delas. Duas barrigas para alimentar. Duas mamadeiras para limpar. Duas fraldas para trocar. Duas chupetas para encontrar. Duas cadeirinhas para transportar. Dois narizes ranhosos. Dois arrotos para aliviar. Duas roupas para trocar. Dois banhos para tomar. Dois choros para socorrer, também. Dois balanços. Dois dock a tots. Dois berços. Dois porta-bebês. Duas cadeiras altas...

Aprendi rapidamente que sobreviver a esse estágio inicial é uma questão de perspectiva. Devemos pensar que, felizmente, com o "ruim" vem também o bom: dois sorrisos. Duas risadinhas gostosas. Dois pares de mãozinhas agarrando as pontas dos nossos dedos. Dois cheiros doces de bebê. Dois conjuntos de "primeiras vezes" para comemorar. Dois bebês para se aconchegar. Dois rostinhos bêbados de leite. Duas roupinhas fofas para combinar. Dois bebês dormindo profundamente (raramente). Dois coraçõezinhos batendo...

Sob O Pôr Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora