Capítulo 8

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CAPÍTULO 8

Como sempre, eu não queria ir embora. Queria poder prolongar o momento, queria esticar as horas para que aquele dia não terminasse, queria parar o tempo para poder permanecer ali com Jessie. Mas ela me disse algo que me fez querer ir embora instantaneamente.

- Está pronto para o seu presente?

- Tem mais? Você já fez tudo isso para mim hoje. Eu não estava esperando mais nenhum presente.

- Eu sou cheia de surpresas, lembra?

- Eu acho que estou começando a gostar cada vez mais de surpresas.

- Bom, mas essa surpresa você só vai encontrar quando chegar em casa.

- O quê? - olhei em volta, sorrateiramente, para me certificar de que ninguém estava ouvindo nossa conversa. Então sussurrei: - Você vai comigo para o meu apartamento agora?

- Não. Você vai ter que ir sozinho. Sinto muito.

- Não é justo - reclamei.

- Eu acho que você vai gostar dessa surpresa.

- Pode ao menos me dar uma dica?

- Siga as instruções.

- Você sabe atiçar minha curiosidade.

- Eu te conheço, Sammy.

- Tudo bem, então. Nesse caso, eu vou embora.

Me despedi do restante de sua família que, aparentemente, iria dormir lá. Depois Jessie foi comigo até a saída do luxuoso edifício e se despediu de mim.

Quando cheguei ao meu apartamento, abri a porta e, a princípio, não percebi nada de diferente. Porém, quando fechei a porta, vi que havia um bilhete colado do lado de dentro. Era a letra de Jessie, sem dúvida.

"Olhe sua geladeira" - era a única coisa que dizia.

Fui até a cozinha e encarei a geladeira por mais de 30 segundos antes de pensar que deveria abri-la. Dentro, havia uma caixinha com donuts da nossa confeitaria favorita em Nova York. Então esse era o meu presente? Ela se lembrou dos sabores que eu gosto. Que gracinha!

Mas logo notei que no topo da caixa havia outro bilhete:

"Não se esqueça de escovar os dentes"

Achei a mensagem um pouco esquisita, até virar o papel e ler do outro lado:

"Agora!"

Obedeci de imediato. Porém, ao entrar no banheiro, percebi que minha escova de dentes não estava lá. Nem mesmo a que tinha comprado para Jessie meses antes. Estranho. No copo onde nossas escovas costumavam ficar, havia apenas um bilhete:

"Vá para o quarto"

Autoritária, pensei. Mas segui a ordem.

A porta do quarto estava fechada e tinha um bilhete colado nela.

"Olhe embaixo da cama"

Me arrastei para debaixo da minha própria cama, onde encontrei uma caixa de sapatos. Meu presente seria um novo par de tênis? Não. Dentro da caixa, estava o meu iPod. Esse não podia contar como meu presente, ele já era meu há muito tempo. Mas havia um post-it colado na tela:

"Me ponha no meu lugar"

Levei um tempinho pra entender essa. Mas, por fim, levei até a caixa de som onde o iPod geralmente ficava conectado. Nela, outro bilhete:

"Toque a faixa de número 29"

Depois de plugar o aparelho na caixa de som, avancei pelas músicas até encontrar a faixa certa. Uma música começou a tocar, bem alto. Era a canção "Marry me" de Jason Derulo.

Como se o som alto já não fosse susto o suficiente, minha campainha começou a tocar, incessantemente, quase fazendo meu coração pular pela boca.

Olhei pelo olho mágico e vi Jessie. Usava capuz por cima de um boné e óculos escuros, no meio da noite, mas com certeza era Jessie. Abri a porta e pensei que ela fosse dizer alguma coisa, mas apenas começou a dançar e cantar, acompanhando a música e me causando risos involuntários.

- O que está acontecendo? - eu dizia, repetidas vezes. Mas ela apenas me ignorava e continuava seu número musical hilariante.

Enquanto a música não parou de tocar, ela também não parou de dançar, e eu não parei de rir.

A canção enfim terminou, assim como seu ato. Ela tirou os óculos, o boné e o capuz, enfiou as mãos no bolso da sua blusa de moletom e olhou para mim, sorrindo.

- Você provavelmente deve estar se perguntando o que foi que eu fiz com sua escova de dentes - falou, ofegante.

Eu ri ainda mais alto.

- Claro, essa é a única pergunta passando pela minha cabeça agora - respondi, entrando na brincadeira.

- Não diga mais nada - ela tirou a mão do bolso, segurando uma caixinha retangular. - Aqui está.

Jessie me entregou a caixinha e eu abri. Dentro estavam duas escovas de dentes novinhas. Eram idênticas, com exceção da cor. Uma era azul e a outra rosa. Uma bonita inscrição em letra cursiva no cabo de cada uma dizia, respectivamente: "Mr. Hart" e "Mrs. Hart".

- Senhor e senhora Hart? - li em voz alta. - Ei, espera aí, essa não é minha escova de dente.

Achei a risada dela muito curta, a julgar pela qualidade da piada. Mas, o que ela disse em seguida fez eu me esquecer de tudo. Com os braços sobre meus ombros, ela juntou os dedos atrás da minha cabeça, me olhou nos olhos e disse:

- Sammy, você quer se casar comigo?

- Você nem precisava perguntar - falei, puxando-a para perto e dando-lhe um beijo apaixonado.

Ouvi aplausos e, só então, percebi que sua família nos observava da porta. Jenna filmava tudo com o celular.

- Uau, você trouxe a cavalaria - brinquei.

- Fazer o quê? Todos queriam ver meu show - Jessie fez novamente um dos passos mais engraçados de sua dança maluca. Me fazendo rir mais uma vez.

- Outras pessoas teriam escolhido uma música lenta e dançado romanticamente em casal. Mas você sabe como fazer um show de verdade.

- Você me conhece, eu tinha que te seduzir com meu gingado.

Todos começaram a rir e me dei conta de que ainda estavam ali.

- Por favor, entrem convidei.

Mas Jessie respondeu por eles:

- Não, nós sabemos que você deve estar exausto. Eu te tirei direto do trabalho. Você precisa descansar. Mas nos vemos amanhã às 10h, no Lafayette, para um brunch. Não pode dizer "não". E não se atrase. É nossa festa de noivado.

- Sim, senhora. Estarei lá. Mas, espere um pouco. Não posso deixar você comparecer ao nosso brunch de noivado sem uma coisa.

Eu corri para dentro do quarto e revirei minha gaveta para encontrar o anel de noivado que já havia oferecido a ela uma vez antes. Voltei para a sala, parei de frente para Jessie e coloquei um joelho no chão.

- Não se atreva a me pedir depois de eu ter feito o meu pedido - ela alertou. - Deu muito trabalho. E você já disse sim.

- Certo.

Coloquei o anel em seu dedo, sem fazer um novo pedido, mas ainda com meu coração disparado. Me levantei para beijá-la mais uma vez. Ela falou, sem tirar os lábios dos meus:

- Eu te amo, meu noivo.

- Eu te amo, minha noiva.

Ainda parecia surreal poder dizer aquilo em voz alta.

Mesmo depois de terem ido embora, eu não conseguia parar de sorrir. Estava noivo da mulher que eu amava. E ainda não podia acreditar em tudo que acabara de acontecer. Eu estava nas nuvens.

Sob O Pôr Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora