CAPÍTULO 15
Como se curar de algo tão cruel? Como se recuperar da perda de uma filha que aguardamos tão ansiosamente, porém nunca chegou? Como seguir com nossas vidas quando a vida de nossa bebezinha foi interrompida antes mesmo que ela tivesse a chance de nascer? Nunca imaginei que de todas as perdas sofridas a mais dolorosa seria a de alguém que eu nem cheguei a conhecer. A vida que ajudei a gerar havia sido subitamente descontinuada, e aquilo doía mais do que qualquer palavra poderia descrever.
Em nosso lar ainda havia dolorosas lembranças por toda parte. O quarto permanecia vazio, sem cor, sem mobília e agora sem propósito. As decorações para o chá revelação foram rapidamente retiradas por Jolene enquanto estávamos no hospital, mas na geladeira ainda havia docinhos e drinks destinados a festa que jamais aconteceria.
Nossos familiares e amigos enviavam mensagens de condolências e se colocavam à disposição para ajudar com o que fosse necessário. Mas como poderiam? Não existia ajuda no mundo que pudesse diminuir a dor excruciante pela qual estávamos passando.
Por fim, encontramos refúgio apenas um no outro.
Quando Jolene retornou para a Flórida, Jessie e eu fomos novamente deixados a sós para lidar com nossa terrível perda, e nos agarramos ao amor que tínhamos um pelo outro para tentar encontrar forças para seguir a vida. Chegamos a passar três dias inteiros sem sair de casa, apenas buscando conforto na companhia um do outro. Sem ver mais ninguém, falar com ninguém ou fazer qualquer outra coisa.
Fisicamente, Jessie estava se recuperando de um parto, o que significava que estava usando absorventes maxi. Imagino que ter de trocar os absorventes encharcados de sangue todos os dias era um lembrete constante da perda de nossa filha. Além disso, ela teve que usar sutiãs esportivos apertados por quase um mês para impedir que seu suprimento de leite descesse. Para completar, sua barriga estava ficando cada vez mais lisa em vez de mais redonda. Isso mexeu tanto com ela que passou a comer constantemente só para engordar, na tentativa de pelo menos ainda parecer grávida.
Voltar a trabalhar foi excepcionalmente desafiador para mim. Nem mesmo o trabalho que eu amava me trazia qualquer sentimento de felicidade. Era como se tudo o que eu fizesse fosse no piloto automático. Minhas interações com os outros eram propositalmente superficiais, quase mecânicas. Eu não queria falar sobre o assunto com nenhuma outra pessoa a não ser minha esposa.
Jessie informou à sua família que não viajaríamos com eles para o tradicional natal dos McGregors em Inverness naquele ano. Em vez disso, passariamos o período das festas juntos, isolados do restante do mundo, para que não tivéssemos de amargurar mais ninguém com nossa terrível melancolia.
Jolene nos surpreendeu ao enviar uma mensagem dizendo que ninguém da família viajaria para a Escócia naquele natal. Depois começou a ligar para Jessie, copiosamente, mesmo sabendo que ela não queria atender. Por fim, visto que sua filha se recusava a retornar suas incessantes chamadas, Jolene ligou para mim. Assim que a atendi, ela pediu para falar com Jessie.
- É a sua mãe - falei, entregando o celular para ela.
- Por que você atendeu? - ela resmungou, num tom repreensivo. - Eu já disse que não quero falar com ela, nem com ninguém.
- Eu sei - suspirei. - Mas achei que talvez fosse melhor atender, para pôr fim ao assunto de uma vez por todas.
Jessie pegou o telefone, contrariada, e falou, bufando:
- O que foi? - seguiu-se um longo período de silêncio enquanto ela ouvia sua mãe falar do outro lado da linha. De repente, seus olhos se encheram de lágrimas. - O quê? Como assim?
Foi a única parte da conversa que consegui escutar. Depois disso, Jessie foi para outro cômodo e eu não a segui, imaginando que não seria nada demais.
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Sob O Pôr Do Sol
RomanceO terceiro livro da série. A conclusão da história de Sammy e Jessie.