Capítulo 32

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CAPÍTULO 32

A princípio, eu teria que ir sozinho e ficar em um hotel, para que pudesse começar a trabalhar de imediato. Enquanto isso, continuaria buscando uma casa para alugar. Precisávamos de algo que fosse próximo ao aeroporto e que fosse grande o bastante para abrigar confortavelmente nossa família.

Uma das exigências de Jessie ao concordar com a mudança era que nossa qualidade de vida não diminuísse. Já que estaríamos muito distantes do litoral, ela não queria abrir mão de ter uma piscina. A casa precisava ter, no mínimo, três quartos sendo que pelo menos um deles deveria ser uma suíte... a lista de exigências continuava, e é claro que eu concordei imediatamente com todas, porque queria garantir que ela estivesse contente.

A principal exigência imposta por Jessie, no entanto, foi um tanto quanto curiosa:

- Chega de gestações! Três filhos são o suficiente. Eu não aguento mais engravidar - ela desabafou, erguendo a camiseta para exibir as marcas em sua pele. - Eu estou cheia de estrias e celulites. Virei a própria definição do efeito sanfona. Minha barriga está horrorosa, toda enrugada e ainda por cima com essa cicatriz horrível.

- Sua barriguinha ainda está linda - tentei amenizar, dando-lhe um beijo na flácida pele de sua barriga, o que a fez abaixar de volta a camiseta, instintivamente.

- Estou falando sério - reforçou. - Não quero mais engravidar. Nunca mais.

- Combinado - concordei, sem protestar.

Dentre os muitos receios de Jessie com relação à mudança, o principal era que ela não teria tanto apoio quanto costumava ter antes. Enquanto estávamos na Flórida, podíamos contar com o maravilhoso auxílio de nossas mães, que se faziam presentes quase que diariamente em nosso lar, para nos ajudar com as crianças. Na Geórgia, isso certamente não aconteceria. Além disso, eu estava prestes a iniciar um trabalho que exigiria muito mais horas, o que também diminuiria drasticamente minha participação na divisão das tarefas. Para muitos, pode não parecer um grande problema, mas, quando se tem três bebês, cada hora sem um dos pais presente faz uma diferença enorme.

O maior desafio de se ter três filhos pequenos é que estamos oficialmente sobrepujados em número. São três deles e apenas dois pais. Subtraia deste número todas as horas que eu passaria ausente, a trabalho, e o resultado é uma mãe aterrorizada e sobrecarregada. É claro que eu não queria que Jessie se sentisse assim, então sugeri que contratássemos uma babá, o que ela recusou com veemência.

- Eu quero criar meus próprios filhos - retrucou.

- Certo. E que tal uma empregada doméstica? Alguém para fazer as tarefas da casa enquanto nós nos dedicamos à criação das crianças?

- Com isso eu posso concordar - cedeu.

E assim, quando encontramos uma casa que se enquadrava nas exigências mínimas e conseguimos contratar uma diarista para nos ajudar com os serviços domésticos, Jessie e as crianças finalmente se juntaram a mim em Atlanta, nosso novo lar.

Viver em Atlanta era um pouco diferente do que estávamos acostumados. A cidade em si é muito maior do que Daytona Beach, mas não tão grande quanto Nova York. Era algo intermediário, entre os dois mundos que já havíamos experimentado.

Uma das coisas que mais incomodou Jessie nessa nova adaptação foi o fato de que essa era a primeira vez em sua vida que ela vivia em uma cidade não-litorânea. Como uma grande apaixonada pelo mar e suas maravilhas, Jessie sentiu-se estranhamente desconfortável estando tão longe de qualquer praia.

- É uma sensação estranha, como se estivéssemos presos aqui, sem ter para onde fugir - ela tentava explicar. - Para onde quer que você olhe, não tem fim. Não tem uma orla, uma margem, um escape... entende?

Sob O Pôr Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora