Capítulo 20

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CAPÍTULO 20

Existe uma teoria, amplamente aplicada na investigação de causas de acidentes aeronáuticos, chamada de "modelo do queijo suíço". Esta teoria dita que nenhum desastre ocorre por apenas um motivo isolado, mas sim uma cadeia de falhas sistemáticas sequenciais que, quando combinadas, levam à catástrofe.

O modelo do queijo suíço pode ser aplicado a inúmeras áreas. E, naquele dia 18 de agosto, aplicou-se a minha própria vida pessoal.

Recapitulando as minhas ações daquele dia, tudo parecia casual. Apenas pequenas coisas que acontecem. Mas acabaram culminando em um pequeno desastre:

Voei para Paris sem me dar conta de que não levava o carregador do meu celular comigo; esse foi meu primeiro erro, o primeiro buraco no queijo suíço. Depois, esqueci o celular no hotel quando saí para ver minha irmã (erro número dois). Passamos um dia delicioso juntos, no qual eu mal teria tempo de pensar em checar meu telefone, mesmo se estivesse com ele. Cheguei ao hotel cansado demais e dormi sem me preocupar em saber se tinha alguma notícia vinda de casa. Enquanto isso, do outro lado do oceano, minha esposa enfrentava um dos maiores desafios de sua vida, sem a minha presença para confortá-la. Sem nem mesmo a minha ciência.

A milhares de quilômetros de onde eu estava curtindo meu dia de folga, minha mulher dava à luz o nosso primeiro filho, de forma prematura, num parto extremamente arriscado, tanto para ela quanto para o bebê. E eu, lá em Paris, nem fazia ideia.

E como poderia? Pelos cálculos médicos, a gestação ainda estava longe de ser concluída. Com cerca de 32 semanas de gravidez, eu jamais imaginaria que ela estivesse prestes a parir. Mas aconteceu. Naquele remoto dia de verão, em meados do mês de agosto, nosso pequeno Matthew veio ao mundo, de forma inesperada, porém valente. Ele, que só deveria nascer no fim do mês de setembro ou início de novembro, decidiu vir mais cedo, sem qualquer aviso prévio. E eu só fui saber muitas horas depois.

Pela manhã, acordei me sentindo indisposto. Em meu relógio biológico ainda era hora de dormir, mas Paris está em um fuso horário diferente, seis horas à frente de Nova York, então eu precisava me adaptar. Levantei-me, a contragosto, e fui tomar café da manhã.

Foi só quando me encontrei com o restante da equipe que pude pedir a Nancy, uma das comissárias, que me emprestasse seu carregador para que eu pudesse usar no meu celular. Somente no meio da tarde, quando meu telefone estava devidamente carregado, foi que eu vi as mais de 20 chamadas perdidas no dia anterior. Muitas eram de Jessie, outras de Jolene, Jenna e até Juliet. Fiquei preocupado. O que poderia ter acontecido?

Liguei para Jessie imediatamente, mas a voz que me atendeu foi a de sua mãe.

- Alô?

- Jolene? Eu estava tentando ligar para Jessie.

Jolene despejou uma profusão de informações em mim, muito mais rápido do que eu poderia processá-las:

- Ela está em repouso. Finalmente dormiu. Foi uma noite muito longa... Seu filho nasceu. Não foi um parto tranquilo. Ainda estamos no hospital. Mas Jessica e o bebê estão bem.

Depois dessas palavras, eu não consegui prestar atenção em mais nada do que ela disse.

As horas que sucederam aquele momento pareciam passar em câmera lenta. Era como se eu estivesse em uma velocidade acelerada, mas todo o resto do mundo estivesse duas vezes mais devagar.

Na volta para Nova York, eu só conseguia perceber as famílias com seus bebês. No aeroporto, no avião, nas ruas... bebês por toda parte. Centenas de bebês. E eu só queria ver o meu.

Sob O Pôr Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora