CAPÍTULO NOVE

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__ Vic?! __ o sorriso se espalha pelo rosto, do qual desejou que fosse de um estranho.

Ele lhe dá um beijo no rosto.
A rapidez do gesto lhe pega de surpresa, não houve tempo de impedi-lo; e teve o febril impulso de limpar-se.
O sujeito ficou ainda mais bonito do que foi na adolescência.
'Nao dizem que o diabo era o mais formoso dos anjos?'
Toda essa simpatia não muda o que fez no passado.
Victoria permanece muda; os sentidos tomam nota da fisionomia; do perfume e os modos do homem que fez sangrar seu coração.
Ele, por outro lado, parece alheio ao seu choque.
' ... '
Sua mente cricrila. Não há nada, nem um só pensamento. Há de considerar que são mais produtivos que suas ações, e, no momento, emudecem.
'Isso, sim, é grave!'
Seus olhos viam-no, achando que fosse produção ilusória, uma fantasia; os ouvidos foram pegos no meio de um zumbido, parecem agitados pelo turbilhão; mãos, braços e pernas formigam, como se insetos estivessem lhe atormentando, e não se movem, nem por decreto. Achou que estivesse tendo um treco.
Realmente achou!
Sem qualquer introdução de reconhecimento, o cara insiste:

__ Ei! Mark? Da escola? Pô, qualé? __

Os pêlos do braços lhe arrepiam com as gírias que ainda usa.

__ Não quero ouvir que não se lembra de mim. __ ele continua dizendo. __ Isso quebraria o meu coração e acabaria com minha autoestima.

Ela, sem saber o que dizer, permanece piscando em sua direção, sabendo que esse é "famoso filho da puta".
'Quebrar seu coração?! Ele realmente disse isso?? Que engraçado...'

__ Desculpe...

__ Eu sei que agora estou velho e não tão bem, como antes... É que estou trabalhando demais ultimamente...

Ele fala e fala, jogando sorrisos.

__ Já você... Veja! Está ainda mais linda. __ ele introduz. __ Você era a mais bonita do colégio. Atualmente, se superou. Posso dizer que é a mulher mais linda que conheço.

Ela sequer sorri ou agradece pelo elogio.
Se fosse um desconhecido, estaria encrencada. Cairia, feito uma pata, nesse charme e conversa fiada.
'Só que não! Dessa vez, não!'

__ Peço perdão, mas deve haver um engano. Eu não sou da cidade. __ procura pela bolsa para pegar a carteira.

Sim! Ela faz a maluca. Porque, nem em um milhão de anos, achou que fosse encontrá-lo, justamente, aqui. Aqui! A-QUI!
'Que tremenda falta de sorte! Depois de eras, o cara lhe cai na cabeça como cocô de pássaro'
Achou melhor pagar a conta e fingir que "esqueceu seu gato no lava louças".

__ Por favor, Vic? __ ele puxa uma cadeira e se senta. __ Também quero me desculpar do que fiz...

Isso a incomoda. Ela não vai trocar idéias e nem jogar conversa fora com ele.
'Nem que a vaca voe cantando ópera!'

__ Olha, peço desculpas, de verdade, mas estou atrasada para o trabalho. __ diz ajeitando a bolsa. __ Mas podemos nos falar mais tarde...

Certo! São falsas esperanças. Por mais que tenha crescido e progredindo, sua elevação não chegou a esse patamar ainda. Ela quer é vê-lo pelas costas, indo a qualquer lugar longe dela.
'Tipo: o Himalaia. Já é um começo'.

__ Então me passa o seu número?

Pede ele, levantando-se também.

'Qual foi a parte que ele não entendeu?'

__ Oh... É que não sei de co cór. O número é novo...

'Mentira! Está com o mesmo número há sete anos'.

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